ADILSON CINEMA – O HOMEM INVISÍVEL

Quando em 2017 “A Múmia” naufragou nas bilheterias, parecia acabar ali as pretensões do “Dark Universe”, seguindo a fórmula dos universos compartilhados, de unificar os clássicos personagens dos filmes de terror do tradicional estúdio da Universal. Foi quando o produtor Jason Blum, da Blumhouse Productions, assumiu a tarefa de reiniciar a proposta. Fortalecido pelo Oscar de melhor roteiro original para Jordan Peele em “Corra” (2017), Blum teve com esse e outros sucessos, como o bem sucedido reboot de “Halloween” (2018), a chave para trazer à luz dos novos tempos o clássico de H.G.Wells escolhido para recriar em 2020 o terror de um universo de monstros.

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H.G.WELLS

      Inicialmente pensado como um veículo para Johnny Depp, o diretor e roteirista Leigh Whannell (Sobrenatural: A Última Chave) decidiu mudar o foco da história, concentrando-se em Cecilia Kass, vítima da perseguição de seu marido abusivo dado como morto, mas que ela acredita estar vivo e … invisível. Para interpretar a atormentada protagonista, a atriz Elizabeth Moss, da premiada série “Handmaid’s Tale”, que – curiosamente – aos 13 anos dublou o episódio “See No Evil” da série animada “Batman The Animated Series” como uma menina cujo amigo imaginário era na verdade seu pai, um ex-criminoso invisível.

       A mudança de foco permitiu trabalhar o sentimento de paranoia quando vemos uma ameaça que só nós conseguimos enxergar. O sentimento é potencializado pela máxima da ficção científica que mostra o impacto da tecnologia no indivíduo e na sociedade, tema recorrente no gênero literário do qual “O Homem Invisível” nasceu, pela imaginação do escritor britânico H.G.Wells (1866-1946). Whannell decidiu deixar para trás o clássico visual do homem misterioso com o corpo coberto de bandagens em favor de uma abordagem mais “realista” mergulhada no terror provocado pelo mal uso de uma descoberta científica deturpada pela mente insana de um homem que se separa do resto da humanidade. O terror surge quando Cecilia se vê indefesa em um lugar onde seu algoz pode ou não estar, e o clima de ameaça a acompanha onde quer que vá, e assim como a Mia Farrow de “O Bebê de Rosemery”, Cecilia se vê incapaz de conseguir ajuda, exceto pelo amigo policial James (Aldis Hodge) e sua filha Sydney (Storm Reid). Cecília recebeu uma fortuna de seu ex-marido falecido, e descobre da pior maneira que ele não morreu. A noção da falta de privacidade faz ponte com a vida real ao nos remeter com a sensação cada vez crescente de que estamos sempre sendo observados.

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        Tais divagações sempre enriqueceram a ficção-científica como uma fórmula para questionar os avanços científicos quando o ser humano ainda se demonstra tão preso a seus instintos primitivos como um insano Claude Rains se despindo de suas bandagens com um grito histérico na versão de 1933 da Universal. Impressionante para os dias em que foi filmado, o diretor James Whale (O mesmo de “Frankenstein”) triunfou ao vestir o ator com um tecido aveludado preto da cabeça aos pés antes de filmá-lo diante de um fundo de material e cor iguais permitindo a ilusão de que Rains desaparecia diante dos olhos. Na adaptação a história foi movida de 1896 (como no livro) para 1933. Outra mudança é que o protagonista Jack Griffith é um homem misterioso no livro, sem passado ou ligações afetivas, enquanto no filme de Whale Griffith tem esposa, pai e amigo. Em 1940, a Universal lançou “A Volta do Homem Invisível” (The Invisible Man Returns) estrelado por Vincent Price, em seu primeiro filme de terror. O sucesso ainda gerou uma terceira sequência “A Mulher Invisível” (The Invisible Woman) em tom de comédia, lançado no mesmo ano. O filão ainda rendeu “O Agente Invisível” (the Invisible Agent) de 1942 aproveitando os esforços de guerra fazendo de Frank Griffith (John Hall), neto do personagem original, um super agente americano enfrentando os nazistas. Em 1944, houve ainda “A Vingança do Homem Invisível” (The Invisible Man’s Revenge) com Jon Hall interpretando Robert Griffin, um personagem sem nenhuma ligação com seus predecessores. Em 1951 ainda haveria a paródia “Abbot & Costello Encontram O Homem Invisível” (Abbot & Costello Meets The Invisible Man) antes que os britânicos retomassem a ideia de um super espião para o Dr.Peter Brady nos 26 episódios de “H.G.Wells’ The Invisible Man” , que apesar do título nada tinha a ver com o romance original. Na década de 70 a Tv americana retomou a ideia de um homem invisível herói e espião: Em 1975 David McCallum foi o Dr. Daniel Westin por 12 episódios de “The Invisible Man” seguido de Ben Murphy como o agente Sam Casey em “Gemini Man”, que usava um relógio digital para oscilar entre a visibilidade e a invisibilidade.

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O FILME DE 1933 – CLAUDE RAINS DEBAIXO DAS BANDAGENS

          O icônico diretor John Carpenter adaptou “Memórias de um Homem Invisível” (Memoirs of na Invisible Man) do livro de H.F.Saint com Chevy Chase. Impressionante foi a técnica que fez o Dr. Sebastian Caine (Kevin Bacon) gradativamente alcançar a invisibilidade, camada por camada expondo tecido, órgãos e ossos em “O Homem Sem Sombra” (The Hollow Man) de 2000 alcançando indicação para o Oscar de melhor efeitos visuais. O filme teve a sequência “O Homem sem Sombra 2”, diretamente lançado em vídeo, com várias referências ao livro de Wells, como o sobrenome de Christian Slater como o Dr. Michael Griffith. Em 2002, com o sucesso de “The Hollow Man”, o ator Vincent Ventresca interpretou um ex criminoso que se torna uma super espião invisível na nova versão do seriado homônimo ao romance de Wells.

