O ESPETACULAR HOMEM ARANHA 2 : A AMEAÇA DE ELEKTRO

Homem Aranha x Elektro : Como em um video game

Homem Aranha x Elektro : Como em um video game

Assim como foi no filme anterior, “O Espetacular Homem Aranha 2” sofre da inevitável comparação com a trilogia do Homem Aranha dirigida por Sam Raimi e centrada no trio Tobey Maguire-Kirsten Dunst-James Franco. Bom, tentemos analisar isento de comparações. Marc Webb, sabemos, teve a ingrata missão de reiniciar uma franquia não apenas recente na memória afetiva do público como também muito bem sucedida financeiramente e artisticamente.

Webb teve seus acertos nesse segundo filme e entrega um filme empolgante em ritmo mas com suas fragilidades no roteiro. A sequência de luta entre o herói (Andrew Garfield) e o vilão Electro (Jamie Foxx) em plena Times Square é na medida certa para os apreciadores das HQs, e com aquela sensação de game de grande proporção. Contudo, mais de um antagonista dilui o foco da narrativa e o passado misterioso dos pais de Peter Parker acaba não sendo tão convincente quanto se propõe desde o primeiro filme de Webb. Ainda assim, esse segundo filme se beneficia de bons momentos dramáticos, nem tanto pelos altos e baixos entre Peter e Gwen Stacy (a ótima Emma Stone), mas pela dinâmica das relações entre os personagens. Peter Parker é um herói passional que procura cumprir sua sina de que seus poderes trazem grandes responsabilidades e essa essência talvez seja o segredo da longevidade do personagem nas histórias em quadrinhos desde sua primeira aparição em Agosto de 1962, saído da mente de Stan Lee e dos desenhos do ótimo Steve Ditko.

O vilão Elektro

O vilão Elektro

Fortes indícios apontam para um desfecho trágico para esse segundo filme SE as imagens previamente divulgadas se provarem verdadeiras. Nos quadrinhos, em Junho de 1973, nas páginas de “Amazing Spider Man” #121, Gwen Stacy é morta pelo Duende Verde, um divisor de águas na cronologia do herói e na evolução do próprio meio já que esta rompe com a expectativa de que o herói sempre vence no final e sempre salva a moçinha do perigo. Eu, assim como todos os leitores do Homem Aranha na época, perdíamos nossa inocência e trazíamos a possibilidade da morte súbita para o mundo da fantasia ao qual Peter e Gwen pertencem. SE ESSE VIER a se tornar o gancho para o terceiro filme, os roteiristas Alex Kurtzman & Roberto Orci (os mesmos do reinicio de “Star Trek”), em parceria com Jeff Pinkner,  adaptam um dos momentos mais dramáticos em mais de cinquenta anos escalando parades e se pendurando em teias. Contudo, o ameaçador e alucinado Duende Verde surge aqui vivido por Dane DeHaaan com um visual diferente, tanto dos quadrinhos quanto de William Dafoe no filme de Raimi, com uma maquiagem que demorava 3 horas e meia para ser aplicada além de uma hora a mais para vestir a roupa que pesava cerca de 22 kilos. Seu Harry Osbourne é acometido de uma terrível doença que justificará o experimento que o tornará no insano vilão que se mostra ameaça maior que o Elektro de Jamie Foxx. Espera-se para a (s) sequência (s) vindoura (s) a entrada de Mary Jane, que aconteceria nesse filme interpretada por Shailene Woodley (de “Divergente”) mas o papel acabou sendo cortado na edição final e ao que tudo indica voltaria com outra atriz.

A dramática morte de Gwen Stacy

A dramática morte de Gwen Stacy

Para os fãs de HQs há vários momentos para deleite além da já esperada aparição de Stan Lee, presente na formatura de Peter & Gwen.  Na Oscorp são rapidamente mostradas asas de metal e tentáculos que apontam para os vilões Abutre e Dr.Octopus, a inclusão do vilão Rhino, interpretado pelo ótimo Paul Giamatti, desagradou alguns fãs pelo visual distante do clássico, mas em todos esses filmes da Marvel já se tornou uma solução, ao menos prática, aproveitar algumas coisas do visual clássico mesclado ao universo Ultimate (reintepretação alternativa dos heróis e vilões Marvel). Nos créditos finais há um rápido teaser de “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido” que foi inserido porque o diretor Marc Webb atrasou um filme da FOX preterindo-o para fazer esse segundo Homem Aranha para a Sony. O acordo foi feito com a inclusão do teaser e um novo contrato para dois filmes para a Fox. Sally Field é sempre uma presença digna no cinema e sua Tia May é carinhosa, maternal, mas também a personagem que traz uma verdade escondida relacionada ao passado dos pais de Peter Parker, que nos quadrinhos sempre foi algo em segundo plano e nada relacionado à origem ou à natureza dos poderes do simpático cabeça de teia, como o herói é chamado nos quadrinhos pelo editor do Clarim Diário, J. Jonah Jameson, ausência sentida nesse reboot, segundo consta porque a força em cena de J.K.Simmons não poderia ser equiparada.

Peter Parker & Harry Osborne : Inimigo Meu

Peter Parker & Harry Osborne : Inimigo Meu

De qualquer forma, morrendo ou não a doce Gwen, o filme deve agradar muito ao público em geral e divertir os fãs do escalador de paredes que, não adianta, sempre vão se dividir entre os que preferem Tobey Maguire e os que preferem Andrew Garfield. O apelo do personagem é inegável e daí o prazer de ser criança novamente e dizer “Peter, salve a Gwen !!”.

 

O HOMEM ARANHA : DOS QUADRINHOS PARA O CINEMA

A Primeira aparição nos quadrinhos

A Primeira aparição nos quadrinhos

Alguém duvida que o mundo é dos nerds? Se duvida, veja – por exemplo – o sucesso do seriado “The Big Bang Theory” e terá uma amostra de como a cultura pop invadiu a mídia seja através da adaptação de jogos (Battleship, Tomb Raider), brinquedos (Transformers, G.I.Joe) ou quadrinhos. Um dos personagens mais populares desse meio é a figura de um jovem aspirante a cientista, que por obra do destino, ganha poderes incríveis e força sobre humana, proporcionais ao seu enorme senso de responsabilidade. Seus atos, contudo, despertam desconfiança e intolerância, inflamadas pelo sensacionalismo da imprensa local. Tudo isso,  e mais o fato de que seus poderes vêm de um animal que gera repulsa e fobia, e  qualquer chance de sucesso seria muito improvável naquela primeira metade dos anos 60.

