GALERIA DE ESTRELAS : KIRK DOUGLAS

Em “Trumbo” (2015), durante a paranoia Macarthista vários profissionais perdiam espaço de trabalho quando acusados de serem comunistas, entre eles o excelente roteirista Daltom Trumbo. Protagonista e produtor executivo de “Spartacus”, o ator Kirk Douglas ignorou o boicotte e contratou Trumbo como roteirista. Sua força de caráter não esteve só visível diante das câmeras, mas também nos bastidores de Hollywood. Logo, seu centenário coleciona diversos episódios que justificam o valor desse grande astro, um dos últimos durões do cinema, que ganha de 25 de novembro até 11 de dezembro, uma mostra pela cinemateca do MAM reunindo 29 longas de uma carreira prolífica carreira, além do lançamento de um livro “O Ùltimo Durão – Centenário de Kirk Douglas” escrito por Mario Abbade, jornalista, crítico de cinema e curador da mostra.

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FUGA DO PASSADO : CONTRACENANDO COM ROBERT MITCHUM

Nascido em Nova York, Issur Danielovitch, em 9 de dezembro de 1916, filho de imigrantes judeus originários da Russia. Adotou o sobrenome Demsky quando criança enquanto sua família se fixava na América, legalmente modificado para Kirk Douglas pouco antes de ingressar na Marinha durante a Segunda Guerra. Lutou boxe desenvolvendo um físico atlético que seria útil na composição de papeis rudes. Para conseguir uma bolsa para a universidade, entrou para um grupo de drama e veio a trabalhar no rádio e em comerciais de Tv. Nesse meio tempo conseguiu papeis pequenos no cinema estreando nas telas em 1946 em “O Tempo Não Apaga” (The Strange Love of Marha Ivers), papel que conseguiu por intermédio da amiga Lauren Bacall. O nobre ator conseguiu chamar a atenção para si no filme seguinte “Fuga do passado” (Out of the Past) no papel de um gangster. Em três anos veio a primeira indicação ao Oscar de melhor ator por “O Invencível” (Champion), no papel de um boxeador que o fez reviver uma fase de sua própria vida. Logo vieram o xerife de “Embrutecido pela violência” (Along The Great Divide), o detetive de “Chaga de Fogo” (Detetctive Story) ambos de 1951, mas apesar do sucesso destes, o obstinado ator tinha muito mais a dar, além de trazer o pão nosso para família formada em 1943 com a também atriz Diana Dill e com quem teve dois filhos: Michael em setembro de 1944 e Joel em janeiro de 1947.

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SEDE DE VIVER

             Não demoraria para Kirk mostrar seu talento em dramas psicológicos como o papel do repórter Charles Tatum de “A Montanha dos Sete Abutres” (Ace in the Hole) de 1951 e no ano seguinte o produtor Jonathan Shields de “ Assim estava escrito” (The Bad & The Beautiful), uma visão crítica dos bastidores de Hollywood dirigida por Vincent Minelli. A versatilidade passou a ser uma marca na carreira de Kirk Douglas, oscilando entre papéis mais físicos e outros mais desafiadores, e sempre sem medo de se arriscar. Logo, interpretou o rebelde marinheiro Ned Land na adaptação da Disney para “20000 Léguas Submarinas” (20000 Leagues Under The Sea) ao passo que incorporou o pintor Vincent Van Gogh na cinebiografia “Sede de Viver” (Lust for Life) dirigida por Vincent Minelli. Por este, o ator levou o prêmio de melhor ator da crítica de Nova York. Filmado no mesmo local de nascimento e morte do pintor pós-impressionista holandês. Apesar de várias indicações ao Oscar, incluindo para Kirk que perdeu para Yul Brinner por “O Rei & Eu” (The King and I). Apesar da excelente atuação de Kirk, do elenco de “Sede de Viver” quem levou a estatueta dourada foi Anthony Quinn como coadjuvante por uma participação de 22 minutos como o também pintor Gauguin. Segundo o site imdb, na cena em que Van Gogh corta sua orelha foi tão impactante que  Michael e Joel, filhos de Kirk choraram em desespero por acharem que seu pai havia se mutilado de verdade. Vários westerns se aproveitaram de seu talento como “Rio da Aventura” (The Big Sky) de 1952 ,  “Homem sem Rumo” (Man without a Star) de 1955 (quando Kirk fundou sua propria produtora, a Bryna Productions, com intenção de obter maior controle sobre sua carreira)  e “Duelo de Titâs” (Last Train From Gun Hill) de 1959. Neste último, travou um acirrado duelo em cena com o igualmente talentoso Anthony Quinn.

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SEM LEI E SEM ALMA: OS DURÕES KIRK DOUGLAS & BURT LANCASTER

Foi ao lado do icônico Burt Lancaster que Kirk Douglas teve diversas atuações impressionantes forjando uma parceria muito bem sucedida diante do público e que duraria quatro décadas, criando uma imagem de amizade que existia na cabeça do grande público. Ainda assim, a química dos dois era inegável, sete vezes em cena em “Estranha Fascinação” (I Walk Alone) 1948, “Sem Lei Sem Alma” (Gunfight at OK Corral) 1957, ”O Discípulo do Diabo” (The Devil’s Disciple) 1959, “A Lista de Adrian Messenger” ( The List of Adrian Messenger) 1963, “Sete Dias de Maio” (Seven Days in May) 1964, “Vitoria em Entebbe” (Victory at Entebbe) 1976 e “Os Últimos Durões” (The Tough Guys) 1986. Dentre estes “Sem Lei & Sem Alma” é certamente um dos mais notáveis, versão romanceada de famoso tiroteio ocorrido no Arizona em 1881, já levado às telas em 1946. Douglas faz o pistoleiro Doc Holliday que vem a auxiliar o xerife Wyatt Earp interpretado por Burt Lancaster. Metódico e detalhista na composição de seus personagens, Kirk teria planejado quantas tossidas e de que intensidade essas seriam em cada cena de forma que quando editado o filme não tivesse erro de continuidade.

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VIKINGS OS CONQUISTADORES

A credibilidade impressa em cena por Kirk era tamanha que seus papeis pareciam ser feito sob medida não importando que filme fosse. No auge dos épicos, o ator fez o guerreiro grego descrito por Homero na Ilíada em “Ulisses” em 1954  – ano em que se casou pela segunda vez, com Anne Buydens e com quem teria mais dois filhos. Interpretou o príncipe Einar de “Vikings – Os Conquistadores” (The Vikings) de 1958 contracenando com Tony Curtis,  e o escravo rebelde “Spartacus” de 1960, do qual também foi produtor. Este último sagrou-se na história como um dos melhores filmes do gênero, desafiando o status-quo ao contratar o perseguido Dalton Trumbo como roteirista, conforme mencionado, e o talentoso diretor Stanley Kubrick, com quem Kirk já havia trabalhado em “Gloria Feita de Sangue” (Paths of Glory) de 1957, até hoje um dos melhores filmes de guerra, com um discurso anti-belicista em plena era da guerra fria. Durante as décadas de 70 e 80 os bons papeis foram reduzindo e Kirk fez duas tentativas como diretor: “As Aventuras de um Velhaco” (Scalawag) de 1973 e “Ambição Acima da Lei” (Posse) de 1975, Neste escreveu um papel especialmente para o ator James Stacey que havia perdido seu braço esquerdo e sua perna esquerda em um atropelamento, dando-lhe a primeira oportunidade para atuar após o acidente . Em entrevista recente com o crítico Mario Abbade (publicado em O Globo) reconheceria que achou melhor não continuar, se despindo de qualquer vaidade em admitir.