        Seja como um degenerado ou como um espião, a figura do homem invisível atravessa gerações como um dos textos mais virtuosos de seu gênero desde que foi publicado serializado em 1887 na revista semanal “Pearson’s weekly”, e no mesmo ano publicado como romance. Mais de 130 anos depois, as vantagens de ser criativo como Wells, visionário mas jamais… invisível.

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ADILSON CINEMA: 1917

O filme intitulado com o penúltimo ano da Primeira Guerra começa em 6 de Abril, data em que os Estados Unidos entraram no conflito. Com várias premiações e indicações, o filme conta com 10 indicações ao próximo Oscar, incluindo melhor filme e direção para Sam Mendes. Com tanta badalação, facilmente podemos entender porque mesmo que não completamente original, “1917” consegue o mérito de mostrar as possibilidades quando um realizador tem talento para reunir uma equipe capaz de mostrar o que é a sétima arte, não o que se faz, mas como se faz.

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         O mérito do filme não é apenas técnico, pois os recursos narrativos estão a serviço de uma história bem elaborada que sabe evitar o ufanismo geralmente associado aos filmes do gênero. O filme de Mendes evoca na memória ecos de “Glória Feita de Sangue” (1957) e “Sem Novidades no Front” (1930) ambos também ambientados na Primeira Guerra (1914-1918) e expondo os horrores que a marcha belicista traz ao espírito humano. Mendes começa com um plano aberto no campo onde dois soldados britânicos descansam debaixo de uma árvore, e logo em seguida são despertados à medida que caminham para dentro de um labirinto de trincheiras que dividem o exército inglês dos alemães. Os soldados são incumbidos de levar uma mensagem até um batalhão inglês prestes a cair em uma armadilha que custará suas vidas. O patriotismo cego não move os passos dos jovens Blake (Dean-Charles Chapman) e Schofield (George MacKay), é mais pessoal, emotiva.  O primeiro assume a missão pois seu irmão mais velho está entre os soldados sobreviventes e a um passo da emboscada, e o segundo é movido pela amizade e a promessa feita ao atravessar uma terra de ninguém. MacKay (Capitão Fantástico) conecta-se com o público, vive à flor da pele o significado de derramar sangue, suor e lágrimas. A travessia da terra de ninguém até o front ganha uma dimensão de incrível realismo graças à fotografia de Roger Deakins (Oscarizado em “Blade Runner 2049”) cujas imagens impactantes são o verdadeiro protagonista dessa história. Se a frase “esses são os horrores da guerra” já foi ouvida em outros filmes, o filme de Mendes as explora com precisão cirúrgica desde a mudança brusca de um idílico campo ao claustrofóbico ambiente de uma trincheira; ou da segurança desta para uma corrida desesperada com tiros e bombas sucessivas. A trilha sonora de Thomas Newman se mescla à ação de forma que corremos com o cabo Schofield e sofremos como se pudéssemos nos transportar para dentro da tela. Mesmo a rápida aparição de rostos conhecidos como Colin Firth, Mark Strong e Benedict Cumberbatch não nos distrai do principal na história, não o seu desenrolar, não é senso de patriotismo ou de dever cumprido, mas como o ser humano eclipsa em meio à destruição e morte, essas sim as únicas vencedoras de guerra.

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DRACULA RENASCE NA ERA NETFLIX

Um dos textos mais adaptados da literatura é o romance gótico “Drácula” escrito pelo irlandês Bram Stoker no final do século XIX, e se a imortalidade é parte intrínsica do mito do vampiro, então o personagem de Stoker não só faz juz como o demonstra em recorrentes versões para o cinema, Tv, livros e agora na era do streaming em uma série da Netflix criada por Steve Moffat e Mark Gatiss, os mesmos que recriaram Sherlock Homes para a nova geração com Benedict Cumberbatch e Martin Freeman.

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DRACULA ENFRENTA IRMÃ AGATHA NA NETFLIX

       Em três episódios Moffat e Gatiss iniciam sua narrativa na Transilvania de 1897 com filmagens feitas no Castelo Oravana Eslováquia, o mesmo usado para a filmagem do clássico “Nosferatu” de 1922.Já no segundo episódio temos a transposição para a modernidade quando o vampiro desperta no mundo atual. A nova adaptação usa esse salto no tempo para trazer o mito do conde Drácula para a contemporaneidade, mesmo que se distanciando do romance original. Outra mudança é a forma escolhida para retratar Van Helsing, o nêmesis do vampiro. No passado a irmã Agatha, e no presente sua descendente Zoe (ambos interpretados por Dolly Wells) substituem a figura do austero homem da ciência que se torna o antagonista de Drácula.  Lucy, Jonathan Harker, Dr.Seward, Quincy, Lucy, todos os personagens estão lá mas com novas roupagens, sob uma ótica diferente da conhecida pelos amantes da história original. A modernização da lenda é o foco principal ainda que o ator dinamarquês Claes Bang tenha ótima atuação. O texto de Stoker é tão rico que sobrevive a várias reinterpretações que tratam de assuntos como sexualidade, imortalidade, seja a nível de análise social da realidade vitoriana, ou análise filosófica das pulsões humanas. Mas Bram Stoker não inventou a figura lendária da criatura sobrenatural que se alimenta de sangue humano.

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BRAM STOKER & O LIVRO- CRIADOR & CRIATURA