Aí vem o Homem-Aranha:  Assim nasceu o Homem Aranha (Spider Man), desacreditado pelo editor Martin Goodman que publicou o personagem, imaginado por Stan Lee e Steve Ditko, nas páginas da revista “Amazing Fantasy” #15 (Agosto de 1962), cuja tiragem era insatisfatória e estava marcada para cancelamento iminente. Provando que perdedores conseguem mudar o rumo de suas vidas e se tornar grandes vencedores, o personagem caiu no gosto dos leitores que se identificaram com a história do orfão Peter Parker, criado por  seus tios  e nada popular entre os colegas de escola. Ao ganhar seus poderes, Peter inicia um processo de amadurecimento, premissa reforçada pela frase criada por Stan Lee e que se tornaria marca registrada do herói “Com Grandes Poderes vem Grandes Responsabilidades”.  O sucesso nas vendas daquela última edição de “Amazing Fantasy” convenceu os editores a lançar o personagem em seu título próprio “The Amazing Spider Man” em Março de 1963.

Surge o vilão Elektro

Surge o vilão Elektro

No início da década de 60 o mundo estava mergulhado no clima da guerra fria, conflitos raciais tomavam conta das ruas e os jovens embalavam sua rebeldia ao som do Rock dos Beatles e Stones. A radiação nuclear era a tecnologia do momento e foi o gatilho empregado por Stan Lee para justificar os poderes de Peter Parker,  picado por uma aranha contaminada por radiação durante uma experiência no laboratório. Quando o Homem Aranha foi criado por Stan Lee & Steve Ditko, não era comum heróis que fossem adolescentes, a não ser que fossem “sidekicks” ( parceiros de heróis) como o caso de Robin, Bucky, e outros. Poucos eram os adolescentes que entitulavam uma revista como o caso do “Superboy” que retratava as aventuras do Superman quando jovem e o “Shazam” que tinha como identidade secreta o jovem órfão Billy Batson. Contudo, o diferencial nas histórias do Homem Aranha era a carga de dramaticidade , já que a vida particular de Peter Parker era tão relevante para as histórias quanto os vilões que ele combatia. Elektro, que ocupa o subtítulo dessa segunda aventura, só surgiu em Fevereiro de 1964, quando o herói já tinha seu título próprio. O insano Duende Verde seria criado para Julho do mesmo ano e Rhino só mais tarde em 1966.

A Primeira Adaptação :  O sucesso que a Marvel Comics estava tendo nos anos 70 na Tv com o seriado do Incrível Hulk (Aquele estrelado por Bill Bixby e Lou Ferrigno) convenceu a empresa a aprovar a adaptação realizada pelas empresas CFP, DGP e Danchuk para exibição na ABC . Assim, em 14 de Setembro de 1977, Nicholas Hammond (Intérprete de Friedrich, uma das crianças da família VonTrapp no clássico “A Noviça Rebelde”) foi,  aos 27 anos,  o primeiro ator a fazer o papel do alter ego do herói aracnídeo. A produção era  muito pobre e não aproveitou praticamente nada do material original: nada de super-vilões (o orçamento não permitia) , os famosos coadjuvantes das HQs (Mary Jane, Harry Osborn, Flash Thompson…) não apareciam exceto por J.Jonah Jameson (o editor do Clarim Diário , jornal para o qual Peter trabalha como free-lance). Até mesmo a bondosa Tia May não é mais que uma mera ponta no filme. Curiosamente, o filme chegou a ser exibido nos cinemas brasileiros e gerou uma série de TV com 13 episódios.  Ainda houve em 1978 a compilação dois episódios duplos que também passaram nos cinemas brasileiros : “Homem Aranha Volta a Atacar” (The Deadly Dust) e “Homem Aranha & O Desafio do Dragão” (The Chinese Web).

O Homem Aranha da década de 70 na TV

O Homem Aranha da década de 70 na TV

 

O Caminho para o sucesso nas telas :  A possibilidade de uma adaptação para o cinema em ritmo de superprodução já era alimentada em Hollywood há bastante tempo. Na segunda metade dos anos 90, o nome de James Cameron, o diretor de “O Exterminador do Futuro”, “Titanic” e “Avatar”, chegou a ser ligado ao projeto,  mas nada ia para frente. Quando a Fox alcançou sucesso com a adaptação dos X Men em 2000, a realização de um filme do Homem Aranha ganhou impulso renovado.  A Marvel Comics (que na época ainda não era propriedade da Disney) negociou os direitos com vários estúdios,  fechando negócio finalmente com a Sony. O diretor Sam Raimi, colecionador de HQs, vinha de uma bem sucedida carreira no cinema (dirigiu Darkman e  Evil Dead – Uma Noite Alucinante) e na Tv (produziu os seriados de Hercules e Xena) , era fã do personagem e ficou com a cadeira de diretor.  O elenco selecionado incluiu Tobey MacGuire (de “Garotos Incriveis”) no papel de Peter Parker para o qual já haviam sido cotados os nomes de Leonardo DiCaprio e Jake Gyllenhall , Kirsten Dunst (atriz de sucessos como “Entrevista com o Vampiro” e “Jumanji”) , e James Franco (ator desconhecido que vinha de pequenos papeis no cinema e TV onde interpretou o ícone James Dean, e que chegou a ser testado para o papel de Peter Parker) e William Dafoe (como o vilão Duende Verde, criado por Stan Lee em Julho de 1964 em “Amazing Spider Man” #14) em papel que antes teve cotado o nome de John Malkovich e  Nicolas Cage .Todos os atores vestiram bem suas personas e também são dignos de nota os nomes dos veteranos Cliff Robertson (Tio Ben) e Rosemary Harris (Tia May), além do simpático editor J.Jonah Jameson que ficou assombrosamente idêntico às Hqs na pele de J.K.Simmons.