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KIRK E MICHAEL; DUAS GERAÇÕES DE TALENTO

Kirk nunca escondeu a frustração de não ter estrelado a adaptação cinematográfica de “Um Estranho no Ninho” (One Flew Over the Cuckoo’s Nest), no papel que fizera nos palcos e que no cinema seria vivido por Jack Nicholson. Curiosamente, o filme seria produzido pelo seu filho Michael Douglas e foi premiado com 5 Oscars.  Seguindo sua carreira, Kirk Douglas nunca parou de apoiar causas filantrópicas como uma campanha contra o abuso sofrido por idosos que o levou a ser citado pelo Congresso Nacional e resultou no filme de TV “Amos” de 1985, contracenando com Elizabeth Montgomery (da série “A Feitiçeira”). O sucesso de Michael Douglas, seu filho mais velho, no cinema estabeleceu uma dinastia no cinema. As duas gerações se encontrariam em “Acontece nas melhores Famílias” (It Runs in the Family) de 2003.

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FÚRIA

Ator e produtor já consagrado, trabalhou sob a batuta de Brian DePalma em “A Furia” (The Fury) 1978 e Stanley Donen em “Saturno 3” (Saturn 3) 1980 experimentando o cinema fantástico já que o primeiro era um thriller tratando de força telecinética e o outro uma ficção cientifica convencional. Fez trabalhos na Tv e até emprestou sua voz para um dos episódios de “Os Simpsons” em 1996. Sua aposentadoria só ocorreu devido a um derrame que lhe prejudicou a fala. Entre os diversos prêmios e honrarias,  recebeu a “Presidential Medal of Freedom”, a mais alta condecoração civil do Presidente Jimmy Carter, além de um prêmio “Life Achievement Award”pelo AFI em 1998. Embora não tenha vencido um Oscar competitivo nas três vezes que concorrera, recebeu um Oscar honorário pelo conjunto da obra em 1996. Sua tenacidade o levou a superar os revezes como o derrame, a morte de seu filho mais novo Eric em 2004 por overdose e nem o peso da idade lhe tiram aquele olhar altivo, honrado ou diminuem o charme da covinha em seu queixo, marca registrada de uma carreira prolífica e que o torna uma lenda viva.

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MOSTRA KIRK DOUGLAS O ULTIMO DURÃO – PROGRAMAÇÃO

Programação Kirk Douglas – MAM

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25/11

15h30 Abertura com debate

16h30 O Tempo não Apaga (116 min) 14 anos

18h45 Estranha Fascinação (97 min) 14 anos
26/11

16h O Invencível (99 min) 14 anos

18h Êxito Fugaz (112 min) 14 anos
27/11

16h A Montanha dos 7 Abutres (111 min) 14 anos

18h15 Chaga de Fogo (103 min) 14 anos
29/11

16h Assim estava Escrito (118 min) 14 anos

18h15 A História de Três Amores (122 min) 14 anos

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25/11

15h30 Abertura com debate

16h30 O Tempo não Apaga (116 min) 14 anos

18h45 Estranha Fascinação (97 min) 14 anos

26/11

16h O Invencível (99 min) 14 anos

18h Êxito Fugaz (112 min) 14 anos

27/11

16h A Montanha dos 7 Abutres (111 min) 14 anos

18h15 Chaga de Fogo (103 min) 14 anos

29/11

16h Assim estava Escrito (118 min) 14 anos

18h15 A História de Três Amores (122 min) 14 anos

30/11

16h Mais Forte que a Morte (106 min) 14 anos

1/12

15h45 Ulysses (117 min) 14 anos

18h 20.000 Léguas Submarinas (127 min) 14 anos

20000
2/12

16h A Um Passo da Morte (88 min) 14 anos

17h45 Sede de Viver (122 min) 14 anos

3/12

15h45 Sem lei e Sem Alma (122 min) 14 anos

18h Vikings, Os Conquistadores (116 min) 14 anos

4/12

15h30 Glória Feita de Sangue (88 min) 14 anos

17h15 Spartacus (184 min)

6/12

16h Cidade sem Compaixão (105 min) 14 anos

18h Sua Última Façanha (107 min) 14 anos

7/12

16h A Cidade dos Desiludidos (107 min) 14 anos

18h Sete Dias de Maio (118 min) 14 anos

8/12

16h30 Ambição Acima da Lei (92 min) 14 anos

18h15 Exterminação 2000 (102 min) 14 anos

9/12

16h Cactus Jack, o Vilão (89 min) 14 anos

18h Fúria (118 min) 14 anos

10/12

16h15 Saturno 3 (96 min) 14 anos

18h Amos (100 min) 14 anos

11/12

16h Os Últimos Durões (104 min) 14 anos

18h Illusion (106 min) 14 anos

Programação Kirk Douglas – Joia

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29/11 – 10h45 O Invencível (99 min) 14 anos

30/11 – 10h45 Êxito Fugaz (112 min) 14 anos

1/12 – 10h45 Chaga de Fogo (103 min) 14 anos

2/12 – 10h45 A Montanha dos 7 Abutres (111 min) 14 anos

3/12 – 10h45 Assim estava Escrito (118 min) 14 anos

4/12 – 10h45 A Cidade dos Desiludidos (107 min) 14 anos

5/12 – 10h45 Sem lei e Sem Alma (122 min) 14 anos

6/12 – 10h45 A Fúria (118 min) 14 anos

7/12 – 10h45 Glória Feita de Sangue (88 min) 14 anos

8/12 – 10h45 Sua Última Façanha (107 min) 14 anos

9/12 – 10h45 A História de Três Amores (122 min) 14 anos

10/12 – 10h45 Sede de Viver (122 min) 14 anos

11/12 – 10h45 Spartacus (184 min) 14 anos

Programação Kirk Douglas – Cine Arte UFF

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25/11 18h40 A Montanha dos 7 Abutres (111 min) 14 anos

26/11 18h40 Sede de Viver (122 min) 14 anos

27/11 18h40 Glória Feita de Sangue (88 min) 14 anos

28/11 18h40 Sem lei e Sem Alma (122 min) 14 anos

29/11 18h40 Sua Última Façanha (107 min) 14 anos

30/11 18h40 A Fúria (118 min) 14 anos

1/12 15h30 Spartacus (184 min) 14 anos

Ingressos: R$10,00 / R$5,00

(MAM, Joia, UFF)

30/11

16h Mais Forte que a Morte (106 min) 14 anos

1/12

15h45 Ulysses (117 min) 14 anos

18h 20.000 Léguas Submarinas (127 min) 14 anos

2/12

16h A Um Passo da Morte (88 min) 14 anos

17h45 Sede de Viver (122 min) 14 anos

3/12

15h45 Sem lei e Sem Alma (122 min) 14 anos

18h Vikings, Os Conquistadores (116 min) 14 anos

4/12

15h30 Glória Feita de Sangue (88 min) 14 anos

17h15 Spartacus (184 min)

6/12

16h Cidade sem Compaixão (105 min) 14 anos

18h Sua Última Façanha (107 min) 14 anos

7/12

16h A Cidade dos Desiludidos (107 min) 14 anos

18h Sete Dias de Maio (118 min) 14 anos
8/12

16h30 Ambição Acima da Lei (92 min) 14 anos

18h15 Exterminação 2000 (102 min) 14 anos

9/12

16h Cactus Jack, o Vilão (89 min) 14 anos

18h Fúria (118 min) 14 anos

10/12

16h15 Saturno 3 (96 min) 14 anos

18h Amos (100 min) 14 anos

11/12

16h Os Últimos Durões (104 min) 14 anos

18h Illusion (106 min) 14 anos

 

 