              Lendas de vampiros ou desmortos já faziam parte do folclore europeu, muito antes que Abraham Stoker (1847 – 1912) as usasse como matéria-prima de seu mais famoso romance. A esses mitos e superstições, Stoker fundiu a figura histórica do príncipe romeno Vlad Tepes que governou a região da Valáquia, atual Romênia, combatendo os invasores turcos com requintes de crueldade notória. Vlad, o empalador, fincava uma estaca de madeira no peito de seus inimigos e bebia seu sangue. A mente criativa de Stoker soube unir todos esses elementos na figura de Drácula, nome da família de Vlad, ligada à Ordem do Dragão –  linhagem religiosa do auge do Império Romano. Contudo, o livro de Stoker não foi, como muitos pensam, o primeiro livro sobre vampiros. Antes dele houve “Vampyre” (1819) de John Polidori e “Carmila” (1871) de Sheridan Le Fanus. Drácula, no entanto, sobressaiu-se graças à forma como Bram Stoker conduziu sua história: Sua narrativa é toda em primeira pessoa através de cartas e diários pertencentes aos personagens humanos que giram em torno do vampiro : o advogado Jonathan Harker, sua noiva Mina, o Dr. Seward, Quincy Morris, e é claro, o Professor Abraham Van Helsing entre outros cujos pontos de vista direcionam a visão do leitor. As palavras de Stoker são embebidas de uma inusitada credibilidade e apurada descrição da região em que Drácula vive, apesar de seu escritor nunca ter visitado o Leste Europeu onde fica a Transilvânia. Para a sociedade reprimida do final do século XIX, a mordida do vampiro funcionava como perfeita metáfora para o orgasmo e o prazer ilimitado, associada a perversões e à sexualidade reprimida. Logo, o vampiro não apenas desafiava a ordem natural da vida e da morte, mas também a conduta moral de toda uma sociedade. Essas subleituras enriqueciam a história de Drácula e o cinema não demorou a enxergá-las como uma rica fonte de adaptação.

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BELA LUGOSI – O PRIMEIRO

DRACULA NO CINEMA

              Em 1922, dez anos depois da morte de Bram Stoker, o diretor alemão F.W. Murnau tentou mas não conseguiu os direitos de adaptação da viúva Florence Stoker. Assim, Murnau modificou os nomes dos personagens e realizou “Nosferatu” com Max Shreck como o vampiro, o conde Orlock. Além de mudar os nomes, Murnau transformou o vampiro de uma figura sedutora em um ser repulsivo e assustador graças a uma eficiente maquiagem que eclipsou o rosto do ator Max Shreck, tornado anônimo para as gerações que se seguiram, o que levou ao curioso filme “A Sombra do Vampiro” (Shadow of a Vampire) de 2003, o qual  teorizava que Shreck era um vampiro de verdade. A viúva de Stoker processou Murnau e conseguiu a ordem judicial que recolheu todas as cópias de “Nosferatu” – claro que nem todas. O filme de Murnau foi redescoberto muito tempo depois e alçado ao status de clássico do expressionismo alemão, e para muitos a melhor versão de “Drácula”, ainda que não oficial.

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CHRISTOPHER LEE – O MELHOR

            Anos depois do filme de Murnau, a obra de Stoker era um sucesso nos palcos londrinos em uma adaptação escrita por Hamilton Deane, desta vez com o consentimento da família de Stoker. A montagem da peça foi levada até a Broadway por John Balderstone trazendo o ator húngaro Bela Lugosi no papel central. Os direitos de filmagem da peça foram comprados pela Universal, que contratou o diretor Tod Browning. Este queria Lon Chaney como Drácula, mas a morte do homem das mil faces (como era conhecido Chaney) levou Tod a contratar Lugosi que já estava acostumado ao personagem. A caracterização de Lugosi lançou as bases para o imaginário popular: o terno e capa preta de acordo com sua condição aristocrática, os cabelos penteados para trás, o olhar hipnótico (realizado com um feixe de luz lançado diretamente sobre seus olhos) e o forte sotaque em falas marcantes como “Ouça-os, crianças da noite !”. O visual impressionante deixava, no entanto, de fora as famosas presas do vampiro, deixando para a voz e o olhar de Lugosi a função de assustar as plateias. “Drácula” foi feito em 1930 e lançado no dia dos namorados do ano seguinte. Uma versão em espanhol, visando o mercado latino, foi filmada por George Melford nos mesmos cenários que o filme de Browning, apresentando Carlos Villarias no lugar de Lugosi.

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GARY OLDMAN – EXCELENTE

           Lugosi caiu no ostracismo e faleceu em 1956, aos 73 anos, tendo sido sepultado com a capa do personagem que marcou sua carreira. Lugosi se fixou no imaginário popular e virou música, a hipnótica “Bela Lugosi is dead”, da banda pós punk Balhaus, usada, em 1982, na trilha sonora do filme “Fome de Viver” (The Hunger), de Tony Scott, uma modernização pop do mito do vampiro. No final da década de 50 o personagem é reinventado para a geração seguinte com a atuação hipnótica e sedutora do ator inglês Christopher Lee em “Drácula – O Vampiro da Noite” (Dracula), dirigido por Terence Fisher. O filme, produzido pela Hammer Films, foi um sucesso apesar de novas liberdades serem tomadas em relação ao livro de Bram Stoker como nunca mostrar Drácula envelhecido no início da história; ou Mina que é retratada no filme como esposa de Arthur e sem relação direta com Jonathan Harker, que no filme vai ao castelo do conde ciente de sua natureza malévola e com intenção de destruí-lo. A Hammer acentuava o lado sensual do vampirismo, bem como caprichava na cenografia gótica. Apesar das mudanças, Lee tornou-se icônico no papel mesmo tendo apenas 13 falas em todo o filme. Sua atuação é estilosa, equilibrando sua pose aristocrática com feições de puro terror, realçadas pelo vermelhão nos olhos e pelas presas salientes, pela primeira vez exibidas na tela. Ao seu lado, o ótimo Peter Cushing como o Professor Van Helsing. Nos Estados Unidos rebatizado de “Horror of Dracula”, para evitar confusão com o filme de Lugosi, a versão da Hammer foi um grande sucesso reapresentando o vampiro de Stoker para uma geração que se alimentava de histórias de invasões marcianas e monstros de outro planeta. Lee foi quem melhor mostrou uma composição aristocrática mesclada com uma postura predatória incansável, sendo sedutor na mesma medida que assustador. O ator britânico, que na vida real era primo do escritor Ian Fleming, criador do espião 007, repetiu o papel mais 7 vezes: Seis pela Hammer, entre 1958 e 1973, e uma na produção alemã de 1970, dirigida por Jesus Franco, e que ainda trazia no elenco Klaus Kinski, antes deste encarnar o vampiro na refilmagem de “Nosferatu”. Era a primeira vez que Drácula era mostrado como um homem velho que vai rejuvenescendo a medida que bebe sangue, como no livro. Lee constantemente reclamava de estar cansado do personagem e eventualmente parou de interpretá-lo, porém ficou marcado no imaginário popular através de incontáveis reprises na TV, que fez de Lee o intérprete mais prolífico e popular do personagem. A década de 70 ainda teve Jack Palance em na Tv,  “Blood for Dracula” de Andy Warhol em 1974,  e William Marshall em “Blácula”, onde o vampiro da era do blackexploitation.

