Recentemente o novo CEO da Warner anunciou que manteria controle rigoroso sobres os filmes da casa; preservando, no entanto, a liberdade criativa de dois diretores: Clint Eastwood e Christopher Nolan. Este inglês, prestes a completar 47 anos (em 30 de julho), tornou-se hábil em aliar o cinema de entretenimento a um respeitável trabalho autoral. Por isso seu nome recebe um destaque que poucos conseguem na indústria, tendo 14 créditos como diretor segundo o imdb, várias indicações, como diretor e roteirista, aos principais prêmios do meio como o Golden Globe, o BAFTA e o Oscar, além de ter recebido honrarias do AFI Awards, American Cinema Editors e American Society Cinematographers entre outros.
Depois de alguns curtas, Nolan teve seu debut como diretor de longas em 1999 com “Following”, de baixo orçamento, filmado em preto e branco, em câmeras de 16mm. A história é de um escritor desempregado que segue pessoas desconhecidas em busca de inspiração para suas histórias. Esta já apresenta a estrutura não-linear que caracterizaria seus filmes seguintes. Nolan se mostra um hábil e versátil contador de histórias transitando entre os gêneros. Se “Following” flerta com a estética dos filmes noir, seus filmes seguintes passariam pelo suspense hithcockiano, o filme de super herói, a ficção cientifica e , em seu mais recente trabalho, “Dunkirk”, o filme de guerra.
Nolan explora personagens que passam por sérios abalos emocionais como o detetive Dormer (Al Pacino) em “Insônia” (2003) ou o milionário Bruce Wayne de sua trilogia Batman iniciada em 2005 com “Batman Begins”, em uma época em que a franquia do homem morcego vinha desacreditada desde o desastroso filme de Joel Schumacher. Na época, o diretor nutria um projeto de levar às telas a vida de Howard Hugues que seria protagonizado por Jim Carrey. Como na época Martin Scorcese filmou “O Aviador”, Nolan desistiu do projeto, depois recusou dirigir “Tróia” e roteirizou a adaptação do romance “The Keys to the Street” de Ruth Rendell, mas o projeto não chegou a ver a luz do dia, pois Nolan receava ser este semelhante demais aos filmes anteriores.
Buscando diversificar seus trabalhos, Nolan trouxe uma abordagem realista ao herói criado por Bob Kane. “Batman Begins” conseguiu agradar a crítica e o público trazendo Christian Bale no papel do herói mascarado que vigia uma cidade corrupta tomada pelo caos e pela criminalidade. Nolan é até hoje um dos dois únicos a dirigir uma trilogia com o mesmo super herói (Sam Raimi é o outro com o Homem Aranha). Em “Batman o Cavaleiro das Trevas” (Batman The Dark Knight) de 2008, o diretor equilibrou harmoniosamente os vários personagens da trama desenvolvendo seus dilemas e histórias pessoais, entregando uma impressionante caracterização de Heath Ledger como o Coringa, uma atuação lembrada não só pela trágica morte do ator como pelo Oscar póstumo concedido no ano seguinte. Nolan fez do roteiro, co-escrito com seu irmão Jonathan, um filme de narrativa envolvente mergulhado na estética dos filmes policiais e que veio a ser o primeiro filme do gênero a alcançar a marca de um bilhão de dólares de bilheteria. A ambiguidade dos personagens centrais da trama mostra a habilidade do diretor em legitimar as ações destes através da abordagem psicológica.
O mesmo pode ser dito do homem em busca do assassino de sua esposa (Guy Pearce) em “Amnesia” de 2000, que guia o espectador por indas e vindas no tempo construindo um envolvente quebra-cabeças. Christopher sabe como trabalhar motivações em seus personagens, traça um perfil da obsessão capaz de inflamar vinganças como a dos mágicos Angier (Hugh Jackman) e Dorman (Christian Bale) em “O Grande Truque” (The Prestige) de 2006, ludibriando o público tal qual Hithcock faria. Na presente década, ele encerrou sua história com Batman em “O Cavaleiro das Trevas Ressurge” (2012), enveredou pelo mundo dos sonhos no aclamado “A Origem” (Inception), e ousou em uma ficção cientifica baseada na teoria do físico norte-americano Kip Thorne em “Interestellar” (2014). Este surpreendeu por conseguir lucro em uma audaciosa proposta dependente da inteligência do grande público em absorver uma história que questiona o futuro da raça humana, trata de viagens espaço-temporais e buracos de minhoca. Definitivamente, o diretor conquistou o respeito da comunidade artística e do grande público por fazer um cinema que consegue ser comercial, mas inteligente, ao alcance de todos, frequentemente se cercando de atores como Michael Caine, Anne Hathaway, Christian Bale e Cillian Murphy.
Depois de levar sua técnica e narrativa singular para revistar uma das batalhas da segunda guerra em “Dunkirk”, espera-se qual será seu próximo projeto. Há poucos dias Nolan anunciou a vontade de fazer um filme de 007, inflamando a mídia com especulações de como seria um James Bond mergulhado na estética de um diretor que sabe entender a natureza humana e explorar as contradições que movem e justificam ações, mas sobretudo um profissional que assegurou seu lugar na história recente do cinema hollywoodiano.