ENSAIO: FILMES DE MONSTRO

Lembra quando crianças ouvíamos histórias do bicho-papão ? Nosso inconsciente parece guardar e cultivar um misto de medo e atração por histórias de monstros. Projeções de nosso inconsciente para alguns ou matéria-prima de pesadelos pueris, o fato é que o cinema sempre se apropriou desse sentimento para explorar um filão recorrente que prova de que esse medo também é igualmente divertido.

monstro da lagoa negra

O MONSTRO DA LAGOA NEGRA

Nos anos 50 e 60, o filme de monstro foi um rico filão que contava com orçamento B mas criatividade A. Gastava-se pouco, técnicas de stop motion, uso de maquetes e de fantasias que focavam em mexer com o medo do desconhecido. O Homem-Peixe de “O Monstro da Lagoa Negra” (The Creature of The Black Lagoon) de 1954, ou o caso de “A Mosca da Cabeça Branca” (The Fly) de 1958 mostram como esse tipo de filme sempre foi de grande popularidade. Ainda assim, em vez de uma pessoa ou grupo aterrorizados, o cinema logo ampliou o pânico gerado por essas criaturas para uma escala maior, com destruição de massa ameaçando cidades, países ou até mesmo o mundo. Digno de nota o polvo gigante de “O Monstro do Mar Revolto” (It Came From Beneath the Sea) de 1955, a aranha gigante de “Tarantula” (Tarantula) do mesmo ano ou as formigas gigantes de “O Mundo em Perigo” (Them!) de 1954 entre outros que mostravam que a existência humana estava seriamente ameaçada.

them

O MUNDO EM PERIGO

Com a guerra fria e o medo gerado pelas armas nucleares, os monstros personificavam a personificação de um fim inevitável. Os ecos desses sentimentos se materializavam com ainda maior intensidade no Japão pós Hiroshima com a criação de “Godzilla” (1954) cujo alcance foi muito além da terra do sol nascente. Alcunhado “O Rei dos Monstros” , Godzilla foi o primeiro de uma infinita lista de monstros que a todo  momento destruía Tokyo. Na década seguinte foi a vez de Londres ter sua própria versão do lagarto gigante destruidor em “Gorgo” (1961). A medida que os estúdios faturavam em cima das plateias, ávidas por serem aterrorizadas, surgiam monstros de todos os tipos como “A Bolha Assassina” (The Blob) de 1958 mostrando um jovial Steve McQueen enfrentando uma criatura gelatinosa que devora tudo aumentando progressivamente de tamanho, plantas do mal em “O Terror Veio do Espaço” (Day of the Triffids) de 1962 ou “Terror que Mata” (The Quatermass Experiment) de 1955, todos explorando o medo inconsciente do desconhecido, herdeiros do mitológico Krakken ou do lendário Leviatã que povoava os pesadelos dos antigos navegantes medievais, mostrando que a imaginação humana sempre foi povoada por criaturas que trariam morte e aniquilação por onde passassem. Na década de 80, Joe Dante dirigiu o cultuado “Gremlins” (1984) acrescentando humor à receita.

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CLOVERFIELD – O MONSTRO

O avanço dos efeitos especiais depois do realismo dos dinossauros spielberguianos de “Jurassic Park” (1994) possibilitou tornar o gênero ainda mais atraente para uma geração cada vez mais acostumada a jogos de definição e realismo extremo. Assim nada mais natural que se revisitasse o primeiro clássico do gênero “King Kong”, refilmado por Peter Jackson em 2006 ou , mais recentemente “Godzilla”. O cineasta Guilhermo Del Toro abraçou a admiração por esse tipo de filme em “ Circulo de Fogo” (Pacific Rim) de 2013 que ameaça ganha sequência embora nada ainda de concreto tenha sido anunciado sobre o retorno dos Kaijus, como os monstros são conhecidos no Japão. Em 2008 foi a vez de J.J Abrahams com “Cloverfield” que ainda usava da câmera nervosa do estilo documentário fake para provocar uma reação no estilo de “A Bruxa de Blair”. Diferente também é a história de sua sequência que integra o primeiro filme mas com um direcionamento mais voltado para o terror psicológico, mas que pode muito bem figurar nesse artigo já que os piores monstros são aqueles vindos da psique humana.