CONHECIMENTOS PRÁTICOS: LITERATURA #68

Untitled-1                AMIGOS DO BLOG JÁ CHEGOU ÂS BANCAS A EDIÇÃO Nº68 DA REVISTA CONHECIMENTOS PRÁTICOS LITERATURA, EDITORA ESCALA, DA QUAL SOU COLABORADOR. NA CAPA UMA BELÍSSIMA IMAGEM DE MIGUEL DE CERVANTES, O AUTOR DE “DON QUIJOTE”, UMA DAS GRANDES OBRAS DA HUMANIDADE. cERVANTES, ASSIM COMO SHAKESPEARE, COMPLETA 400 ANOS DE SUA MORTE E A REVISTA TRAZ UMA BELÍSSIMA MATÉRIA A RESPEITO. DE MINHA AUTORIA, TRAGO UM ARTIGO SOBRE O CENTENÁRIO DE ROAD DHAL, AUTOR DE “A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATE”, QUE FOI ANUNCIADO PARA BREVE UM FILME SOBRE A JUVENTUDE DE WILLY WONKA !!! EM MEIO A TANTAS DATAS CELEBRATIVAS AINDA TEM MATERIA SOBRE A INFLUÊNCIA DA CULTURA VIKING EM HARRY POTTER, A PROPÓSITO DO LANÇAMENTO NAS TELAS DE “ANIMAIS FANTÁSTICOS & ONDE HABITAM”, QUE NOS LEVA DE VOLTA AO UNIVERSO MÁGICO DO MENINO BRUXO. QUE TAL LEMBRAR DE “LIGAÇÕES PERIGOSAS”, O TEXTO DE CHODERLOS DE LACLOS JÁ FOI REVISITADO VÁRIAS VEZES E A MATÉRIA DA REVISTA NOS REVELA MUITAS COISAS LEGAIS A RESPEITO. CONFIRAM NAS BANCAS E COMPREM A REVISTA QUE VALE A PENA, AFINAL MESMO QUE SAIBAMOS QUE CINEMA & LITERATURA SÃO UNIVERSOS PRÓPRIOS, AMBOS NOS LEVAM ALÉM DOS LIMITES DA IMAGINAÇÃO. OBRIGADO DARIO ! OBRIGADO AMIGOS LEITORES DO BLOG ! E DA REVISTA !

GALERIA DE ESTRELAS: CARY GRANT

Certa um vez, um repórter disse ao astro “Todos querem ser como Cary Grant !”. Este teria respondido “Eu também”. Todas as estrelas de Hollywood sempre viveram cercadas de tanto glamour que suas personas ficam indelevelmente cativas da imagem que projetam. Cary Grant tornou-se sinônimo de graça, elegância e sedução.  Em 29 de novembro desse ano, completam 30 anos de sua passagem, uma estrela que brilhará sempre no panteão do cinema.

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Nascido Archibald Alexander Leach em Bristol, Inglaterra, em 18 de janeiro de 1904, vindo de origens humildes. Aos nove anos passou a viver apenas com o pai, pois sua mãe havia sido enviado a um asilo de doentes mentais. O pequeno Archie, no entanto, nada sabia e só depois de trinta anos viria a descobrir o destino de sua mãe. Em 1915, ganhou uma bolsa para a Fairchild Secondary School, que lhe abriu as portas para o ambiente teatral: O professor assistente de química o levou para ajudar a substituir os antigos lampiões de gás por um novo sistema de iluminação elétrica. Logo, Archie conseguiu emprego no teatro como o encarregado de chamar os artistas a entrar em cena. Aos quatorze anos falsificou a assinatura de seu pai para se juntar ao grupo de atores intinerantes de Bob Pender. Quando em uma turnê com o grupo visitou os Estados Unidos, decidiu não voltar mais para a Inglaterra. Não demorou muito para que sua aparência jovial e de belos traços o levassem aos palcos americanos, onde conheceu a estrela Fay Wray (de King Kong) que lhe abriu as portas para um contrato no valor de US$ 450 semanais com o estúdio da Paramount.

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LEVADA DA BRECA

Nesse momento, seu nome foi trocado para algo mais atraente que Archie Leach, e assim nasceu Cary Grant. Seu primeiro filme foi “Esposa Improvisada” (This is the night) em 1932, que desagradou ao astro. Outras oportunidades vieram contracenando com atrizes como Mae West, Marlene Dietrich, explorando seu olhar tímido e sua fotogenia leve e despretensiosa. Foi ao assinar contrato com a Columbia que Grant ensaiou os primeiros passos nos papéis de destaque, em comedias como “Cupido é Moleque Teimoso” (The Awful Truth) em 1937, “Boêmio Encantador” (Holiday) em 1938 e “Levada da Breca” (Bringing Up Baby) também em 1938. O sucesso nesses papeis lhe garantiu uma sólida reputação como ator de comédia.

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NUPCIAS DE ESCÂNDALO

Foi nesse momento que se arriscou em uma papel diferente, em um filme de ação da RKO “Gunga Din” dividindo a cena com Douglas Fairbanks e Victor MacLaglen. Como os aluguéis em Hollywood eram muito caro, foi dividir um apartamento com o ator Randolph Scott, o que provocou muitos boatos maliciosos que até hoje apontam uma suposta homossexualidade. Ainda assim, em pouco tempo casou-se com a atriz Virginia Cherrill (a jovem cega de “Luzes da Cidade”, de Chaplin), mas a união durou pouco e o ator voltou a morar com Randolph Scott. Voltou a atuar em comédia emprestando seu ar de sofisticação ao papel de ex- marido enciumado de Katherine Hepburn, que a visita no dia de seu casamento com o pacato James Stewart em “Nupcias de Escândalo” (Philadelphia Story) de George Cukor. Era o ano de 1941, em plena Segunda Guerra Mundial e veio o papel de Mortimer Brewster em “Esse Mundo é um Hospício”, de Frank Capra. O filme trazia Grant como um relutante membro de uma família de loucos e assassinos no dia de seu noivado. Pelo papel, Grant recebeu uma boa quantia que doou ao esforço de guerra.

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ESSE MUNDO É UM HOSPÍCIO

Nos bastidores, Grant era minucioso com todos os estágios de filmagem e isso lhe dava problemas com os diretores, sendo notório conflitos de opinião entre o astro e diretores como Leo McCarey (seu diretor em “Cupido é Moleque Teimoso”) e Frank Capra (seu diretor em “Esse Mundo é um Hospício”). Surpreendentemente, teve um ótimo relacionamento com o mestre do suspense, Alfred Hitchcock – notório por desprezar os atores com quem trabalhava. Com Hitch, Grant fez quatro filmes. Em 1941, “Suspeita” (Suspicion) que seria seu primeiro vilão. O papel de um marido com intenções assassinas com sua esposa interpretada por Joan Fontaine desagradou ao estúdio que forçou Hitchcock a editar o final de forma que Grant não fosse o assassino, pois isso não estava de acordo com a imagem do astro. Em 1946, “Interlúdio” (Notorious) contracenando com Ingrid Bergman e Claude Rains.

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CARY GRANT & EVE MARIE SAINT: INTRIGA INTERNACIONAL

O papel de Grant era de um agente federal, usando a filha de um nazista para expor espiões infiltrados. Em 1955 Grant se dizia cansado de atuar e pensando em se aposentar, mas reformulou seus planos para trabalhar sob a batuta de Hitch em “Ladrão de Casaca” (To Catch a Thief), filmado na Riviera Francesa com Grace Kelly. Finalmente, em 1957 “Intriga Internacional” (North by Northwest), um dos melhores filmes de espionagem, um dos meus favoritos, trazendo o ator no papel de homem comum envolvido em uma trama conspiratória, o que serviria de modelo para vários filmes do gênero. Quando, anos depois, Ian Fleming teve os livros de James Bond adaptados para o cinema, seu nome era um dos favoritos para interpretar 007.

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ALFRED HITCHCOCK & CARY GRANT

Duas vezes indicado ao Oscar, a primeira por “Serenata Prateada” ( Penny Serenade) em 1941, um melodrama sobre casal (Grant contracenando com Irene Dunne) que adota uma criança advindo um trágico desfecho e “Apenas um Coração Solitário” (None but the Loney Heart) em 1944 sobre um homem com o coração amargurado pela pobreza. A estatueta dourada só foi para suas mãos em 1970, um prêmio pelo conjunto da obra, entregue por Frank Sinatra ao astro emocionado com o reconhecimento de seus pares.

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DEBORAH kERR & CARY GRANT: TARDE DEMAIS PARA ESQUECER

Entre outros de seus grandes filmes, digno de nota também a comédia “Jejum de Amor” (His Girl Friday) de 1941, uma adaptação da peça de Ben Hetch & Charles MacArthur em que Grant é um editor picareta tentando atrapalhar os planos de casamento de sua melhor repórter, que por um acaso também é sua ex-esposa; o drama “A Canção Inesquecível” (Night & Day) de 1946 – cinebiografia do compositor Cole Porter; o romance “Tarde Demais Para Esquecer” (An Affair to Remember) de 1957, que revisto hoje se encaixa perfeitamente no estilo emotivo de Nicholas Sparks e “Charada” (Charade) de 1963 de Stanley Donen que segue os passos do thriller hithcockiano.