Nas HQs, a galeria de vilões do Homem Aranha é uma das mais bizarras e diversificadas só rivalizando com os inimigos do Batman (na concorrente Dc Comics). Entre todos os adversários do herói aracnídeo, o pior deles é o empresário Norman Osborn, pai de seu melhor amigo Harry, que descobriu a identidade secreta de Peter Parker e fez de tudo para atormentá-lo, chegando a matar sua então namorada Gwen Stacy, do alto da ponte do Brooklin (Amazing Spider Man #121 de junho de 1973), numa dramática sequência que Sam Raimi transpôs para o desfecho do primeiro filme, trocando Gwen por Mary Jane e sem o trágico desfecho. O filme “Homem Aranha” , lançado no Brasil em 17 de Maio de 2002, foi um enorme sucesso.

Tobey Maguire, para muitos o melhor.

Tobey Maguire, para muitos o melhor.

Sam Raimi soube equilibrar com perfeição todos os elementos do meio respeitando os aficcionados do gênero e criando um espetáculo atraente para o público em geral. O diretor conseguiu se superar ainda mais na sequência lançada em julho de 2004. Tendo já estabelecido a origem do herói (com a diferença que a teia orgânica havia sido criada para a reinvenção do personagem em 2001 em um universo paralelo chamado de “Universo Ultimate”), apresentado os coadjuvantes, suas motivações e dilemas, Raimi trouxe um vilão memorável na figura do Dr.Octopus (Alfred Molina, em papel para o qual Robert DeNiro esteve cotado), surgido nos quadrinhos em Julho de 1963, antes mesmo do Duende Verde. O filme já começa em alto estilo com os créditos surgindo em meio a um flashback todo desenhado, como em uma história em quadrinhos,  pelo conceituado artista Alex Ross Novamente, Raimi trouxe à luz cenas que parecem decalcadas diretas do gibi como a cena do uniforme jogado na lixeira debaixo de chuva (The Amazing Spider Man  #50 de Julho de 1967), e a impressionante luta entre o Aranha e o Dr.Octopus no trem suspenso, que termina com o herói desmascarado em público,  literalmente uma sequência típica dos quadrinhos de super-heróis, e que lembrou os leitores de uma luta parecida publicada em “Amazing Spider Man #12” de Maio de 1964. O  clímax,  alcançado no final do segundo filme,  trazia a revelação da identidade secreta do herói para Mary Jane e Harry Osborn plantando as sementes para um terceiro filme, confirmado depois de uma bilheteria milionária.

O Final da Trilogia: Contudo, após o sucesso comercial e artístico alcançado pelos primeiros filmes da franquia, Raimi perdeu o controle criativo para os executivos da Sony. O produtor Avi Arad insistia em usar o vilão Venom, um simbionte alienígenas surgido no arco “Guerras Secretas” de 1984 e extremamente popular entre os leitores, mas  que não agradava a Sam Raimi que preferia usar algum dos vilões clássicos como o Abutre e o Lagarto.Este já havia aparecido indiretamente nos filmes 1 e 2 através de seu alter ego,  Dr.Curt Connors (Dylan Baker) , apontando a intenção de Raimi de utilizá-lo como vilão de uma nova sequência  . O terceiro filme, lançado em Maio de 2007,  mostrou um roteiro inflado com 3 vilões : Venom (interpretado por Topher Grace, do seriado That 70’s Show),  Homem Areia (Thomas Hayden Church) e o segundo Duende Verde (o vingativo Harry Osborn de James Franco),  além de uma história que muda fatos do passado (O Homem Areia se torna o assassino arrependido do tio Ben),  introduz novos personagens (Gwen Stacy, Capitão Stacy que pertencem a um período cronológico anterior), mas sem levar a lugar nenhum. O resultado, embora não tenha sido nenhum desastre nas bilheterias, foi um filme de qualidade muito inferior. Apesar das tentativas, Raimi deixou o cargo e com ele Tobey MacGuire (que reclamou muito de dores nas costas resultante das cenas de ação) e Kirsten Dunst também partiram.

O Reboot : Depois de três filmes de sucesso consolidado, a Sony decidiu dar um reboot, tal qual tornou-se comum em vários filmes, e contratou o diretor Marc Webb que trouxe Andrew Garfield (do filme “A Rede Social”) para o papel de Peter Parker, deixou Mary Jane de fora voltando cronologicamente para o período em que Peter namorava a loirinha Gwen Stacy, filha do Capitão de polícia, interpretada por Bryce Dallas Howard no terceiro filme de Sam Raimi e agora por Emma Stone . No lugar de Cliff Robertson e Rosemary Harris, entram Martin Sheen e Sally Fields (alguém lembra da Irmã Bertrille do seriado “A Noviça Voadora” ) nos papéis de Tio Ben e Tia May. A decisão prematura de mostrar a origem do herói de novo foi contornada com o acréscimo da figura dos pais de Peter Parker, pouco explorado nas HQs do personagem, e que na história original (publicada em Amazing Spider Man Annual #5 de 1968) foram retratados como espiões a serviço da Inteligência Americana, mortos em missão durante o período da Guerra Fria. O filme foi bem sucedido mas dividiu opiniões tanto dos fâs quanto dos críticos.

Peter & Gwen

Peter & Gwen

O vilão da vez ficou sendo o Dr.Curt Connors (Rhys Ifans) que perdeu um braço e desenvolve um soro desenvolvido a partir da habilidade regenerativa dos répteis. O novo braço surgido traz como efeito colateral a transformação do pobre cientista em uma criatura reptiliana e feroz conhecida como o lagarto (surgido em Amazing Spider Man #6 de Novembro de 1963). O roteiro, no entanto, muda  elementos da origem do herói que Raimi respeitou: A picada da aranha modificada geneticamente (nas HQs, aranha radiativa) foi um acidente e no filme de Webb,  não. A morte de Tio Ben (Martin Sheen) se dá de forma diferente, depois de uma discussão com o sobrinho e sem a participação de Peter em uma luta livre para ganhar dinheiro. Essas modificações visam transformar o novo filme num produto mais personalisado, distante da trilogia de Raimi, mas em compensação, também distante – ao menos em alguns aspectos – do material de Stan Lee & Steve Dikto. Mesmo assim, dificilmente o filme de Webb será um desastre de bilheteria dada a enorme popularidade do herói aracnídeo e o apelo do personagem junto à plateia jovem em geral. Daí, a escolha de Andrew Garfield, um Peter Parker mais jovem que MacGuire. O caminho para novas sequências certamente foi aberto pois não resta dúvida que aí vem o amigo da vizinhança. Cuidado bandidos, aí vem o Homem Aranha !!

