A cultura pop se rendeu aos mortos-vivos. Seja nas HQs, na TV (The Walking Dead) ou nos cinemas, o número de produções que exploram o filão dos filmes com zumbis vem crescendo. Nesta próxima sexta, dia 28 de Junho, estreia o aguardado “Guerra Mundial Z”, baseado no romance de Max Brooks (filho do comediante Mel Brooks) , que traz frente do elenco Brad Pitt cuja visita promocional ao Rio foi cancelada em virtude das manifestações da última semana. Além do filme de Pitt, aguarda-se a chegada em nossas telas de outros projetos envolvendo a luta contra os mortos que andam, inclusive a produção espanhola “Juan de los Muertos”.
O gênero não é nenhuma novidade, e em 1932 o icônico Bela Lugosi aparecia em “Zumbi Branco” (White Zombie) como um bruxo que usa poções para despertar os mortos no Haiti e que gerou, inclusive a continuação “Revolta dos Zumbis” (Revolt of the Zombies), em 1936, sem Lugosi no elenco. Os filmes com zumbis, no entanto, só viriam a se popularizar mesmo a partir de 1968 com “A Noite dos Mortos Vivos” (Night of the Living Dead) de George Romero, onde curiosamente a palavra zumbi não é dita em nenhum momento do filme que mostra um grupo de pessoas encurraladas em uma velha casa por cadáveres que saem de suas sepulturas para atacar os vivos e devorá-los. O filme, rodado com baixo orçamento (custou pouco mais de $100.000), em preto e branco,e mostrando personagens tomados pelo desespero, sem qualquer explicação aparente, movidos pelo medo e pelo instinto de sobrevivência. Romero fez seus mortos-vivos ameaçadores apesar do passo lento e sem contar com qualquer efeito sofisticado, resultando em um marco do horror cinematográfico. Deixando de lado o misticismo do filme de Lugosi, o filme de Romero sugere que a causa do despertar dos mortos seria a radiação de um satélite vindo de Vênus – mais em sintonia com a década de 60 que via a conquista espacial com um misto de fascínio e desconfiança. Curiosamente, o filme ia se chamar “A Noite de Anubis”, uma referência ao deus egípcio dos mortos, mas trocou o nome por temer que o público não percebesse. Romero voltou a esse universo apavorante estendendo o perigo para um raio de ação global em “Zumbi – O Despertar dos Mortos” (Dawn of the Dead) em 1978, que reafirmou a metáfora dos zumbis como crítica ao consumismo exacerbado ao colocar toda a ação do filme centrada em um shopping Center que serve de refúgio aos humanos sobreviventes.
Muitos anos depois, Michael Jackson assombrou o mundo com o clip “Thriller” lançado em Dezembro de 1983 e que homenageia os filmes de terror, especialmente os de Romero. A canção faz excelente uso de números de dança cuja coreografia, ritmo e a narração hipnótica da voz de Vincent Price transforma cadáveres putrefatos em exímios dançarinos e marcando toda uma geração. “Thriller” mostrou que os avanços da maquiagem (a cargo de Rick Baker de “Um Lobisomem Americano em Londres”) e dos efeitos favoreceriam uma retomada desse subgênero do horror. Dois anos depois Romero volta ao assunto em “O Dia dos Mortos” (Day Of the Dead) com melhores resultados em termos de maquiagem e efeitos e ampliando o campo de ação dos mortos-vivos em escala global restando a um grupo de militares e cientistas a defesa do mundo. Em 1985, Dan O’Bannon une o terror escatalogico ao humor em “A Volta dos Mortos Vivos” sobre um gás experimental que desperta os mortos famintos por “cérebros”. O filme chegou a ser pensado para George Romero para dirigir, mas este nunca respondeu aos convites dos produtores. No mesmo ano, O diretor Stuart Gordon adapta o conto do escritor norte-americano H.P.Lovercraft que se torna “Re-Animator” , que ainda ganha o sub-título “A Hora dos Mortos Vivos’, quando os distribuidores brasiileros assim batizavam vários filmes do gênero (A Hora do …. ) dando início ao que chamaram de “Espantomania”, popularizando o terror entre os jovens e fans do gênero. O filme ainda geraria a sequência “A Noiva do re Animator” em 1989, se distanciando ainda mais do material literário original e se aproximando ainda mais de uma paródia de “Frankenstein”.
Nos anos 90, Tom Savini – que fez a maquiagem de “Zumbi, o despertar dos mortos” – dirigiu a refilmagem de “A Noite dos Mortos Vivos” com bom resultado. Peter Jackson, futuro responsável pela trilogia de “O Senhor dos Aneis” , realiza “Fome Animal” (Braindead) em que a mordida de um macaco transforma uma mãe dominadora na primeira de uma horda de zumbis famintos por cérebros. O orçamento pobre é compensado por altas doses de humor, que voluntário ou não, chamou a atenção para o trabalho de Jackson.
Nos últimos anos, Romero voltou ao gênero em “Terra dos Mortos” (Land of the dead) em 2005, “Diário dos Mortos” (Diary of the Dead) em 2007 e “Ilha dos Mortos” (Survival of the dead) de 2009. Zach Snyder, de “Watchmen”, “300”, e do recente “O Homem de Aço”, refilma em 2004 o segundo filme de Romero, rebatizado no Brasil de “Madrugada dos Mortos” (Dawn of the dead) que consegue grande sucesso. Logo, os zumbis se espalharam por toda a mídia, principalmente depois que a indústria dos games popularizou o jogo “Resident Evil” sobre um vírus que transforma as pessoas em criaturas morto-vivas, que virou uma franquia de sucesso iniciada em 2002 e que já conta com um total de cinco filmes. Milla Jojovich tornou-se com “Resident evil” a heroína dos filmes de ação e novas sequências já são prometidos. A ideia de um vírus criando zumbis também foi aproveitada pelo inglês Danny Boyle em “Extermínio” (28 days later), que gerou sequência em 2007 “Extermínio 2” (28 weeks later). Um dos mais importantes do gênero, no entanto, é “Eu sou a Lenda” (I am the legend) de 2009, adaptação do romance homônimo de Richard Matheson, um dos maiores autores de fantasia e ficção científica falecido esta semana, que já fora adaptado duas outras vezes (1954 e 1971) e mostra o destino da raça humana nas mãos do cientista Robert Neville, único capaz de reverter o vírus que transforma os humanos em zumbis.
Com o grande sucesso da série de Tv “The Walking Dead’, baseada em uma HQ extremamente popular, parece certo que o assunto está longe de se esgotar, abrindo espaço para “Guerra Mundial Z” (World war Z). Os mortos certamente continuarão a se levantar.