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CARY GRANT & AUDREY HEPBURN : CHARADA

Em cena Cary Grant sempre esteve cercado de belas atrizes: Ginger Rogers e Marilyn Monroe em “O Inventor da Mocidade” (Monkey Business) de 1952, Leslie Caron em “Papai Ganso” (Father Goose) de 1964, Jayne Mansfield em “O Beijo da Despedida” (Kiss me Goodbye) de 1957, Doris Day em “Carícias de Luxo” (That Touch Of Mink) de 1962,  Ingrid Bergman em “A Indiscreta” (Indiscreet) de 1968 e Sophia Loren em “Orgulho & Paixão” (The Pride & The Passion) de 1957 e “Tentação Morena” (Houseboat) de 1958.  Bergman se tornou sua grande amiga e quando ela estava exilado de Hollywood coube a Grant receber o Oscar por ela quando a bela sueca ganhou por “Anástacia” em 1956. Já Sophia Loren foi uma louca paixão para Grant, que a assediava e cortejava até que a italiana viesse a se casar com o produtor e diretor Carlo Ponti.

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CARY GRANT & GRACE KELLY ; LADRÃO DE CASACA

Na vida real, Grant se casou mais quatro vezes depois de Virginia Cherril (1934-1935): Barbara Hutton (1942-1945), Betsy Drake (1949-1962), Dyann Cannon (1965-1968) e Barbara Harris (1981-1986). Teve uma única filha, Jennifer Grant (de seu penúltimo enlace) nascida em 1966, ano de seu último filme “Devagar, não corra” (Walk, don’t Run). A partir daqui, Grant se aposentou voluntariamente do cinema e tornou-se um dos diretores da Fabargé, famosa joalheria. Sua morte em 1986 por hemorragia cerebral, aos 82 anos, deixou saudade em todos os fans da antiga Hollywood, uma que Cary Grant incorporou em sua persona, a de um homem maduro, sexy e sofisticado que todos gostariam de ser, até mesmo o próprio Archie Leach, um ícone eterno.

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CARY GRANT & MARILYN MONROE : O INVENTOR DA MOCIDADE

ESTREIAS DA SEMANA – 24 DE NOVEMBRO

A CHEGADA

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(The Arrival) EUA 2016. Dir:Dennis Villeneuve. Com Amy Addams, Jeremy Renner, Forrest Whitaker. Ficção Cientifica.

Adaptação do conto “Story of your Life” de Ted Chiang, premiado com o Nebula e o Hugo, honrarias da literatura do gênero. Logo, mais natural que uma adaptação viesse e nas mãos de Villeneuve esta é potencializada por uma narrativa inteligente e que certamente tornará necessário assistir ao filme mais de uma vez para captar as nunces do roteiro em torno de uma visita de extraterrestres ao planeta. Uma linguista (Addams) é recrutada para desvendar uma forma de se comunicar com os seres e descobrir suas intenções. Enquanto se esforça para descobrir tudo, a personagem de Addams lida com dolorosas lembranças de seu passado, traçanndo um paralelo entre sua vida pessoal e a miss~~ao que abraça, e da qual depende o futuro do mundo. A premissa pode não ser novidade no gênero, mas a maneira como o filme se desenvolve faz a diferenç, graças aos roteiro de Eric Heisserer (O Enigma de Outro Mundo – 2011). O filme foi exibido com sucesso no Festival de Toronto e no Festival do Rio esse ano, tendo seu lançamento antecipado quando antes seria a principio para o ano que vem. É um filme voltado para fazer refletir, pensar e pode ser de dificil digestão para os amantes de explosões a cada segundo. Um elenco de primeira reunindo Renner e Addams que já trabalharam juntos antes em “A Trapaça” (American Hustle) em 2013.  Em tempo, o diretor Villeneuve é o responsável pela anunciada sequência de Blade Runner para 2017.

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(Bra 2016) Dir: Hugo Prata. Com  Andreia Horta, Lucio Mauro Filho, Caco Ciocler, Rodrigo Pandolfo. Biopic.

Lembro bem do dia em que perdemos a grande cantora Elis Regina no distante ano de 1982. O Jornal Hoje anunciava tristemente sua passagem como resultado de um acidental suicidio. Suas canções estão até hoje vivas como momentos inesqueciveis de nossa arte musical, já tendo gerado inclusive um espetaculo teatral e uma belíssima canção homenagem do saudoso Emilio Santiago. (Quem diz, quem diz … Elis). Logo, natural que pela sua importância, Elis ganhe essa cinebiografia, curta demais para abracar uma vida rica e uma carreira magnifica, mas o roteiro de Nelson Motta e Patricia Andrade consegue ser, dentro dos clichês do gênero, ser valorizado pela atuação correta de Andreia Horta e traduzir a fascinação que a Pimentinha (como era chamada) transmitia às plateias, se emocionava quando cantava, e atraia até a atenção de marcianos. Feito sob medida para o público que gosta de ouvir suas canções e quer conhecer um pouco de sua história e para aqueles que não acompanharam sua carreira, mas que se maravilharão ao descobrir que, assim como nossos pais, ainda somos os mesmos encantados pela força de sua voz imortal.

JACK REACHER : SEM RETORNO

(Jack Reacher : Never Go Back). EUA 2016. Dir: Edward Zwick. Com Tom Cruise, Cobie Smoulders. Ação.

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Adaptação da obra de Lee Child (É o 18º de um total de 21) protagonizada pelo ex-militar que se torna um detetive duro na queda ajudando aqueles que precisam. Segundo filme com o personagem estrelado por Tom Cruise, cujo físico e aparência em nada lembra o personagem dos livros, um homem mais velho e sem nenhuma pinta de galã. Claro, que isso não importa para assistir ao filme, até porque os livros de Child não são tão populares no Brasil. Reacher (Cruise) ajuda uma amiga (Smoulders) acusada de crimes miltares e desvenda uma trama conspiratoria. A estrela Cobie Soulders é reconhecida da sitcom “How I met Your Mother” e como a agente Maria Hill de “Vingadores”), mas o foco é claro são as ações de Reacher, tão impossiveis quanto as do agente Ethan Hunt da outra franquia de Tom Cruise, ou seja, cinemão pipoca, sem maiores compromissos.

 

 

NUNCA ESTIVEMOS SOZINHOS – CONTATOS ALIENIGENAS NO CINEMA & NA LITERATURA

Nossa vã filosofia sempre ponderou sobre a existência de vida em outros planetas, matematicamente aceito mas nunca cientificamente provado. O cinema e a literatura costumam se apropriar da ideia e explorá-la ao sabor da criatividade e da ilimitada imaginação.

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Em 1953 Arthur C.Clarke (autor de “2001 – Uma Odisséia no Espaço”) publicou “O Fim da Inocência” (Childhood Ends) sobre uma invasão de extraterrestres que cria na Terra um governo global, único e pacífico. Os seres jamais são vistos e proíbem as viagens espaciais além de banir as armas de fogo, relegando a humanidade a uma existência dedicada às artes e ciência. Um grupo de resistência se forma para buscar a verdade sobre os visitantes. Publicado em pelo período da guerra fria, o livro de Arthur C. Clarke questiona o preço da paz, na mesma medida que tanto investiga a natureza dos visitantes quanto discorre a respeito de nossa própria natureza ao sermos confrontados com o fim do livre-arbítrio. Em 2015, uma mini-série de Tv foi produzida adaptando a obra, que ainda não teve uma versão para o cinema à altura desta ou de seu autor. Dois anos antes da publicação do livro, Robert Wise filmou e lançou “O Dia em que a Terra Parou” (The Day The Earth Stood Still) mostrando a chegada do alienígena Klaatu, que vem  ao nosso planeta para trazer um importante alerta do qual depende o futuro da raça humana. Muito melhor que a refilmagem de 2008 com Keanu Reeves, o filme de 1951 causou grande assombro com sua mensagem anti-belicista em plena era do Macartismo. O escritor britânico H.G.Wells foi o primeiro, no entanto, a mostrar os efeitos de uma vista extraterrestre no clássico “A Guerra dos Mundos” (The War of The Worlds) publicado em 1898, e adaptado em 1953 e 2005. Mas, em vez de divagações filosóficas sobre a vida em outros planetas, o livro de Welles traça um paralelo crítico do imperialismo inglês. Outro contato devastador com alienígenas foi narrado pelo autor Jack Finney em “Invasores de Corpos” (The Body Snatchers) de 1955. Nele, os extraterrestres são incorpóreos e assumem a forma humana quando as pessoas adormecem. A história já foi filmada várias vezes, mas as melhores versões são as filmadas em 1956 e 1978.