DRACULA NO BRASIL

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RUBENS DE FALCO TOCA BRUNA LOMBRADI NA VERSÃO BRASILEIRA ESCRITA POR RUBENS EWALD FILHO

          1979 foi o ano do vampiro pois teve quatro filmes de Drácula nas telas. A refilmagem de “Nosferatu” dirigido por Werner Herzog, que restaurou os nomes dos personagens originais do romance de Stoker, cujos direitos já haviam caído em domínio público na época. No elenco Klaus Kinski e Isabelle Adjani em um trabalho respeitoso embora inferior ao original de Murnau, e exibido no Festival de Filmes de Nova York. Poucos meses antes, Nova York recebera a estreia de uma nova versão, adaptada de uma remontagem da peça de Hamilton Deane & John Balderston  com Frank Langella repetindo nas telas, o mesmo papel que fizera nos palcos da Broadway, e – inclusive – interpretando o vampiro sem presas, tal qual Lugosi no filme de 1930. Além do “Drácula” de Langella, que foi dirigido por John Badham, houve a paródia “Amor à Primeira Mordida” (Love at First Bite) com George Hamilton que chegou a ganhar o Saturn Award (prêmio dado ao gênero fantástico) e foi indicado ao Golden Globe.  Outra paródia no mesmo ano foi “Nocturna” de Harry Hurwitz com John Carradini como um envelhecido Conde Drácula, obrigado a fazer de seu castelo um Hotel para pagar os altos impostos.

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LUKE EVANS – DRÁCULA HERÓI

          Um ano depois, estreou no Brasil a adaptação do livro de Stoker para o formato de telenovela entitulada “Drácula – Uma História de Amor” escrita pelo homem do Oscar, o renomado crítico de cinema e escritor Rubens Ewald Filho. A novela, filmada no município paulista de Paranapiacaba, trazia o conde romeno, interpretado pelo ótimo Rubens de Falco, ao Brasil onde conhece Mariana (Bruna Lombardi) que é a reencanação de sua amada e namorada de seu filho Rafael (Carlos Alberto Riccelli). A novela, dirigida por Walter Avancini, teve apenas quatro capítulos transmitidos pela TV Tupi, entre Janeiro e Fevereiro de 1980, sendo então interrompida quando a emissora carioca entrou em falência. No mesmo ano, a novela voltou pela Rede Bandeirantes, rebatizada de “Um Homem Muito Especial” e com a direção de Antonio Ambujamra. Muito antes que a Rede Globo produzisse novelas bem sucedidas como “Vamp” e “O Beijo do Vampiro” foi o renomado escritor e crítico de cinema Rubens Ewald Filho quem trouxe o vampirismo para a teledramartugia brasileira, apontando as possibilidades narrativas por trás da modernização do mito. Mais de dez anos depois, Francis Ford Coppola realizou uma pretensa adaptação definitiva do livro de Stoker entitulada “Drácula de Bram Stoker” em 1992 com Gary Oldman, Wynona Ryder, Keanu Reeves e Anthony Hopkins. No entanto, apesar de capturar o espírito da obra literária, o filme funde o personagem vampiro ao Vlad Tepes histórico e reinventa sua relação com Mina, que no livro não vai além da relação de um predador voraz atrás de sua presa, sem o romantismo empregado por Coppola. O filme foi muito bem sucedido e foi premiado com três Oscars : melhor figurino, efeitos sonoros e maquiagem.

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CLAES BANG – VAMPIRO VERSÃO 2020

         Outros Dráculas vieram : Leslie Nielsen na paródia de Mel Brooks “Drácula – Morto mas Feliz”, Gerard Butler em “Drácula 2000”, o afetado Richard Roxburgh no decepcionante “Van Helsing – o Caçador de Monstros”, “Dracula 3D” – a versão de Dario Argento de 2012,  além de Adam Sandler como a voz do personagem na animação “Hotel Transilvânia”. Drácula já apareceu em animações, Hqs, séries de TV (a mais recente com Jonathan Rhyes Myers foi cancelada), ganhou um novo livro – uma sequência oficial em 2009 escrita pelo sobrinho-neto de Stoker, e migrou para os vídeo games no famoso “Castlevania” , ganhando uma prequela, releitura estilo “Batman Begins” tentando fundir a figura histórica e a figura mitológica do personagem em “Drácula – A História Não Contada”. Embora a bilheteria não tenha garantido uma sequência, o apelo do personagem permanece inabalável. Com tanto interesse recorrente a figura do vampiro está sendo incorporada à cultura pop seja através de escritores como Stephen King, Anne Rice, Stephanie Meyer ou mesmo do incalculável número de projetos anunciados constantemente, que garantem que a versão de Gatiss e Moffat não será a última vez que Drácula se levantará do túmulo para seduzir novas gerações.

FROZEN 2

          Uma sequência para o mega sucesso de “Frozen” (2013) já vem sendo aguardado há muito tempo. O primeiro trailer-teaser divulgado em 13 de fevereiro teve 116.400.000 visualizações nas primeiras 24 horas, um recorde para um filme de animação. Lembrando que a bilheteria internacional do primeiro filme foi de US$ 1.274.219.009, de acordo com o site “box office mojo”. Depois veio o curta “Frozen: Febre Congelante”, lançado em 2015, que serviu como um mero aperitivo, bem como alimentou as especulações de como a história seria continuada. O fato é que a Rainha Elza realizou um feito que suas predecessoras não conseguiram, ter uma princesa como protagonista de uma continuação lançada em tela grande, se tornando a 61º produção do estúdio.