 

por Adilson Cinema

ESTREIAS DA SEMANA : 24 DE ABRIL

INATIVIDADE PARANORMAL 2

Humor sem graça

Humor sem graça

(A Haunted House 2) EUA 2014. Dir: Michael Tiddles & Rick Alvarez. Com Marlon Wayans, Cedric The Entertainer, Essence Atkins, Comédia. Malcolm (Wayans) se apaixona por uma mãe solteira com dois filhos, mas seu sossego acaba quando descobre que fenômenos paranormais envolvem as crianças e a casa em que habitam. A história é o que menos importa já que o filme anterior era uma sucessão de gags de mal gosto, grosseiras e sem um pingo de criatividade – óbvio em cima dos filmes de terror no estilo “Atividade Paranormal”. Como o filme fez uma bilheteria significativa, o que prova que o mal gosto impera muitas vezes, vem essa sequência (co escrita pelo próprio Marlon Wayans) que deve repetir os mesmos excessos e grosserias já vistos inclusive em “Todo Mundo Em Pânico”. Dentre os filmes parodiados estão sucessos como “Mama” e “Invocação do Mal”.

PROFISSÃO DE RISCO

ação passa tempo

ação passa tempo

(The Bag Man) EUA 2014. Dir: David Grovic. Com Jphn Cusack , Chazz Menendez, Rebecca Da Costa , Crispin Glover, Robert DeNiro. Ação. Homem vai a motel à beira da estrada para encontrar homem misterioso e entregar-lhe uma sacola dentro da qual não deve de forma alguma olhar, daí o título original em inglês “The Bag Man”, algo como o homem da entrega, ou o homem da sacola. Filme de ação convencional com Robert DeNiro nos fazendo perguntar por que um grande ator desperdiça seu talento em filmes menores como esse.  Até seu visual está por demais caricato. Cusack tem talento mas também desperdiça em atuações automáticas e não foge de sua zona de comforto. Detalhe: a atriz Rebecca Da Costa, que interpreta uma prostituta, é brasileira

AMANTE À DOMICÍLIO

Dando uma força para os amigos

Dando uma força para os amigos

(Fading Gigolo) EUA 2013. Dir:John Turturro. Com John Turturro, Woody Allen, Sharon Stone, Vanessa Paradis, Sofia Vergara, Liev Shreiber. Comédia. Homem se torna um Don JUan para arrancar dinheiro de mulheres ricas e assim ajudar um amigo em dificuldades financeiras. Claro que tudo dará errado e o resultado será uma confusão enorme envolvendo muito dinheiro e a descoberta do amor. É difícil ver Woody Allen trabalhar em um filme que não seja seu, mas a óbvia amizade entre o ator e diretor  John Turturro (este é seu quarto trabalho atrás das câmeras) deve justificar essa parceria. Turutrro teve ponta em “Hannah & Suas Irmãs” de Allen em 1986 e agora retribui dividindo a cena com Turturro. A ultima vez que Allen fez o mesmo, com exceção da breve aparição em “Paris Manhattan” de 2012, foi no filme de Alfonso Arau “JUntando os Pedaços” de 2000.Não espere ver o mesmo tipo de humor dos filmes de Woody Allen, mas espere uma agradável mistura de comédia e drama já que Turturro busca identidade própria, mesmo que apoiado em parte no carisma em cena de Allen.

 

por Adilson Cinema

MAIS ESTREIAS EM 17 DE ABRIL: O GRANDE MESTRE

Impávido e Infalível

Impávido e Infalível

(Yi Dai Zong Shi) Chi 2013. Dir: Wong Kar Wai. Com Tony Leung, Zhang Ziyi. O filme dramatiza a vida de Ip Man, mestre do Kung Fu que foi o professor de Bruce Lee – o maior ícone dos filmes de artes marciais. O filme atravessa décadas desde o pré-guerra, passando pelas transformações sofridas pela China quando invadida pelo Japão em 1938 no período pré Segunda Guerra e nas mudanças que se seguiram, e que servem como pano de fundo. Simplificado assim, no entanto, não faz juz ao trabalho apurado de Wong Kar Wai, à presença correta do ator Tony Leung (em sua sétima colaboração com o diretor) ou às belas lutas coreografadas. O filme chegou a ser indicado aos Oscars de melhor direção de fotografia e melhor figurino, e embora não os tenha ganhado, é nítido o valoroso trabalho do diretor e sua equipe em uma seara geralmente rotulada como “filme de luta”. Claro que a graça e a agilidade dos golpes de Kung Fu estão lá, mas como um dos elementos de uma história maior a ser contada, até por se tratar de uma biografia. Embora não aprofunde a contextualização histórica que mostra a evolução da arte do Kung Fu, o filme abre espaço para o romance já que Ip Man vive uma história de amor proibido com a filha de seu rival e outros momentos conflituosos em sua vida pessoal. Ainda que o protagonista seja um personagem desconhecido para o público em geral, o filme é interessante e curioso, até para quem sabe nos fazer sentir como disse Caetano Veloso na canção  “impávido e infalível como Bruce Lee”.

por Adilson Cinema

ESTREIAS DA SEMANA : 17 DE ABRIL

O FILHO DE DEUS. 

O Filho de Deus

O Filho de Deus

(Son of God) EUA 2013. Dir: Christopher Spencer. Com Diogo Morgado, Darwin Shaw, Joe Wredden, Roma Downey.. O filme narra a passagem de Jesus pela terra através do ponto de vista do apóstolo Pedro. O filme é mais uma das dezenas adaptações da vida de Cristo que já gerou desde o perfeito “Rei dos Reis” (1961) até o controverso “Paixão de Cristo” (2003) de Mel Gibson. Bem apropriado para o clima da Páscoa, o filme estrelado pelo ator Português Diogo Morgado foge do terreno das polêmicas e  propõe uma narrativa didática, literal da vinda do Messias, percorrendo seus passos até sua crucificação e ressurreição.O filme adapta a minisérie “The Bible” , campeã de audiência nos Estados Unidos ano passado ao ser exibida pelo History Channel. Co-produzida pela bela atriz Roma Downey (que estrelou nos anos 90 a série de Tv “O Toque de um Anjo”), sendo a própria a intérprete da  Virgem Maria,  a mini-série foi adquirida pela Rede Record. Certamente não será a adaptação definitiva da vida de Cristo, mas certamente atrairá os fiéis ao cinema nessa Páscoa, principalmente aqueles que discordaram das liberdades tomadas com Noé.