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A ufologia, ciência não reconhecida devido ao seu caráter especulativo, já serviu de inspiração para o campo da ficção como na série “Arquivo X”, tratando de avistamentos, abduções, experiências secretas e outros fenômenos não explicados pela ciência. O renomado cientista norte americano Professor J. Allen Hynek (1910-1986) formulou uma gradação para medir os fenômenos ufológicos considerando primeiro grau para os avistamentos à distância, segundo grau para os efeitos físicos gerados pelo encontro e terceiro grau para a comunicação com os eventuais tripulantes de um disco voador. Deste último, Steven Spielberg aproveitou-se para o ótimo “Contatos Imediatos do 3º Grau” (Close Enconters of the Third Kind) de 1978, que teve o próprio Professor Hynek como um dos consultores. O realismo e a seriedade com que o tema é tratado impressiona, assim como foi o romance “Contato” (Contact) escrito por Carl Sagan em 1983 e filmado em 1997. Na obra de Sagan ceticismo e fé formam dois polos conflitantes em torno dos quais os personagens se veem divididos quando uma mensagem vinda do distante sistema Veja chega à Terra.

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AGRÓGLIFO

Mensagens de seres de outros mundos são como são tomados as Linhas de Nasca na Cordilheira dos Andes e os agróglifos (círculos nas plantações) observados em várias partes do mundo, principalmente no Reino Unido, e que já ganharam versão romanceada no cinema em “Sinais” (2003) de M.Nigh Shymalan. Há registros de tais círculos desde o século 17, mas sua popularização se deu a partir da década de 70, embora nunca tenham sido provados como sendo de origem extraterrestre, os belos desenhos vistos do alto já foram associados a fenômenos naturais, ação do homem, ou alienígenas. Estes, entraram definitivamente para cultura pop e conforme “Homens de Preto” (Men in Black) de 1997, já estão entre nós há muito tempo. Os afeitos a tramas conspiratórias acreditam que o governo americano mantem seres de outro planeta em cativeiro e que manipulam em segredo tecnologia alienígena. Casos como Roswell, Tunguska e até mesmo em Varginha, Minas Gerais inflamam a mente embora o governo negue a todo momento, mas ainda assim fazem pesquisas na misteriosa Área 51 no deserto de Nevada, onde qualquer um que se aproxima é fuzilado em nome da segurança nacional. O roteirista e ator Simon Pegg curtiu a ideia de invadir as imediações do local e encontrar um genuíno ser extraterrestre em “Paul – O Alien Fugitivo” (Paul) de 2011, uma parodia do “E.T” (1982) de Steven Spielberg.

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A verdade, que buscamos, está em algum lugar e um dia chegará e talvez possamos encontrar um sentido similar à saudação KLATU BARADA NIKTO, ou ainda esteja para ser escrito, encenado, montado no campo da ficção uma visão mais próxima da chegada desse futuro.

CLÁSSICO REVISITADO : OS 60 ANOS DE “O PLANETA PROIBIDO”

Um dos maiores clássicos da ficção científica completou esse ano 6 décadas , sendo lamentavelmente um dos menos reprisados na TV, o que afastou o grande público de uma das melhores obras do gênero. Eu assisti a esse filme cult de ficção cientifica quando eu era um adolescente, e achei impressionante a semelhança com “Star Trek”: A tripulação de uma nave espacial viajando a um planeta longínquo onde enfrenta uma ameaça que jamais imaginariam. O formato Cinemascope deu ao filme um atrativo a mais na época de seu lançamento, quando a ficção científica ainda era vista como um filme B, sem grandes pretensões da parte dos estúdios. A Metro, no entanto, investiu cerca de US$1.900,000, uma quantia alta para um filme do gênero em 1956.

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O cartaz original do filme na época trazia  Robby O Robô carregando a atriz Anne Francis nos braços. O impacto dessa imagem mexeu com o imaginário popular e Robby, o robô tornou-se uma celebridade na ficção científica aparecendo no cinema (Depois de “O Planeta Proibido”, o personagem apareceu ainda em “O Menino Invisivel” de 1957), e principalmente na Tv em episódios de séries como “Columbo”, “Além da Imaginação” e “Perdidos no Espaço” (sendo que esta teve Robert Kinoshita, o criador de Robby,  como responsável pela direção de arte da série de Irwin Allen).

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O roteirista Cyril Hume buscou inspiração na clássica história “ A Tempestade”, considerada a última peça escrita por William Shakespeare. Nela, Próspero e Miranda habitam uma ilha remota, onde foram exilados por Antonio, irmão de Próspero, que lhe usurpara o trono de seu reino. O ex monarca atrai Antonio e os demais traidores para a ilha como forma de se vingar de todos, e devolver o trono a sua filha, a legítima herdeira. No filme, dirigido por Fred M. Wilcox, Próspero e Miranda são respectivamente o Dr.Morbius (Walter Pidgeon) e sua filha Altaira (Anne Francis), últimos sobreviventes da nave Belerofonte (nome do herói mitológico que derrotou a quimera) que chegaram há algum tempo no distante planeta Altair IV. A história do filme começa com o resgate empreendido pelo Capitão J.J.Addams (Leslie Nielsen) à bordo da nave C57D. Addams, no entanto, encontra Morbius relutante pelo resgate e obcecado em desvendar os mistérios dos Krell, a antiga civilização nativa há muito extinta, mas que deixou maravilhas tecnológicas.

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Na peça do Bardo de Stratford Upon Avon Caliban é o nome do criado obediente e disforme de Próspero, que no filme torna-se Robby, uma figura mais condizente com o ano de 2200, e também mais atraente para a imaginação do grande público fascinada por robôs, e estimulada na literatura por livros como “Eu Robô” de Isaac Azimov, publicada seis anos antes de filme. Os poderes mágicos de Próspero que manipulam, criam ilusões e até invocam a tempestade do título shakespeariano, ganham no filme a forma de uma terrível e misteriosa força destrutiva que ameaça a vida de todos. Esta ganhou no filme a sustentação da teoria freudiana, segundo a qual o ser humano é movido por pulsões relacionadas ao sexo e à agressividade instintiva, inerente à nossa natureza. No filme, a bela Altaira representa o primeiro, enquanto a energia do id representa o segundo. A história faz uso das noções freudianas que retratam a formação da psique humana, dividida entre projeções de instinto e auto-controle, a dicotomia entre o intelecto superior e o ódio destrutivo que podem vitimar um individuo ou uma civilização inteira. O questionamento advindo conduz a um vislumbre dos limites de desenvolvimento científico e do freio moral a que somos submetidos.

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Indicado para o Oscar de efeitos especiais, o filme perdeu para “Os Dez Mandamentos” , tendo sido também indicado ao Saturn Awards. Em 2013, o filme foi escolhido para ser preservado pela comissão de historiadores do National Film Preservation Board. Foi também o primeiro grande filme de estúdio a utilizar inteiramente na trilha musica eletrônica, composta por Louis Barron e Bebe Barron em apenas três meses. O sucesso de “O Planeta Proibido” veio a trazer maior respeitabilidade para a ficção científica no cinema, afastando o estigma de filme B, o que seria coroado em definitivo 12 anos depois com “2001 Uma Odisseia no Espaço” de Stanley Kubrick.