          Três anos depois dos eventos do filme original, Elza e Anna decidem embarcar em uma viagem para descobrir a origem dos poderes de Elza e desvendar o mistério do desaparecimento de seus pais. Acompanhando as irmãs de Arendele estão Kristoff, a rena Sven e o boneco de neve falante Olaf, que graças ao poder da magia mantem sua forma física permanentemente, não importando se é ou não um inverno congelante. Para quem gostou do primeiro filme está tudo lá, belas canções, a união entre duas irmãs enfrentando adversidades e o espírito edificante nas falas. Quando, após um breve flashback inicial, reencontramos os personagens, estes se encontram no mesmo ponto do final do filme original, mas Elsa ouve um chamado misterioso que a levará a confrontar verdades que desconhece. Quando Anna diz a Olaf que algumas coisas mudam, outras são para sempre, temos a certeza de que essas verdades, no roteiro de Jennifer Lee, trarão mudanças significativas para todos, muito além da sensação de brincar na neve ou de ver uma porta abrir. Essa jornada de descoberta traz novas canções para transmitir esse sentimento de mudança, não de envelhecimento, mas de amadurecimento, como a ótima “Into the Unknown”, ouvida aos 18 minutos iniciais que servem de prólogo para a aventura, e que para muitos lembrará a rainha da neve cantando “Let it go”. Kristoff  tem seu momento quando canta “Lost in the Woods” com direito a uma referência visual da banda Queen. Mas quem rouba a cena é Olaf que, além de alívio cômico, tem seu momento de importância para a fluidez da narrativa ao resumir os eventos pregressos para o povo da floresta.

          A história contada por Lee, com contribuição de Marc Smith, Chris Buck, Kristen-Anderson Lopez e Robert Lopez, consegue encontrar uma justificativa para a sequência, enriquecendo a história que se conhece e fazendo uma respeitável adaptação da história original saída do livro “The Snow Queen” do escritor dinamarquês Hans Christian Anderson (1805-1875), publicado originalmente em 1844, e que recentemente geraram as animações russas “O Reino Gelado” (2012) e “O Reino Gelado 2” (2014).

         Os personagens confrontam suas perdas e dores do passado à medida que enfrentam novos desafios como gigantes de pedra, uma salamandra de fogo e um cavalo aquático. Este último baseado em uma figura da mitologia céltica, e que ganha impressionante realismo graças ao avanço da tecnologia digital. Elza luta com as ondas gigantes com a determinação de uma super-heroína, e assim endossa o porquê de ser uma personagem tão fascinante, em sintonia com os novos tempos. Elza não precisa estar conectada a um par romântico, seja homem ou mulher, para conquistar o respeito de ser uma líder, uma rainha, quase uma super-heroína que enfrenta o perigo com coragem, não por causa de seu extraordinário poder, mas independente deste. Esse triunfo do espírito sobre as adversidades também está presente na jornada de Anna que, mesmo sendo mais jovem, compartilha da mesma bravura, para encarar seu destino final, salvar Elsa e Arendele.

            Longe de dizer se a sequência é melhor ou pior que o primeiro filme; ou de imaginar se “Frozen  2” repetirá o feito nas premiações da Academia, quando o filme original conquistou o Oscar de melhor animação e o Oscar de melhor canção, podemos certamente dizer que o filme é um começo muito bom para os lançamentos de início de ano. Será divertido descobrir, ainda que, embora nada seja eterno, como a mensagem do filme, a magia se fará presente, para cantarmos juntos, crianças e adultos, e que estamos ainda livres para brincar na neve, mesmo que em nossa imaginação apenas.

 

ESPIONAGEM NA LITERATURA & NO CINEMA

         Que ninguém duvide que a figura de um espião ainda é extremamente atraente ao imaginário popular. Por isso a todo momento o cinema traz adaptações de grandes romances de espionagem, embora nem sempre sendo fiel às suas raízes literárias. A figura de um agente secreto em uma missão super confidencial e de grande importância não é uma invenção recente da cultura pop mas um arquétipo recorrente e romanceado de uma prática real e nada glamurosa. Suas origens remontam na verdade séculos de atividades e exercícios ligados a intrigas políticas e jogos sombrios nos bastidores do poder.

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        O escritor norte americano James Finemore Cooper (1789 – 1851) – autor do clássico “O Último dos Moicanos – foi um dos primeiros a criar uma história de intriga política nos romances “O Espião” (1821) e “O Bravo” (1831), precursores de um gênero que só seria reconhecido no século XX. A lendária agência de detetives Pinkerton, além de ter tido participação na captura de notórios fora-da-lei, conseguiu evitar um atentado ao Presidente Abraham Linconl através de ações de vigilância que comprovam a máxima de Sun Tzu, autor de “A Arte da Guerra”, que fala sobre “ser extremamente sutil, tão sutil que ninguém possa achar qualquer rastro”. Se sutileza e mistério são essenciais na espionagem, a elas se juntou uma arma ainda mais eficaz: a sedução. Com ela a exótica Margaretha Gestruida Zelle (1876 – 1917) ganhou a eternidade como Mata Hari, que durante a Primeira Guerra (1914-1918) trabalhou para alemães e franceses, sendo por isso executada. Dançarina e cortesã, Mata Hari agia tal qual Milady de Winter na trama dos “Três Mosqueteiros” , fazendo do sexo uma arma tão ou mais mortífera que uma arma de fogo. “Mata Hari” foi vivida no cinema por Greta Garbo em 1931 , Jeanne Moreau em 1964 e Sylvia Kristel em 1985. Sua figura de curvas sinuosas e movimentos furtivos inflamou a imaginação e serviu de imagem fundamental para a caracterização de agentes eficientes na arte de coletar informações.

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           O estouro de duas Guerras Mundiais e as intrigas advindas dos interesses políticos instigaram a necessidade de agir de forma vigilante e preventiva contra inimigos em potencial, comprovando que “a supremacia da guerra é derrotar o inimigo sem lutar”, como no tratado de Sun Tzu. O cinema mostrou isso em filmes como “Agente Secreto” (1936), “O Homem que Sabia Demais” (1934 e refilmado depois em 1954) , “O Sabotador” (1940) e “Intriga Internacional” (1959), todos do mestre Alfred Hitchcock e que deixaram bem claro a importância no mercado negro das informações confidenciais para atentados, insurreições e conspirações que podem abalar o equilíbrio de forças no mundo. O mundo bipolarizado do pós-guerra fez da guerra fria um elemento fértil para elaboração de tramas intricadas e teias conspiratórias. Mais do que nunca se via a importância de se controlar o fluxo de informações e evitar que o lado inimigo ganhasse qualquer vantagem. Manter vigilância constante significava se proteger. Nas palavras de Sun Tzu o lado vencedor de um conflito precisava de vidência, não de espíritos ou deuses, mas de homens que conhecessem o inimigo. Assim as atividades de contra-espionagem ganharam importância absoluta.

