Era 31 de outubro de 1963, na cidade fictícia de Haddonfield, quando um menino de 6 anos matou sua irmã mais velha. Encarcerado em um sanatório por 15 anos, ele permaneceu calado, catatônico, sob os cuidados do Dr. Sam Loomis, que nada conseguiu além de vislumbrar nos olhos de seu paciente pura maldade. Livre novamente, ele volta para o subúrbio onde nasceu e que Deus ajude aquele que cruzar seu caminho de sangue e morte, pois esta noite de máscaras e superstições, de espíritos e espectros é a noite em que Michael Myers voltou para casa. Após ler essa introdução já somos assombrados pelo tema em 5/4 composto pelo próprio diretor, em seu terceiro longa.
John Carpenter tinha 30 anos quando co-escreveu “Halloween – A Noite do Terror”com Debra Hill a história, a princípio, intitulada “The Babysitter Murders”. Michael Myers herdou a sede assassina e a mente perturbada de Norman Bates de “Psicose” e fez do gênero, chamado “slasher movies”, um dos mais prolíficos e recorrentes desde então. Que assim digam Jason, Ghostface, Jigsaw e outros que beberam da fonte, mas não conseguiram replicar o charme do filme de 1978. A ideia inicial dos roteiristas era que Myers funcionasse como uma figura sobrenatural, descrito no roteiro como “The Shape” (A Forma). Com orçamento restrito de 300,000 dólares, seu visual levou uma máscara branca comprada por 4 dólares com as feições do ator William Shatner (o Capitão Kirk de Star Trek). O papel da heroína virginal e alvo da obsessão de Michael ficou com Jamie Lee Curtis, filha da Janet Leigh (do clássico “Psicose”), em seu primeiro papel no cinema aos 17 anos. O papel de Sam Loomis (Nome também retirado do clássico de Hithcock) foi escrito tendo em mente os veteranos Christopher Lee e Peter Cushing, mas ambos recusaram o papel que foi para o ator Donald Pleasance. A bilheteria de mais de 40 milhões só nos Estados Unidos recompensou o trabalho de Carpenter que se esmerou na atmosfera de tensão e no terror psicológico em torno da figura de Michael Myers, um assassino com irrefreável sede de sangue tal qual o robô assassino interpretado por Yul Brinner em “Westworld” (o filme de 1973, não a série da HBO) nas palavras do próprio John Carpenter. O criativo diretor e roteirista não tinha interesse em sequências, mas o sucesso de bilheteria convenceu os produtores Irwin Yablais e Moustapha Akaad a continuar a história de Michael Myers. Debra Hill e John Carpenter aceitaram retornar como produtores e roteiristas, mas a direção ficou com Rick Rosenthal, que segue imediatamente os eventos após o desfecho do filme original, ou seja, na mesma noite do dia das bruxas. Os atores Jamie Lee Curtis e Donald Plesance retornam, porém o tom de “Halloween 2 – O Pesadelo Continua” (1981), após a abertura ao som de “Mr.Sandman” do grupo “The Chordettes”, trocando a sutileza de Carpenter pela violência e nudez gratuita, explorando explicitamente a figura sádica e misógina de Michael Myers, quase que integralmente dentro de um hospital.
Já no ano seguinte, com a chegada de Dino De Laurentis na produção de “Hallowen 3 – Season of the Witches” (1982) a intenção de John Carpenter, como produtor associado e roteirista não creditado, era fazer uma antologia, histórias independentes e fechadas tematizadas no dia das bruxas, mas sem qualquer conexão com Michael Myers, que foi dado como morto no final do segundo filme. Com o fracasso de público e crítica, o filme foi incluso na lista dos “Filmes Mais Odiados” do renomado crítico Roger Ebert, mas depois de seis anos os produtores ressuscitariam seu vilão favorito. Assim “Halloween 4 – O Retorno de Michael Myers” (1988) e “Halloween 5 – A Vingança de Michael Myers” (1989) trouxeram o psicótico assassino no final de uma década marcada pelo Jason de “Sexta Feira 13” e o Freddy Krugger de “A Hora do Pesadelo”. Ainda haveria “Halloween 6 – A Última Vingança” de 1995 que ligaria a maldade de Michael a uma suposta maldição druida inventada pelos roteiristas. Assim se encerraria – temporariamente – a história iniciada no primeiro filme, e seria o canto do cisne do ator Donald Pleasance, o Dr.Loomis, que faleceu antes de terminar todas as suas cenas. O filme guarda a curiosidade de trazer um jovem Paul Rudd (o Homem Formiga dos filmes da Marvel) no papel de Tommy Doyle que seria o menino cuidado por Laurie Strode no primeiro filme.
Três anos depois os “Slasher movies” renasceram para a geração “Pânico” e o roteirista Kevin Williamson colaborou com a volta de Michael Myers em “Halloween – 20 Anos Depois” trazendo Jamie Lee Curtis, rainha das “Scream Queens”, de volta como Laurie Strode, e ignorando as sequências realizadas após o segundo filme. Até mesmo Janet Leigh, mãe de Jamie Lee Curtis na vida real fez uma rápida aparição no filme. A bilheteria de mais de 55 milhões de dólares convenceu os produtores a um oitavo filme, “Halloween A Ressurreição” de 2002, dirigido pelo mesmo Rick Rosenthal da continuação de 1982, com a infeliz ideia de colocar Michael Myers como parte imprevista de um reality show. O filme ainda comete o erro de matar Laurie Strode no final do filme.
A década seguiria com a refilmagem do primeiro filme realizada por Rob Zombie em 2007, e sua sequência dois anos depois. Contudo, tanto “Halloween – O Início” quando “Halloween II” de Zombie trocou a sutileza e a fluidez da narrativa de Carpenter pela truculência e o exagero sádico típico da franquia “Jogos Mortais”. Zombie também ousou explicar a psicopatia de Michael Myers removendo do personagem sua persona sobrenatural mantida inicialmente por Carpenter.
O novo filme realiza um retorno às origens do excelente filme de 1978 que foi incluído na lista dos “1001 Filmes Para Se Ver Antes de Morrer” do escritor Steven Schneider. Em 2006, o filme original foi selecionado para preservação no National Film Registry dos Estados Unidos pela Biblioteca do Congresso como sendo ”cultural, histórica ou esteticamente significante”. Que ninguém duvide que pesadelos são atrativos para o público, pois Carpenter soube como fazer de Michael Myers parte da cultura pop e hoje 40 anos depois daquela noite do dia das bruxas, ele ainda está voltando para casa, senão na fictícia Haddonfield ao menos no pavor de nossa imaginação.