COPA DE ELITE

Copa de Elite

Copa de Elite

BRA 2014.Dir: Victor Brendt. Com Marcos Veras, Rafinha Bastos, Anitta, Julia Rabello.

O cinema nacional investe aqui em paródias no estilo “Todo Mundo em Pânico” se aproveitando da expectativa em torno da Copa do Mundo e fazendo comédia descarada com um dos maiores sucessos do cinema brasileiro, o óbvio “Tropa de Elite”. Capitão do BOP se torna persona non grata no país depois que salva o maior craque da seleção argentina às vésperas da Copa. Sua grande chance de se redimir surge quando descobre os planos para um atentado contra o Papa durante os jogos. A lembrança de “Corra que a Polícia Vem aí” é óbvia, bem como dos filmes de Mel Brooks. Pelas telas passam diversas gags em cima de outros sucessos do cinema nacional como “Dois Filhos de Francisco”, “Nosso Lar” e até “Bruna Surfistinha”, entre outros, o que certamente será divertido conferir.

JULIO SUMIU

Cadê Julio ?

Cadê Julio ?

BRA 2014. Dir: Roberto Berlini. Com Lilia Cabral, Fiuk, Stepan Nercessian, Carolina Dickerman, Pedro Nercessian.. O filme usa a implementação de uma UPP como pano de fundo para mostrar a confusão em uma família quando a dedicada mãe interpretada pela excelente Lilia Cabral descobre que um de seu filhos vai parar prisioneiro de um traficante local e para salvá-lo, ela terá que aceitar inclusive traficar a mercadoria. Tudo fica ainda mais confuso quando seu outro filho decide vender a droga pra valer. O filme é baseado em livro de Beto Silva, um dos membros do Casseta & Planeta, que inclusive participa da adaptação.

DIVERGENTE

Jovens Vorazes

Jovens Vorazes

(Divergent) EUA 2014. Dir: Neil Burger. Com Shailene Woodley, Kate Winslet, Theo James. Ficção cientifica

Em uma Chicago futurista a cidade é dividida em facções, cada uma reunindo características fixas tais como a audácia, a coragem, a generosidade e outras. Divergente é como é conhecida a pessoa que se encaixa em mais de uma das facções. A adolescente Tris (Woodley) é uma dessas pessoas e decide deixar a própria família para descobrir por que os divergentes são tão perigosos assim para o status quo dessa sociedade.Ela se envolve romanticamente com um jovem de outra facção à medida que põe a própria vida em risco para desvendar toda a verdade. O filme é adaptação do best-seller de Veronica Roth que gerou três livros, sendo os demais “Insurgente” e “Convergente”. Se essa primeira incursão tiver um bom resultado nas bilheterias, pode se esperar os demais. A atriz Shailene Woodley é talentosa, já apareceu em “Os Descendentes” (2012) ao lado de George Clooney e em breve voltará às telas em outra adaptação de best-seller juvenil, “A Culpa é das Estrelas”. No caso de “Divergente”, a expectativa entre os jovens leitores  é grande, bem como as comparações com outro sucesso do gênero, “Jogos Vorazes” já que ambos tem jovens como heróis que se tornam salvadores do mundo e ambos tratam de distopias futurísticas. A bilheteria americana já pagou o filme que teve o orçamento estimado em mais de $80 milhões, o que certamente já aponta as sequências vindouras.

 

por Adilson Cinema

ESTREIA DA SEMANA: CAPITÃO AMERICA – O SOLDADO INVERNAL (CRÍTICA)

A trama do novo filme do Capitão América segue uma linha de intriga política e desilusão do personagem com o novo mundo. O roteiro, de Christopher Markus & Stephen McFeeley, aproveita-se de um arco de histórias relativamente recente, criado pelo escritor Ed Brubaker, no qual o  Capitão América descobre que seu melhor amigo, de sua época, foi mantido em estado criogênico e sofreu lavagem cerebral que o transformou em um impiedoso assassino chamado “Soldado Invernal”. O abalo dessa descoberta é acentuado ainda mais pela constatação do herói de que o país que representa está apodrecido pela corrupção infiltrada na S.H.I.E.L.D, a agência governamental para a qual trabalha desde o filme dos “Vingadores”. O arco de histórias “O Soldado Invernal” foi originalmente publicado entre Setembro de 2005 e Abril de 2006 na revista do Capitão América e trouxe sérias consequências para o personagem nos quadrinhos. O filme já começa mostrando o papel de Steve Rogers como um homem fora de sua época, seja anotando em um caderninho ou visitando o Smithsonian.

Alto padrão nos filmes do gênero.

Alto padrão nos filmes do gênero.

O novo filme bebe dessa fonte e a mescla com os melhores filmes que já exploraram o jogo de gato e rato, ardis de fumaça e espelhos que foram explorados em filmes como “Operação França” e “Os Três Dias do Condor”, esse último trazia Robert Redford como protagonista. O consagrado ator disse em entrevistas que aceitou o convite pois seus netos são admiradores do universo cinematográfico da Marvel Comics  e seu papel é de extrema importância para a trama cujas implicações certamente conduzirão a Capitão America 3 e Vingadores 2.

Chris Evans & Scarlet Johanson: Perfeita sincoronia em cena

Chris Evans & Scarlet Johanson: Perfeita sincoronia em cena

De fato, raramente um filme  alcança um equilíbrio tão perfeito entre a ação e o conteúdo. Há momentos em que parece que não estamos assistindo a um filme de super heróis, o que se revela nas sequências de luta e explosões em que o herói atira seu escudo e salta alturas enormes. O ponto tão esperado, o encontro entre o Capitão e o Soldado Invernal só ocorre após mais de uma hora de filme e depois na sequência final do filme. A direção de Anthony & Joe Russo é eficiente e ambos já estão comprometidos para o próximo filme do herói. A Marvel está empolgada com a bilheteria mundial que já está em cerca de 300 milhões, em valores não atualizados até essa data, praticamente o mesmo valor do primeiro filme. A aposta é tão alta que a data prevista para a estreia de Capitão America 3 foi anunciada como a mesma de “Batman & Superman” da rival DC/ Warner. ´Quem tem a ganhar somo nós fãs e nerds que vermos os heróis de nossa imaginação ganharem vida, ao menos nas telas do cinema. Ainda a tempo : Há duas cenas pós crédito que apontam os próximos filmes. Nada mais a dizer para não estragar a surpresa.