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            O gênero, contudo, ganhou a cultura pop com a chegada de Bond, James Bond, publicado pela primeira vez no romance “Cassino Royale”, de Ian Fleming, em 1953, e transposto para as telas nove anos depois em “007 Contra o Satânico Dr.No” com Sean Connery, o primeiro de seis atores que, desde então, viveram o agente favorito de sua majestade, e do público. Bond nunca teve um rival a altura, em termos de popularidade e longevidade nas telas, mas teve vários imitadores. Em 1966, James Coburn viveu o agente Derek Flint em “Flint Contra o Gênio do Mal” e , no ano seguinte, em “Flint : Perigo Supremo”.  Na mesma ocasião Matt Helm, o espião criado nos livros de Donald Hamilton, ganhou o ar cool de Dean Martin em 4 filmes: “O Agente Secreto Matt Helm”, “Matt Helm Contra o Mundo do Crime” , “Emboscada para Matt Helm” e “Arma Secreta Para Matt Helm”. Diferente dos livros, o tom dos filmes é de paródia com Dean Martin explorando sua própria persona: um bon-vivant, cercado de belíssimas mulheres e que, por acaso salvava o mundo. Os anos 60 fizeram da figura do agente secreto parte da cultura pop, tornando-o quase um super – herói, mas se distanciaram dos elementos literários onde o trabalho de inteligência é descrito de forma mais fria, destituído de qualquer glamour. Mais próxima dessa abordagem são os filmes em que Michael Caine interpretou o agente Harry Palmer,  criado pelo autor britânico Len Deighton. Enquanto que nos livros, o agente de Deighton é um narrador anônimo que apenas tem o primeiro nome mencionado uma vez, nos filmes produzidos por Harry Saltzman o personagem ganha uma identidade com a qual o público possa se relacionar, mas mantem o ar desglamourizado de um mero operário do governo. Os filmes “Ipcress : Arquivo Confidencial”(1965), “Funeral em Berlin” (1966) e “O Cérebro de Um Bilhão de Dolares” (1967) ajudaram a reforçar no imaginário popular a figura do espião como o salvador da democracia e da liberdade contra as forças do mal. O escritor britânico John Le Carré se concentrou em aprofundar nesse lado frio e sem encantos da espionagem, não uma brincadeira, mas um braço forte do jogo de poder das nações. Entre seus livros estão “O Espião que Saiu do frio” (1963), “A Garota do Tambor” (1983), “A Casa da Rússia” (1989), “O Espião que Sabia Demais” (1974) e “O Homem Mais Procurado” (2008) são best sellers frequentemente adaptados para o cinema, sendo esses dois últimos as mais recentes visitações de Hollywood com excelentes atuações, respectivamente, de Gary Oldman e Philip Seymour Hoffman.

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            Igualmente importantes no gênero são os autores Robert Ludlum e Tom Clancy. O primeiro é o pai do espião Jason Bourne. Uma arma humana treinada pelo governo para matar e que acaba por se tornar um embaraço e uma ameaça para o sistema quando perde sua memória. Sua história foi mostrada em “A identidade Bourne” (1980), “A Supremacia Bourne” (1986) e “O Ultimato Bourne” (1990), adaptados para o cinema a partir de 2002 com Matt Damon no papel de Bourne. Os livros de Ludlum são embebidos de ação e intriga, tendo sido escritos entre 1980 e 1990. Neles o agente secreto é simplesmente um assassino controlado por organizações que regem os acontecimentos das sombras fazendo uso de manipulações, traições e lavagem cerebral sem nenhum freio moral. Bourne também se distancia dos super espiões auto confiantes estilo James Bond já que em sua missão em campo não há aliados e o protagonista privado de sua memória só pode contar com seus instintos. Nos livros Bourne foge de seus empregadores, da justiça e trava um xadrez mental com o vilão Carlos, o Chacal, o terrorista mais letal do mundo inspirado em uma pessoa real, o mercenário e assassino venezuelano Ilich Ramirez Sanchéz, vulgo Chacal, que cumpre prisão perpétua na França. Nos filmes estrelados por Matt Damon, com exceção de alguns elementos dos livros toda a história foi reescrita.

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                  Já Clancy mostrou-se hábil em retratar os bastidores do Serviço de Inteligência Americano, e o uso de novas tecnologias com seu agente Jack Ryan. O autor foi elogiado pelo então presidente norte-americano Ronald Reagan na ocasião da publicação de “A Caçada ao Outubro Vermelho” . A ele se seguiram outros livros, todos adaptados para o cinema e vivido por 4 atores diferentes: Alec Baldwin, Harrison Ford (Jogos Patrióticos & Perigo Real e Imediato), Ben Affleck (A Soma de Todos os Medos) e , mais recentemente, Chris Pine no reboot “Operação Sombra:Jack Ryan”. O serviço de streaming Amazon Prime Video já lançou a série “Tom Clancy’s Jack Ryan” protagonizada por John Krasinski conseguindo impressionar pelo apuro na adaptação do rico material do autor em uma eletrizante série de ação.

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         Casos como o do analista de sistemas Edward Snowden (retratado no oscarizado documentário “Citizenfour”) que denunciou a máquina de espionagem e invasão de privacidade mostra que a vida real imita a arte, sem os requintes e o lado fantasioso de Hollywood, mas com o rigor de saber que há séculos vigilância e dissimulação fazem parte dos jogos de poder. Vigilância e tráfego de informações são ferramentas da manutenção da ordem mundial, já rendendo o vindouro filme “Snowden” que chega aos cinemas no final desse ano. Com isso não resta dúvidas de que  muitas guerras são travadas em meio às sombras que se estendem muito além do alcance dos olhos, pois na prática a supremacia dos jogos de guerra reside na estratégia de conhecer teu inimigo, tornando-se o próprio, planejando na escuridão e agindo rápido como um trovão e buscando um xeque-mate. Nisso, a literatura soube explorar melhor que o cinema.