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O diretor Fred M. Wilcox não tinha em seu currículo outros filmes do gênero, vindo de filmes da cadela Lassie. Walter Pidgeon (1897 – 1984) era ator de prestígio no cinema. Já Leslie Nielsen (1926 – 2010) começou a carreira como galã, mas ficou mundialmente conhecido com as comédias feitas na década de 80 e 90 como “Apertem os Cintos o Piloto Sumiu” e “Corra que a Polícia Vem Aí”.  Warren Stevens se tornou rosto conhecido em papeis secundários geralmente na TV e no cinema. A bela Anne Francis surgiu aqui como jovem estrela em ascenção, e na década de 60 estrelou a série “Honey West”, mas fora isso não teve carreira mais ilustre apesar da beleza. O filme vem sendo constantemente citado como possível refilmagem, o que caberia bem nas mãos de um realizador criativo como J.J.Abbrams ou Christopher Nolan. Contudo, nada foi ainda concretizado, ficando a esperança que o filme original possa ser redescoberto pela nova geração.

 

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ESTREIAS DA SEMANA: 17 DE NOVEMBRO

ANIMAIS FANTÁSTICOS & ONDE HABITAM.

(Fantastic Beasts & Where to Find Them) EUA 2016. Dir: David Yates. Com Eddie Redmayne, Ezra Miller, Ron Perlman, Colin Farrell, Jon Voight. Fantasia.

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São cinco anos depois do fim da saga de Harry Potter no cinema e estamos de volta ao universe mágico de J.K.Rowling com essa história que se passa 70 anos antes de Potter. A própria J.K.Rowling roteiriza a adaptação de seu livro, publicado originalmente em 2001,  sobre o escritor bruxo Newt Scamander (Redmayne) que em suas viagens coleta criaturas mágicas em sua maleta até que elas se soltam na Nova York dos humanos de 1926. O nome do protagonista aparece no mapa do maroto que aparece em “Harry Potter & O Prisioneiro de Azkaban” (2003), mas apesar de ser um livro fictício dentro dos filmes do famoso bruxinho de Hogwarts,  a nova obra tem personalidade própria, com um protagonista adulto enfrentando ameaças do mundo dos trouxas bem como uma terrível seita que quer eliminar os bruxos. “Animais Fantásticos …” a principio seria adaptado em três filmes, mas recentemente foi divulgado que serão cinco filmes, logo a história será esticada pela autora. Todos serão dirigidos pelo mesmo David Yates que comandou os últimos quatro filmes de Harry Potter. Curiosamente, o protagonista da nova aventura fez testes para o papel de Tom Riddle em “Harry Potter & a Câmera Secreta” em 2002. Seu nome tornou-se mais conhecido depois que protagonizou “A Teoria de Tudo” (2015) e “A Garota Dinamarquesa” (2016).Ainda no elenco Ezra Miller que será o Flash da Liga da Justiça e Ron Perlman, o Hellboy.

UM ESTADO DE LIBERDADE

(Free State of Jones). EUA 2016. Dir: Gary Ross. Com Mathew McGoughney, Keri Russell. Drama Histórico.

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História de um fazendeiro que torna-se líder do exército confederado durante a guerra civil americana. Com o tempo Newton Knight (McGhoughney) e seu exercito decidem lutar por um estado independente na America.

MICHELLE & OBAMA

(Southside with You) EUA 2016. Dir: Richard Tanne. Com Parker Sawyers, Tika Sumpter, Philip Edward Van Lear, Vanessa Bell Calloway. Biopic.

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Com a recente eleição do republicano Donald Trump é curioso rever o romance de Barack Obama e Michelle antes de se tornarem presidente e primeira dama dos Estados Unidos. O filme faz um recorte na vida de ambos na virada dos anos 80 para 90 antes de Obama se eleger senador. O filme concorreu no Festival de Sundance de 2016.

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(Elle) FR/ALE/BEL 2016. Dir: Paul Verhoven. Com Isabelle Huppert, Laurent Lafitte, Anne Consigny. Drama / Suspense.

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Baseado no livro “Oh” de Philippe Dijan, o filme é dirigido por Paul Verhoven, diretor de “Robocop” (1987) e “Instinto Selvagem” (1994). Mulher (a excelente Huppert) é atacada em sua casa por um homem que invade sua residência, mas deixa sua identidade em segredo. Depois passa a suspeitar que seu algoz é alguém próximo.

IN MEMORIAN : ROBERT VAUGHN

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COM MUITA TRISTEZA DEIXO AQUI UMA PEQUENA HOMENAGEM AO ATOR ROBERT VAUGHN (22 DE NOVEMBRO DE 1922 – 11 DE NOVEMBRO DE 2016) CUJA PASSAGEM SE DÁ HÁ POUCOS MESES DEPOIS DO LANÇAMENTO DA REFILMAGEM DE “SETE HOMENS & UM DESTINO”, CUJO FILME ORIGINAL TEVE VAUGHN COMO UM DOS INTEGRANTES. O ATOR É MELHOR LEMBRADO POR SEU PAPEL DE NAPOLEÃO SOLO, O ESPIÃO DA SÉRIE DE TV “O AGENTE DA UNCLE” (1964 – 1968). LEMBRO BEM DELE EM OUTROS PAPEIS JÁ QUE SUA CARREIRA FOI PROLÍFICA INCLUINDO NO CINEMA  COMO EM “MERCENÁRIOS DAS GALÁXIAS”, “INFERNO NA TORRE”, “BULLIT”, “HANGAR 18” E NA TV EM SÉRIES E MINI-SÉRIES COMO “CENTENNIAL”, “HAWAI 5-0”, “THE NANNY” ETC… DESCANSE EM PAZ

FATOS & FILMES: AGONIA& ÊXTASE – A PINTURA DA CAPELA SISTINA

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Hoje, 11 de Novembro completam 504 anos da abertura ao público da Capela Sistina com os afrescos pintados pelo mestre renascentista Michelangelo. Para o devido registro, um afresco é uma pintura feita sobre uma superficie com base de argamassa ou gesso. A obra foi encomendada pelo Papa Julius II ao artista que estava relutante em aceitar o serviço que veio a entrar pela história como uma das grandes obras primas artisticas, um legado da humanidade. Michelangelo não se enxergava como um pintor, e sim como escultor. A encomenda, no entanto, era um desafio além de ser bem paga pela igreja.

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A relação entre o artista e o Papa era muito conflituosa. Na época a figura do Papa era muito mais austera, com poder político incontestável , o qual Julius II usa para pressionar Michelangelo a concluir a encomenda , de representar no teto da Capela os episodios do livro do Gênesis. Esta foi construída bem antes, seguindo o estilo arquitetônico do Templo de Salomão, e batizada em homenagem ao Papa Sisto IV, que era tio de Julius II. O escritor Irving Stone passou meses em Roma para pesquisar tudo a respeito e teve acesso a cartas escritas pelo próprio Michelangelo. Com esse material, o autor escreveu o livro “Agonia & Êxtase”, publicado em 1959, e  seguido à risca pelo roteirista Philip Dunne que o adaptou para o cinema em 1965, com direção de Carol Reed.

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O filme realizado pela Twentieth Century Fox teve o orçamento em torno de US$ 10.000.000. A principio Spencer Tracy (O Médico & O Monstro, O Velho & o Mar) seria o Papa, papel que ficou com Rex Harrisson. Este se recusou a deixar crescer a barba como o verdadeiro Julius II. Já Charlton  Heston usou maquiagem para fazer seu nariz ficar mais parecido com seu personagem. Curiosamente, Heston e Harrisson tiveram um convivio nada amistoso durante as filmagens, o que seu diretor gostou de forma a reforçar a rivalidade entre os personagens. A capela foi recriada em estudio (Dinocitta em Roma) e teve uma cenografia e fotografia belíssimas  O filme é vigoroso graças a essa hostilização entre Heston e Harrisson, dois grande atores que se entregam a seus personagens.