Quem ele é ? Atenção !!

Quem ele é ? Atenção !!

 

 

CAPITÃO AMERICA NOS QUADRINHOS

As melhores histórias do Capitão América, nos quadrinhos, souberam explorar bem sua figura como de um deslocado no tempo. Seu anacronismo constantemente entra em conflito com os interesses maiores. Seja o cidadão Steve Rogers que precisa fazer anotações em um caderninho para se atualizar sobre músicas e filmes ou como o soldado que discorda das ordens que recebe. Apesar de sua imagem evocar um ufanismo solitário, sua postura o faz crítico das mazelas da sociedade norte-americana. Nas mãos de hábeis roteiristas, o personagem já foi destituído de seu cargo (Captain America #332 de 1987), já foi julgado por alta traição e exilado (Captain America #450 de 1996) e salvou a América em seu bicentenário na histórica edição publicada em Agosto de 1976. Mas, ainda mais ousado foi o arco de histórias publicado entre Janeiro e Agosto de 1974 entitulado “A Saga do Império Secreto”. Nele, o patriótico herói  é vítima de uma campanha de difamação e preso acusado de assassinato. Tudo era parte de um golpe de estado perpetrado por uma organização do mal ligado aos altos escalões do governo. O polêmico final da saga insinua que o líder do grupo (seu rosto não é mostrado)  é o próprio presidente dos Estados Unidos, e isso, em plena época do escândalo de Watergate, que levaria Richard Nixon – no mundo real – a renunciar meses depois.

Capitão America & Falcão contra o Império Secreto

Capitão America & Falcão contra o Império Secreto

Entre vários personagens que desfilam na tela como coadjuvantes da trama, que incluem o mercenário Bartroc, o agente Rumlow (que nos quadrinhos é o vilão Ossos Cruzados), a Viúva Negra e o próprio Nick Fury, um dos mais relevantes é Sam Wilson, o Falcão. Nos quadrinhos, o personagem surgiu em Captain America #117 (Setembro de 1969) com roteiro de Stan Lee e com um visual bem diferente do atual,  logo se tornando o parceiro do herói. Seu apelo foi forte e veio em um momento em que questões raciais eram muito mais delicadas do que no mundo de hoje e o cinema viria depois a fazer disso um filão que ficou conhecido como blackexploitation. O Falcão era o herói negro que salvava o Capitão América, um branco, o que levou o personagem a um alto grau de popularidade entre o público leitor de HQ. Durante quase uma década (de 1971 a 1978), o título do herói passou a se chamar “Captain America & Falcon”, o que para a época foi extremamente relevante não apenas em termos da indústria dos quadrinhos como também como reflexo do momento histórico em que se passava.O público leitor de quadrinhos reconhece o personagem, mesmo que este siga uma atualização em sua origem, o que a própria Marvel Comics faria nas edições chamadas “Ultimate” na qual reinterpreta os seus personagens em uma linha de tempo alternativa. O filme ainda trás menção a outros personagens conhecidos como Bruce Banner (o Hulk), Tony Stark (O Homem de Ferro) e até mesmo o Dr.Estranho cujo projeto de um filme já foi anunciado. São várias referencias que para o fan de quadrinhos serão deliciosas.

O Soldado Invernal

O Soldado Invernal

IN MEMORIAN

A Arte cinematográfica perdeu dois grandes nomes. Respeitosamente, o blogcineonline honra o nome de José Wilker (1947-2014) que faleceu último sábado de infarte fulminante durante o sono. Wilker era um apaixonado por cinema, e exerceu função de crítico na Globo comentando a transmissão do Oscar além de várias análises transmitidas pelo Rádio. Trabalhou em diversas novelas, sendo uma das mais famosas “Roque Santeiro” (1985) na qual viveu o papel título. No cinema, Wilker esteve em “Bye Bye Brasil” (1979) em que viveu Lorde Cigano, “Dona Flor & Seus Dois Maridos” (1976) em que viveu Vadinho – o marido fantasma de Sônia Braga, “O Homem da Capa Preta” (1986) em que viveu o lendário Tenório Cavalcanti entre outros, sendo os mais recentes “Giovanni Improtta” (2012) baseado no personagem que viveu na novela “Senhora do Destino” e “A Casa da Mãe Joana 2” (2013). Foi muito bem sucedido também como diretor, produtor além de vários trabalhos no Teatro. Que descanse em paz !

Jose Wilker

Jose Wilker

Já nesse último domingo, o ator Mickey Rooney (1920-2014) faleceu aos 93 anos. Rooney começou a carreira ainda criança nos anos 30. Fez vários filmes com Judy Garland (antes desta estrelar “O Mágico de Oz”) além de papéis em filmes classicos como “Bonequinha de Luxo” (1961) no qual viveu o senhorio Japonês de Audrey Hepburn, “Deu a Louca no Mundo” (1963), entre outros trabalhos. Será mais facilmente lembrado pelos mais novos como um dos três vigias do Museu Natural de Nova York em “Uma Noite no Museu” (2006). Saudades Eternas !

Mickey Rooney

Mickey Rooney

por Adilson Cinema

ENSAIO : OS FILMES BÍBLICOS

Do sucesso de Noé de Darren Aronofsky depende uma série de projetos envolvendo adaptações de episódios bíblicos. Épicos dessa natureza significam para a indústria cinematográfica um retorno financeiro potencial, seja por seu amplo alcance de público, seja por dispensar os custos de licenciamento já que os personagens são de domínio público. Hollywood já bebeu dessa fonte antes, mas nunca com tantos recursos tecnológicos para se criar espetáculos visuais tão realistas e impressionantes.