ADILSON CINEMA – STAR WARS EPSIODIO IX – A ASCENÇÃO SKYWALKER

         Há 4 anos estamos acompanhando a trilogia final de uma “space opera” que entrou para a cultura popular, marcou a história da ficção cientifica e já se desdobra em gerações que, assim como eu, empunhamos um sabre de luz imaginário e n os juntamos à filosofia Jedi. Esse capítulo final vem com a missão de atar as pontas soltas, revelar o destino final de personagens e reconquistar os fãs divididos após o resultado do filme anterior, dirigido por Rhian Johnson.

          Com tantos objetivos a atingir, a tarefa de J.J.Abrams e do roteirista Chris Terrio (Batman x Superman, Liga da Justiça) ao adaptar a história inicial de Colin Trevorrow, que foi demitido por diferenças criativas antes do início das filmagens. O episódio IX é essencialmente uma satisfação aos fans saudosistas, seja na estrutura narrativa ou no direcionamento da história que não se preocupa em explicar como o Imperador Palpatine (Ian McDiarmid) sobreviveu aos eventos de “Star Wars: O Retorno de Jedi” (1983). O vilanesco Darth Sidous é a mão por trás dos eventos que se desenrolaram desde a ascenção da Primeira Ordem, como já adiantado pelo trailler final. Sem necessidade de dar spoilers, o filme entrega o que os fãs desejam, o confronto final entre Rey (Daisy Ridley) e  Kylo Ren (Adam Driver), a verdade sobre as origens de Rey entre outras. O roteiro final tenta equilibrar a nova geração, o trio Rey-Finn-Poe com a antiga geração graças às rápidas aparições de rostos conhecidos como o contrabandista Lando Calrisian (Billy Dee Williams), a aparição de Luke para Rey (você não achava que Mark Hamil ficaria fora do capítulo final?), e claro esperada despedida de Leia, realizada com imagens gravadas desde a época de “O Despertar da Força” (2015), funcionando como uma emocionante homenagem à atriz Carrie Fisher falecida na ocasião do lançamento do episódio VIII …

LEIA ESTA MATÉRIA INTEGRAL NA MINHA COLUNA NO SITE “DVDMAGAZINE.COM.BR” E ASSISTA AO VIDEO DO CANAL “ADILSON CINEMA” ONDE COMENTO OS DETALHES DO FINAL DA TRILOGIA STAR WARS.

ENTRE FACAS & SEGREDOS

      O filme é entrecortado por vários depoimentos e flashbacks de uma família moralmente disfuncional onde a mentira e a dissimulação é regra vital para garantir interesses financeiros. Plummer, o Capitão Von Trapp do clássico “A Noviça Rebelde”, aparece pouco mas ganha a atenção sua cumplicidade e amizade com a enfermeira Martha Cabrera (Ana de Armas). Esta faz um papel chave, mas o roteiro é tão bem escrito que as cenas são bem distribuídas para que Jamie Lee Curtis, Michael Shannon, Tony Collete e Chris Evans tenham passagens muito bem inseridas no mistério que se desenrola em três atos. Primeiro o crime cometido e os interrogatórios de Benoit Blanc seguem a estrutura de histórias como “Assassinato no Expresso do Oriente” e “Morte no Nilo” até a primeira hora quando Johnson subverte a estrutura narrativa e revela o assassino. A partir daí o filme mistura o suspense hitchcockiano com o clima da tele série “Columbo”, onde o criminoso, revelado somente aos olhos do público, procura apagar seu rastro, sendo implacavelmente perseguido pelo detetive. A medida que essa segunda parte se desenrola, temos uma mudança brusca de rumo quando Rhan Johnson retoma o clima das novelas de Agatha Christie em um criativo plot-twist que exalta a capacidade do cinema de ainda ser criativo não por romper com os clichês, mas por justamente não negá-los, brincando com estes. Assim, Johnson conseguiu resultado superior ao seu trabalho atrás das câmeras em “Star Wars: O Ultimo Jedi” (2017), que dividiu opiniões.

        O filme está merecidamente ganhando seu valor conquistando 3 indicações aos Globo de Ouro 2020, 3 indicações ao Critics Choice Award, além de outras honrarias. Dificil é imaginar quando poderíamos reencontrar Benoit Blanc já que uma segunda aventura seria bastante pertinente, bem vinda, e a prova que na literatura e no cinema o crime não apenas compensa, como diverte.

QUER SABER MAIS SOBRE O FILME, ASSISTA O CANAL “ADILSON CINEMA” E INSCREVA-SE PARA ACOMPANHAR AS ESTREIAS NAS TELAS TODA SEMANA.

 

ADILSON CINEMA – AS PANTERAS

Quando criança eu assistia a três belas detetives que usavam charme e inteligência para elucidar crimes que a polícia não conseguia solucionar. O trio, composto por Sabrina (Kate Jackson), Jill (Farrah Fawcett) e Kelly (Jaclyn Smith), era originalmente chamado de “Os Anjos de Charlie”, mas aqui no Brasil fomos mais criativos e as batizamos de “As Panteras”. O conceito que gerou essas três super heroínas volta às nossas telas repaginado para a era do “GIRL POWER”.

O roteiro e a direção dessa nova geração de super agentes ficou com Elizabeth Banks (A Escolha Perfeita 2), que o público lembrará melhor como a secretária de J.Jonah Jameson na trilogia de Homem Aranha de Sam Raimi. Coube a Banks recriar o trio que já teve uma adaptação para o cinema em 2000 com Lucy Liu, Cameron Diaz e Drew Barrymoore, esta ainda aparecendo como uma das produtoras. A nova aventura é anunciada não como um reboot ou remake, mas uma continuação tanto da série de Tv quanto dos dois filmes estrelados por Barrymoore. Assim o foco é ampliado com a agência de Charlie Townsend, que ganha âmbito internacional, pressupondo que vários times de “panteras” são enviados a missões em qualquer parte do globo, auxiliadas por vários Bosleys (Patrick Stewart, Djimoun Houson e a própria Elizabeth Banks), que passa a ser um codinome apoiando a equipe liderada por Kristen Stewart. A atriz, de 29 anos, foi escalada pela própria diretora apostando em seu apelo com o público jovem, com quem está marcada como a Bella Swam da franquia “Crepúsculo”. A responsabilidade da missão de renovar as panteras de Charlie é dividida com Naomi Scott, a Princesa Jasmine do live-action de “Aladim”, e a desconhecida Ella Balinska, primeira afro descendente a fazer parte do time de heroínas que foi criado em 1976 por Ivan Goff, Ben Roberts, Leonard Goldberg e Aaron Spelling.