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Apesar de ser um ótimo filme, este foi mal nas bilheterias arrecando nas bilheterias americanas apenas US$ 4,000.000. Ainda assim recebeu indicação a cinco Oscars (melhor figurino, melhor direção de arte, melhor som, melhor fotografia e melhor trilha sonora, a cargo de Alex North). Também foi indicado a dois Globos de Ouro. Eu assisti ao filme na Globo há muito tempo e adoraria ter a oportunidade de revê-lo, um exemplar de uma Hollywood que deixou marcas históricas.

 

ESTREIAS DA SEMANA: 11 DE NOVEMBRO

HORIZONTE PROFUNDO – DESASTRE NO GOLFO

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(Deepwater Horizon) Dir: Peter Berg. Com Mark Whalberg, Kurt Russell, Kate Hudson, Dylan O’Brian, John Malkovich.

Baseado em fatos reais, o filme narra a explosão da plataforma petrolífera Deepwater Horizon no Golfo do México, em 20 de Abril de 2010. Os operários e técnicos lutam contra o tempo, não apenas por sua sobrevivência, mas também para evitar o desastre ecológico decorrente dos milhões de barris de petróleo que são consequentemente jogados ao mar. Na vida real foram 12 dias de luta para evitar o pior. Para o filme uma plataforma de petroleo foi construída na Louisianna para as filmagens. É a primeira vez que Kate Hudson e Kurt Russell (ele é seu padrasto na vida real) trabalham juntos em um filme, embora eles só dividam uma única cena juntos. Também é a segunda vez que o diretor Peter Berg e Mark Walbergh trabalham juntos, tendo feito em 2013 “O Grande Heroi”.

SNOWDEN – HERÓI OU TRAIDOR

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(Snowden) Dir: Oliver Stone. Com Joseph Gordon-Levitt, Shailene Woodley, Nicolas Cage. Biopic.  

Gosto muito de filmes biográficos pois dão a oportunidade de ter um vislumbre da vida de pessoas que ganharam notoriedade. Essa é uma das polêmicas, o analista e ex-agente da CIA Edward Snowden que , em 2013, denunciou as atividades de contra-espionagem, incluindo assuntos de segurança nacional, o que o transformou em inimigo público número um, se exilando posteriormente na Russia. O filme se baseia nos livros   “Time of the Octupus”, de Anatoly Kucherena e “The Snowden Files: The Inside Story of the World’s Most Wanted Man”, do repórter Luke Harding, do jornal inglês The Guardian, para o qual Snowden originalmente mandou suas denuncias. Parece natural que Oliver Stone, sempre afeito a figuras e fatos polêmicos, tenha se interessado em contar a história de Snowden.

O NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO

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(Birth Of a Nation) Dir: Nate Parker. Com Nate Parker, Armie Hammer, Jackie Earle Haley, Dwight Henry. Drama

Já houve um filme com o mesmo nome e que entrou para a história por ter sido – em 1915 –  o primeiro longametragem a desenvolver uma dramatização, ainda no período do cinema mudo. Contudo, os dois filmes não poderiam ser mais diferentes. O filme de 1915, dirigido por D. W Griffith era uma apologia do racismo enaltecendo a Ku Klux Khan. O atual, escrito, dirigido e protagonizado por Nate Parker vai na direção oposta e mostra um ex escravo que faz uso da fé como combustível para liderar revolta contra a escravidão de seu povo. O filme venceu o Festival de Sundance do ano. A rebelião em Virginia retratada no filme realmente aconteceu em 21 de agosto de 1831, mas claro que algumas liberdades foram tomadas e relação ao fato real : O verdadeiro Nat Turner não tinha uma mulher que fora atacado por homens brancos, sendo esse o artificio do roteiro para dar ao personagem Nat Parker um fator motivador.  Diga-se aqui que o ator e diretor Nate Parker foi acusado de estupro , há pouco tempo atrás, o que deixou uma mácula para a recepção do filme pelo público, embora ele tenha sido inocentado.

DR.ESTRANHO NAS HQS E NA TV

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Com o sucesso mundial de Harry Potter na literatura e no cinema, nada mais relevante que haja um super- herói com poderes de um bruxo. Não foi, no entanto, Stan Lee quem criou o primeiro herói místico das HQs, mas sem dúvida seu toque de Midas se fez sentir em Junho de 1963, quando foi publicado o título “Strange Tales #110”. A estreia do mago supremo do universo Marvel não teve alarde, dividindo as páginas da revista com o já popular Tocha Humana. A história de 8 páginas, contudo, não mostrava sua origem. Esta só foi publicada 4 meses depois: Stephen Vincent Strange era um conceituado e arrogante neurocirurgião que sofre um terrível acidente que incapacita o movimento de suas mãos. Inconformado com a situação e relutante em se tornar um mero clínico, Strange busca um tratamento alternativo para reverter sua condição, quando descobre no Tibet a figura do Ancião, um homem sábio com poderes sobrenaturais. A visita abala a visão de mundo de Strange, que descobre que o Barão Mordo, discípulo do Ancião, planeja matá-lo depois de ter sido seduzido pelo poder maligno de Dormammu, senhor absoluto de uma dimensão do mal. Strange é enfeitiçado para não poder revelar o que descobriu, e por gratidão ao Ancião, pede que este o treine. Assim começa o caminho de Strange pelas artes místicas, tudo maravilhosamente diagramado pela arte de Steve Dikto.

AS INFLUÊNCIAS

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ESTREIA DO PERSONAGEM NO BRASIL

Segundo o próprio Lee, foi de Dikto (co- criador do Homem Aranha) a ideia para criação do personagem místico, um herói não saído da pseudociência de Lee, mas da magia. Antes do bom doutor, no entanto, outros heróis já demonstravam habilidades sobrenaturais como o “Dr.Oculto” (Doctor Ocult), criado em 1935 por Jerry Siegel e Joe Shuster (os criadores do Superman) ou o mágico “Mandrake” de Lee Falk de 1934. Estes, no entanto, agiam em suas histórias como um detetive com habilidades mágicas. Ainda houve em 1940 o “Senhor Destino” (Dr. Fate) , criado pela dupla Gardner Fox e Howard Sherman, um feiticeiro super poderoso que se aliou a outros herois para combater as forças do mal. Contudo, ao lapidar a ideia de Dikto, Stan Lee buscou inspiração mesmo em “Chandu – o Mágico”, programa de rádio que, por volta de 1932 , seria transformado em seriado interpretado pelo hoje desconhecido Edmund Lowe,  e depois, por Bela Lugosi. Chandu era um ilusionista que age em segredo como espião fazendo uso de suas habilidades.

 O PROCESSO CRIATIVO

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O PERSONAGEM DE MÁSCARA

Lee adicionou frases de efeito para dramatizar os encantamentos do mago que, em suas histórias, frequentemente invocava as faixas escarlates de Cyttorak, os sete anéis de Raggadorr ou o olho de Agamotto, um poderoso amuleto que amplia os poderes do mago. O herói também usa o livro de Vishanti que contem vários feitiços que o Dr.Estranho conjura e o manto da levitação que lhe permite voar. A principio as histórias de Estranho eram secundárias, contadas em breves páginas, já que o Tocha Humana era a estrela de “Strange Tales”. O personagem ainda nem mesmo usava seu manto de levitação.

Lee e Ditko ficaram juntos por três anos explorando roteiros dramáticos, diálogos bem conduzidos em cenários e cores psicodélicas para retratar limbos, universos paralelos e até o próprio inferno. A arte de Dikto explorava tons surrealistas que, de acordo com o historiador Bradford Wright, lembra as pinturas de Salvador Dali. Com a saída de Dikto, e posteriormente do próprio Stan Lee, substituído por Roy Thomas, o personagem foi desenhado por Bill Everett (criador de Namor), Marie Severin e Gene Colan que assume o título solo do herói (renomeando a antiga “Strange Tales” a partir de Fevereiro de 1969), que dura apenas 15 edições. As histórias do período refletem todo um interesse por misticismo que se seguiu ao final dos anos 60, e as aventuras de Strange envolvendo divindades egípicias ou sumérias ecoavam o interesse do ocidente pelas religiões orientais. Na edição “Doctor Strange #177” Thomas & Colan, em uma tentativa de estimular as vendas do título colocam uma máscara no herói feiticeiro fazendo sutis modificações em seu uniforme, que perdurariam por sete edições.