O Manto Sagrado

O Manto Sagrado

Se em 1953, quando a 20th Century Fox lançou “O Manto Sagrado” (The Robe) com todo o esplendor do Cinemascope (tela duas vezes maior e enquadramento panorâmico), o público respondeu com assombro, imagine-se o que virá beneficiado pelo  avanço da tecnologia digital, telas I-MAX e projeção 3D ! Ridley Scott (de “Gladiador” e “Prometheus”) está filmando “Exodus”, sobre a trajetória de outro profeta bíblico, Moisés – encarnado por Christian Bale, e com lançamento previsto para o final do ano. E além desse, outros filmes de igual temática já se avistam no horizonte, mas todos precisam de cuidadosos para que as liberdades geralmente tomadas no processo de adaptação da história não sejam ofensivas ao público religioso. Trazer uma figura das escrituras sagradas para a dimensão cinematográfica, muitas vezes, acaba significando o mesmo que mexer em um vespeiro capaz de atrair publicidade negativa que afasta o público das salas de exibição. Claro, que devemos considerar também que essa faca é de dois gumes e o bate boca de uma polêmica pode vir a funcionar no sentido oposto como, por exemplo, quando Mel Gibson realizou em 2004 “A Paixão de Cristo”, que trazia Jim Caviezel (do seriado “Person of Interest) como Cristo, e mesmo envolto na controvérsia acerca de acusações de ani-semitismo, lucrou alto nas bilheterias e se tornou a maior arrecadação de um épico bíblico, posto que era até então ocupado pelo clássico “Os 10 Mandamentos” de 1956.

Outro que foi envolto na mesma aura de discussão foi o consagrado diretor Martin Scorcese (de “A Invenção de Hugo Cabret” e do recente “O Lobo de Wall Street”) que em 1989 retratou a passagem do Messias no provocante “A Última Tentação de Cristo” (The Last Temptation of Christ), que na época sofreu severas críticas do Vaticano que rejeitou essa visão mais humana e menos divina de Jesus, que foi interpretado por William Dafoe (o Duende Verde de “Homem Aranha”). O que dizer então da visão moderna de Goddard para a mãe de Jesus em “Je Vous Salue Marie” de 1985, que foi proibido em vários países, inclusive no Brasil.

Victor Mature & Hedy Lamarr

Victor Mature & Hedy Lamarr

Em nenhum período, no entanto, teve o gênero recebido maior prestígio que no final dos anos 40 e seguindo até a década de 60. O hoje lendário diretor Cecil B. DeMille (1881-1959) já havia filmado “O Rei dos Reis” (1927) e “Os Dez Mandamentos” (1923) no período do cinema mudo, e em 1949, revisitou o velho testamento e trouxe para às telas a figura heroica de Sansão vivido por Victor Mature (que segundo consta era um  homem cheio de medos e fobias apesar de seu invejável físico de super homem) e seu amor pela sedutora e traiçoeira Dalila (a belíssima atriz austríaca Heddy Lamarr). Sobre “Sansão & Dalila” (Samson & Delilah), reza a lenda que o sarcástico Grouxo Marx, teria dito que esse “era o primeiro filme em que o moçinho tinha mais peitos que a moçinha” tamanha a publicidade dada na época ao físico do ator. Assim como os demais épicos que se seguiram, o filme de DeMille usa e abusa dos cenários grandiosos, dos incontáveis extras nas cenas de multidão e do luxo no figurino que torna os atores figuras emblemáticas do gênero. Curiosamente, Victor Mature também está presente no citado “O Manto Sagrado” (The Robe) em que o diretor mostra a conversão do Tribuno Marcellius Gallus ao cristianismo depois que este toca o Santo Sudário, papel que a Fox planejava para Tyrone Power, mas que veio a ficar com Richard Burton. O sucesso artístico e comercial do filme levou a várias indicações ao Oscar, incluindo melhor ator para Burton. Nesse período em questão, o cinema enfrentava a forte concorrência da TV e o épico era uma das estratégias de Hollywood para levar o público para os cinemas oferecendo um espetáculo que não poderia jamais ser igualado pela telinha da TV.

os 10 Mandamentos

os 10 Mandamentos

Voltando a falar de Cecil B.DeMille, este refilmou a história de Moisés no grandioso “Os Dez Mandamentos” (The Ten Comandments) com Charlton Heston no papel central e um elenco que ainda incluía Yul Brinner e Edward G.Robinson. A fantástica sequência de abertura do Mar Vermelho, realizado com apuro técnico invejável para a época encerrou a carreira de DeMille com chave de ouro e uma bilheteria milionária, que permaneceu recorde por muito tempo. Curiosamente, durante muito tempo ninguém sabia quem teria feito a voz de Deus no filme já que a voz havia sido modificada com truques sonoros. Isso até 2004 quando Charlton Heston revelou que a voz era dele. Igualmente impactante visto à luz da atualidade é “Ben Hur” (1959) de William Wyler, que embora seja extraído do romance de Lew Wallace e não diretamente da Bíblia, usa a passagem de Cristo na Terra como pano de fundo da saga do príncipe Judah (Charlton Heston) que torna-se escravo de Roma e retorna livre e rico para buscar sua vingança contra Roma. A Academia respondeu com 11 Oscars, um recorde de premiação que só foi igualado mais de 40 anos depois com “Titanic” (1997) e “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei” (2003). Ainda assim, o filme legou á história do cinema a corrida de bigas que empregou 15 mil extras e alcançou um perfeccionismo inigualável até hoje.

