A VOLTA DE KING KONG

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O FILME ORIGINAL (1933) NO TOPO DO EMPIRE STATE BUILDING

           King Kong de 1933 é uma das maiores obras-primas do cinema e isso é inegável. Refilmado mais de uma vez, o gorila é reinventado para a nova geração como parte de um “Monsterverse” planejado pela Legendary Pictures em conjunto com a Warner. Hora de revermos a evolução desse personagem que há 84 anos fascina o público. A ideia dessa releitura de “A Bela & A Fera” partiu do diretor Merian C.Cooper que imaginou um gorila gigante no topo do Empire State Building, então o prédio mais alto do mundo. Para criar a história que conduzisse a esse momento peculiar, pediu ao escritor norte-americano Edgar Wallace (1875 – 1932), escritor de livros de mistério,  que criou o argumento. Este fez as linhas gerais, mas vindo a falecer aos 57 anos não concluiu o trabalho que passou para as mãos de James Creelman. Na época, a sociedade americana vivia a lenta recuperação do new deal de Roosevelt e o público se conectou com um inusitado romance entre Ann Darrow, uma jovem atriz aspirante e um gigantesco gorila, que na verdade era um boneco de 45,72 cm feito com esqueleto de metal revestido com borracha, espuma e pele de coelho, animado quadro a quadro pelo técnico Willis O’Brien. Cooper e  Ernest B.Shoedsack dirigiram juntos o filme para o qual pensaram em Jean Harlow para o papel de Ann Darrow, que acabou ficando com a atriz canadense Fay Wray, então com 26 anos. Wray na verdade era morena e usou uma peruca que ajudou a criar o visual de sua personagem, uma mistura de vulnerabilidade e sensualidade. Com um custo em torno de $670,000, a produção rendeu nove vezes mais na época de seu lançamento original, um fato surpreendente para um momento em que os Estados Unidos se recuperavam de uma recente depressão econômica. Seu sucesso salvou a RKO da falência, um milagre gerado por um filme B.

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VOCÊ SERIA TIME KONG OU TIME GODZILLA?  EMBATE PRESTES A GANHAR REFILMAGEM TAMBÉM.

             Os produtores se apressaram em criar a sequência “O Filho de Kong” (The Son of Kong) no mesmo ano. Do elenco original somente quatro atores retornaram, incluindo Robert Armstrong que reprisou o papel de Carl Dehnam, convencido a voltar à Ilha da Caveira onde encontra o filho do gorila, igualmente gigante,mas de temperamento mais dócil. Sem Ann Darrow ou Jack Driscoll, o casal humano central, pouco ficou de interessante na história a ser contada e rodada às pressas para ser lançada seis meses depois do Kong original. Desta Willis O’Brien se envolveu menos no projeto, pois de acordo com o site imdb, havia mais interferência dos produtores no processo de “stop-motion”, e além disso, uma tragédia pessoal se abateu sobre O’Brien quando sua esposa atirou nos filhos do casal e tentou se suicidar em seguida. Nos anos seguintes o filme original veio a ser relançado outras vezes nas telas, com acréscimos de algumas cenas inicialmente apagadas da versão exibida em 1933. Os japoneses descobriram Kong e vieram a ser os primeiros a fazer um filme colorido com o símio em “King Kong vs Godzilla” (Kingu Kongu tai Gojira) de 1962, que teve os efeitos especiais realizados por Eiji Tsuburaya ( o criador do herói  Ultraman). Este usou stop-motion somente em duas cenas, vestindo atores como Kong e Godzilla lutando sobre um cenário de maquetes. Em 1967, a empresa Toho produz “ A Fuga de Kong” (Kingu Kongu no gyakushu) onde Kong enfrenta sua cópia robótica gigante chamada Mechakong. Após esse filme, a Toho perdeu os direitos adquiridos sobre Kong mas o impacto do personagem perdurou através das sucessivas reprises televisivas. Cópias e homenagens também não faltaram, sendo digno de nota a animação “A Festa do Monstro Maluco” (Mad Monster Party) de 1967, dirigida por Jules Bass, que reproduz a luta do gorila gigante contra aviões.

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O FILME DE 1976 É INFERIOR, MAS JESSICA LANGE, HMMMM !

          Em 1976, o produtor Dino de Laurentis e o diretor John Guilhermin resolveram se aventurar a refilmar a história de Kong com várias modificações em relação ao original: Não há menção à Ilha da Caveira, a expedição à ilha busca reservas desconhecidas de petróleo, não há Carl Dehnam nem Ann Darrow, substituídos pelos personagens Fred Wilson e Dwan, esta vivida pela então estreante Jessica Lange, aos 27 anos. O Gorila deixa de ser uma miniatura em stop-motion, empregando um gorila mecânico de mais de 12 metros (que chegou a ser enviado ao Brasil para promover o filme) construído por Carlo Rambaldi, além de gigantescos braços hidráulicos e até mesmo um ator vestido de gorila (Rick Baker), não creditado. A cena final troca o Empire State pelo World Trade Center (aquele mesmo destruído em 11 de setembro de 2001). O filme foi indicado para três Oscars técnicos e chegou a ganhar o de melhor efeitos especiais. 11 anos depois, DeLaurentis realizou uma infeliz sequência entitulada “King Kong Lives”, dirigida também por John Guilhermin. Parecia que ninguém se interessaria mais pela história quando em 2005, depois do sucesso em dirigir a trilogia “O Senhor dos Aneis” (The Lord of the Rings) deu ao diretor Peter Jackson carta branca para recontar o filme original, usando todo o requinte dos efeitos digitais. Naomi Watts fez a nova versão de Ann Darrow, com Jack Black e Adam Brody respectivamente nos papeis de Carl Dehnam e Jack Driscoll. Desta vez a tecnologia de captura digital de movimentos (empregada em “O Senhor dos Aneis” e na nova versão de “O Planeta dos Macacos”) dá vida a Kong a partir do ator Andy Serkis.

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A RESPEITOSA REFILMAGEM DE PETER JACKSON

             Apesar de toda a tecnologia e de seu mérito em apresentar Kong a uma nova geração, o impacto do filme de 1933 é indelével, graças ao pioneirismo de seus realizadores que conseguiram humanizar uma miniatura sem se render aos clichês do maniqueísmo. Ora monstro assustador, ora herói apaixonado, Kong transita no imaginário cinéfilo como a mais humana das feras, um ícone que renasce a cada geração.