 AS AVENTURAS

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DR.OCULTO – PREDECESSOR DO DR. ESTRANHO

Na década de 70, o personagem perdeu seu primeiro título solo passando a ser publicado em dois títulos : “Marvel Premiere” (entre 1972 e 1974) e na “Marvel Feature” onde o herói se juntou ao Hulk e Namor e formaram a equipe dos Defensores, criado por Roy Thomas. Mas, diferente dos populares Vingadores, os Defensores pareciam se hostilizar e sua união só se justificava pela conveniência  de uma ameaça em comum, sem o espírito de camaradagem da equipe do Capitão América. Mais tarde, o roteirista Steve Englehart assumia o título da equipe e escreveria um confronto clássico “Vingadores X Defensores”.

A década de 70 ainda teria o segundo título solo do heroi “Dr.Strange: Master of the Mystical Arts”, que duraria 81 edições. Nessa fase, o mago enfrentaria Drácula, se apaixonaria pela discípula Clea e viajaria pelo tempo em mais de uma ocasião. As artes de Frank Brunner e Gene Colan se destacaram pela inventividade. O primeiro, junto com Steve Englehart, causaria um embaraço à Marvel quando em um arco de histórias entitulado “Sise-Neg” (Genesis escrito ao contrário) Strange, depois da morte do ancião, assume o manto de mago supremo,  viaja ao início do universo e encontra Deus. Os editores da Marvel pediram que os autores se desculpassem em carta e alegassem que não Deus. Englehart e Brunner escreveram uma carta falsa à editora enviada do Texas de um pastor fictício elogiando a história, levando os editores a desistir da ideia.

Na década de 80, o roteirista Roger Stern ficou à frente do título do herói com vários desenhistas se revezando como Paul Smith, Marshall Rogers, Bret Blevings, Kerry Gammill, Michael Golden, Sal Buscema, Gene Colan entre outros. Stern soube equilibrar a vida pessoal de Stephen Strange com aventuras cósmicas. O autor conseguiu explorar bem o elenco coadjuvante das histórias como o assistente Wong, a namorada Clea e introduziu uma nova personagem, Morgana Blessing, que vem a se tornar discípula de Strange. Na edição # 53 de “Doctor Strange”, publicado em “Heróis da TV #91”, o Dr.Estranho viaja ao passado e revisita o primeiro encontro do Quarteto Fantástico com o Faraó Rama Tut, reproduzindo a história originalmente publicada em “Fantastic Four #19” de outubro de 1963, colocando o mago na posição de um observador do futuro. Coube a Stern também uma das melhores histórias do herói, desenhada por Mike Mignola (o criador de Hellboy). Na graphic novel “Triunfo & Tormento” Estranho se alia ao Doutor Destino (inimigo mortal do quarteto fantástico) em uma jornada ao inferno para resgatar a alma da mãe do vilão.

Mais recentemente, Strange juntou-se aos Novos Vingadores, esteve envolvido com os Ilumminati (grupo secreto de heróis) e perdeu o título de mago supremo da terra para o Irmão Vudu. Após os eventos Guerra Civil e Invasão Secreta, muita coisa mudou no status quo dos personagens Marvel e com o Dr.Estranho não foi diferente. O roteirista Jason Aaron mudou o visual do mago colocando um machado em sua mão.

O HEROI NO BRASIL

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O DR. ESTRANHO NA TV

No Brasil, o herói foi rebatizado de “Dr.Mistério” quando publicado pela Editora M&C, mas a revista só durou duas edições. Quando ressurgiu pela primeira vez com seu nome corrigido foi no título “Os Defensores” (The Defenders) #1 da Editora Bloch. Em Abril de 1979, a RGE trouxe o personagem ao Brasil em aventuras solo, primeiro no título “Almanaque Marvel #1”, da Editora RGE, em uma aventura conjunta com o Homem-Aranha extraído de “Marvel Team Up #21” originalmente publicada em 1974. O curioso dessa história é que os dois heróis encontram … Xandu, o mágico. No mês seguinte a RGE publicou a clássica “Dr.Strange #169” em “Almanaque Marvel #2”. O material da “Marvel Premiere” veio a ser publicado pela Editora Abril em 1982 no título “Superaventuras Marvel” a partir da segunda edição desta. A origem do herói, no entanto, apareceu nas páginas da edição comemorativa “Herois da TV #100”(segunda série), da Editora Abril. O mesmo título publicou na década de 80 as elogiosas histórias escritas por Roger Stern.

 A PRIMEIRA ADAPTAÇÃO

A década de 70 ainda teve a primeira tentativa de adaptar o personagem para um filme live-action. Em 1978, a MCATV, divisão televisa dos estúdios Universal vinha tendo muito sucesso com a série do “Incrível Hulk” estrelada por Bill Bixby e Lou Ferrigno. Com intenção de realizar um série do Doutor Estranho, a MCA encomendou um piloto dirigido por Philip Deguerre com consulta do próprio Stan Lee. O ator Peter Hooten fez o papel principal com várias mudanças em relação à HQ: No filme, Stephen Strange é psiquiatra e não neurocirurgião, não há a figura do Ancião, o uniforme do herói ostenta uma estrela no peito, desenvolvido pelo próprio Frank Brunner, um dos melhores artistas a trabalhar com o personagem. Seu antagonista é a mitológica bruxa Morgana (Jessica Walters), das lendas Arturianas. Dos coadjuvantes das HQs estão apenas o assistente Wong (Clyde Kusatsu) e a discípula e namorada Clea (Anne Marrie Martin). Na história do filme, Morgana possui o corpo de Clea em uma tentativa de matar o mago supremo e tomar seus poderes no processo. A fraqueza de Morgana é se apaixonar por Strange. Na época, Stan Lee estava bastante entusiasmado com o filme, sendo que o resultado foi muito abaixo do esperado, principalmente levando em conta que o filme foi exibido no mesmo dia e horário que a premiada mini-série “Raízes” (Roots). No Brasil, o filme chegou a ser exibido pela Rede Globo. A chegada do novo filme estrelado por Benedict Cumberbatch certamente popularizará o personagem diante de uma nova geração, mas que ninguém duvide que o verdadeiro mago supremo da terra sempre foi Stan Lee.

 

NOVEMBRO ESTRANHO

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               AMIGOS DO BLOG. LAMENTAVELMENTE NÃO POSTEI TODOS OS ARTIGOS PRETENDIDOS CONFORME EU HAVIA ANUNCIADO. É TAREFA HERCÚLEA SOZINHO ESCREVER, REVISAR OS ARTIGOS QUE ESCREVO, DIAGRAMAR AS PÁGINAS E TODO O RESTO PARA MANTER ATUAL O BLOGCINEONLINE. NÃO ESTOU RECLAMANDO. GOSTO, É UM DESAFIO E TANTO QUE PARA VOCÊS,  LEITORES DO BLOG, VALE A PENA. NOVEMBRO COMEÇA COM A ESTREIA DE DR.ESTRANHO, MAS TAMBÉM EM BREVE TEREMOS O AGUARDADO ANIMAIS FANTÁSTICOS & ONDE ELES HABITAM”, ADAPTANDO O UNIVERSO MÁGICO DE j.k.ROWLING, QUE NOS MOSTRA QUE HÁ VIDA ALÉM DE HARRY POTTER. ESSE MÊS TAMBÉM TEREMOS ANDREIA HORTA EM UMA GRANDE PERSONIFICAÇÃO DE ELIS REGINA NO BIOPIC “ELIS” QUE PROMETE. EM MEIO AOS ARTIGOS JÁ PROMETIDOS QUE SERÃO POSTADOS AGORA EM NOVEMBRO CORRENTE TEM MUITO MAIS , FORA A CELEBRAÇÃO DE QUATRO ANOS DO BLOG.

por Adilson Cinema