Rei dos Reis

Rei dos Reis

A história de Jesus Cristo gerou duas produções dignas de nota : “Rei dos Reis’ (King of Kings) de 1961 refilmagem dirigida por Nicholas Ray que trouxe o mais jovem ator a interpretar Jesus, Jeffrey Hunter (1926-1969). Um fato bem inusitado ocorreu próximo ao lançamento do filme e que ilustra bem como os estúdios e os realizadores de filmes bíblicos acabam pisando em ovos. Durante uma exibição teste do filme, o público religioso reagiu mal ao fato de que o ator Jeffrey Hunter tinha o peito cabeludo, o que foi tomado como uma heresia. Com isso, o ator teve que raspar o peito e refazer a sequência da crucificação. Quatro anos depois do bem sucedido filme de Nicholas Ray, a vida de Cristo gerou outro filme “A Maior História de Todos os Filmes” (The Greatest Story Ever Told) com direção de George Stevens, mas desta vez o público rejeitou a produção, talvez porque havia passado muito pouco tempo entre uma versão e a outra, talvez porque o público em meados dos anos 60 vivia um momento sócio-político de grandes conflitos e transformações e o épico bíblico já não era tão atraente para o público. Ainda vale a pena mencionar “Barrabás” de Richard Fleischer em 1961 que trazia o excelente Anthony Quinn no papel do ladrão que foi absolvido no lugar de Jesus e “A Bíblia” (The Bible) de 1966 que Dino de Laurentis produziu e John Huston dirigiu e que fazia parte de um ambicioso plano de filmar toda a escritura sagrada, mas ficou restrita aos primeiros capítulos do Gênesis, incluindo a sequência do dilúvio com o próprio diretor no papel do profeta. O resultado das bilheterias abaixo do esperado enterrou o projeto, mas não a fé que sempre moveu o homem em busca das respostas da criação e a procura de um sentido para a vida que o cinema ainda há de explorar bastante.

por Adilson Cinema

ESTREIAS DA SEMANA : 3 DE ABRIL

NOÉ. (Noah) EUA 2014. Dir:Darren Aronofsky. Com Russell Crowe, Jennifer Connely, Emma Watson, Logan Lerman, Ray Winstone, Anthony Hopkins, Nick Nolte, Douglas Booth.

Que a água lave os pecados da humanidade.

Que a água lave os pecados da humanidade.

Talvez o filme de Darren Aronofsky faça pelo épico bíblico o mesmo que Ridley Scott fez pela antiga Roma em 2001: ressuscitar um gênero que outrora foi popular e lucrativo na indústria Hollywoodiana. A presença de Russell Crowe em ambas as produções é de fato icônica. O ator, que se tornou notório por sua pouca amabilidade com os repórteres, encarna um profeta com postura de guerreiro, bem em sintonia com os heróis modernos, o que desagradou a fundamentalistas para quem o mero retrato encenado dessa figura sagrada já se torna uma ofensa para os fiéis. Se considerarmos que liberdades foram tomadas na adaptação do episódio, então inflamam-se os ânimos dos crentes nas escrituras sagradas, tanto os cristãos quanto os islâmicos.

Ótimas interpretações.

Ótimas interpretações.

A história é conhecida: Noé recebe de Deus a incumbência de criar uma arca para salvar sua família e um casal de animais de cada espécie do dilúvio que cairá por dias e noites seguidas para punir a humanidade que se entregou à crueldade. O problema é que o episódio do velho testamento é curto e carecia de elementos narrativos que sustentassem um filme de 138 minutos: A esposa de Noé, Naameh (Jennifer Connelly) , nunca teve o nome mencionado em nenhum texto antigo. Outro personagem que nunca recebeu o nome, na Bíblia, foi Ila (Emma Watson), filha adotiva de Noé e quem vem a ter um caso com seu irmão adotivo Sem (Douglas Booth). No filme, Noé ganha um antagonista para reforçar seu papel heroico, na figura de Tubal-Cain (Ray Winstone), líder de um povo  que quer forçar sua entrada na arca. O elenco ainda inclui Logan Lerman (o Percy Jackson) como Ham, outro filho de Noé , Anthony Hopkins (o Hannibal) como Mathusalém e Nick Nolte como Samyaza. Apesar das licenças poéticos, Aronofsky teve apuro para construir a arca se distanciando da visão de “casa” e seguindo as especificações contidas no livro do Gênesis. O orçamento estimado em $125 milhões vai aparecer na tela, principalmente na esperada sequência do dilúvio que por dias e noites seguidas açoitou o mundo com a ira de Deus. O diretor (o mesmo de “A Fonte da Vida”) consultou estudiosos da Bíblia, participou de uma audiência pública (junto o astro Russell Crowe) com o próprio Papa e ainda teve uma graphic-novel, entitulada “Noah: For The Cruelty of Men”, publicada em 2011, utilizando o roteiro filmado agora. Aronofsky fugiu de uma abordagem tradicional, nos moldes imortalizados por Cecil B.De Mille na Hollywood clássica e propõe uma leitura de luta ambientalista em meio aos esperados questionamentos sobre pecado e perdão. Isso, sem se prender aos preceitos de uma ou outra religião e buscando realizar um filme para todos. Nos papéis centrais que quase foram para Christian Bale e Julianne Moore, Russell Crowe e Jennifer Connelly repetem a parceria em cena já vista em “Uma Mente Brilhante”. São bons atores cercados de um ótimo elenco de coadjuvantes. Emma Watson como Ila (papel que a principio seria de Dakota Fenning) mostra que tem talento muito além das limitações da bruxinha de J.K.Rowling e Ray Winstone tem atuação forte e carismático como o vilão que já teve os nomes de para Liam Neeson, Liev Schreiber e Val Kilmerjá cotados para antagonizar Crowe.

Que Mente Brilhante !

Que Mente Brilhante !

Longe de dizer aqui se a abordagem de Aronofsky, que teve até um poema escrito sobre Noé em sua infância , é válida ou não, prefiro lembrar que estamos falando de cinema, de entretenimento. Claro que se espera uma postura respeitosa já que tratamos de uma figura importante para a fé judaico-cristã e islâmica. Mas, antes de nos deixar levar por qualquer caminho, o melhor é assistir para se julgar sabendo que pode despertar em cada um algo diferente, ou como nas palavras do próprio Aronofsky, “o velho testamento não é uma história infantil”. Aguardemos o próximo capítulo dessa polêmica para Dezembro quando Ridley Scott revistará a história de Moisés em “Exodus”. Alguém se atreve a atirar a primeira pedra ?

UM TOQUE DE MESTRE

(Grand Piano) EUA 2013. Dir: Eugenio Mira. Com Elijah Wood, John Cusack, Alex Winter. Suspense.

Frodo toca piano.

Frodo toca piano.

Pianista retoma sua carreira, embora sofra de um terrível medo do palco. Um bilhete, em meio a uma de suas partituras, o ameaça de morte caso ele não dê o melhor concerto de sua vida, além de estender a ameaça a sua esposa.

por Adilson Cinema