… SAIBA MAIS ASSISTINDO AO CANAL “ADILSON CINEMA” E ASSISTA A “AS PANTERAS” NA SUA SALA DE CINEMA MAIS PRÓXIMA.

ADILSON CINEMA 1 – A FAMILIA ADDAMS

AMIGOS DO BLOG, MUITAS COISAS ROLANDO E FIQUEI UM TEMPO AFASTADO. VOLTANDO AGORA COM AS POSTAGENS, APROVEITO PARA DIVULGAR A ESTREIA DE MEU CANAL NO YOU TUBE. “ADILSON CINEMA” TERÁ UM PROGRAMA NOVO A CADA SEMANA, COMEÇANDO COM A VOLTA DA FAMÍLIA ADDAMS AO CINEMA EM UM DIVERTIDO FILME DE ANIMAÇÃO. CONFIRA O VIDEO E INSCREVA-SE NO MEU CANAL PARA ACOMPANHAR A CADA SEMANA, AS NOVIDADES QUE CHEGAM ÀS SALAS DE EXIBIÇÃO. OBRIGADO PELAS VISUALIZAÇÕES E LIKES. ESTAMOS JUNTOS TODOS EM NOSSO AMOR PELO CINEMA.

A VOLTA DE RAMBO – ATÉ O FIM

Uma das imagens mais icônicas dos anos 80 é a figura de Sylvester Stallone amarrando uma bandana na testa e empunhando uma metralhadora, protótipo do exército de um homem só. Hoje, aos 73 anos, Sly retoma o personagem Rambo mostrando fôlego para co-existir em meio a uma enxurrada de filmes de super-heróis. E desta vez será o último sangue, ou como afirma o título nacional … até o fim.

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            John Rambo começa o novo filme vivendo recluso em um rancho quando uma jovem é sequestrada por um cartel mexicano. Confrontar o passado e resgatar suas habilidades torna-se imperativo para salvar a jovem. A escolha de vilões mexicanos é bastante clichê, mas om personagem tem carisma para atrair bastante a atenção da mídia em sua volta às telas exatos 37 anos desde o lançamento de “Rambo – Programado Para Matar” (First Blood), dirigido por Ted Kotcheff. Na época, o ator reescreveu o roteiro, que já havia sido refeito 26 vezes a partir do livro de David Morell, publicado originalmente em 1972. O personagem do livro, no entanto, era um anti-herói, anti-social e paranóico, fruto da guerra do Vietnã, cujo primeiro nome sequer é mencionado. Um animal descontrolado sem qualquer semelhança com o físico ou o rosto de Stallone, que no filme faz de tudo para não matar ninguém. Também no livro não há a forte amizade entre Rambo e Samuel Trauttman; este, segundo o autor incorpora o próprio Tio Sam enviando seu patriótico soldado para o inferno em nome de uma boa causa.

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            O retorno dos veteranos ao lar mostrou-se uma caixa de traumas, tal como Pandora, aberta em sua reintegração ao país que serviram. Vários filmes mostravam esse calvário como “Amargo Regresso” (1978) e “O Franco Atirador” (1978), mas foi Rambo com sua rebeldia quem deu ao tema uma nova dimensão de popularidade, sobrevivendo à perseguição de toda uma cidade. O final do filme também foi mudado que no livro Rambo é morto, sacrificado por Trauttman tal como Frankenstein e seu monstro, criador e criatura de um passado que não se deseja lembrar. Stallone e Richard Creena assumiram os papeis inicialmente pensados para Al Pacino e Kirk Douglas. Foi Stallone quem recriou o personagem de forma que este pudesse retornar em sequências.

            Foi a partir do segundo filme, co escrito por Stallone e James Cameron que John Rambo assumiu uma aura de super herói imbatível, símbolo perfeito do ufanismo do governo Reagan. Em “Rambo II A Missão” de George Pan Cosmatos, o personagem de Morell tornou-se o herói que restauraria a moral americana pelo fracasso do conflito do Vietnã. Sozinho, Rambo ganhou a guerra que os Estados Unidos perderam e despertou o interesse dos estúdios pelo tema em novas releituras como “Platoon” (1987),  “Bom Dia Vietna” (1987), “Nascido Para Matar” (1988) além da Tv que produziu séries como “Combate no Vietnã” (1987)  e “China Beach” (1989). Ainda que revisitado com tanta constância Rambo manteve sua aura de herói e popularidade comprovada pela bilheteria de mais de 150 milhões, o triplo de seu orçamento. Apesar da ação desenfreada, o segundo filme vai em direção oposta ao primeiro filme, entregando um discurso político em que o protagonista é órfão de seu país devido a administradores corruptos; que, no entanto, não o impedem de buscar a redenção através do amor de seu país como o personagem explica para Trautman no final. O herói resiste a torturas, tiros e explosões para empreender um resgate quem, na verdade, não é de fato desejável. O realismo das cenas de ação impressionou desde o primeiro filme quando Stallone, dispensa dublê, e salta em um abismo sendo amparado pelas árvores, se machucando de verdade, tal qual Tom Cruise nos filmes da franquia “Missão:Impossivel”. O filme de Cosmatos marcou sua época, quando os Estados Unidos não mantinham relações diplomáticas com o Vietnã, o que só veio a acontecer em 1995. John Travolta chegou a ter um personagem no roteiro inicial do segundo Rambo, mas foi cortado e substituído pela então iniciante Julie Nickson.

            Todas as proezas em cena foram triplicadas em 1988 com “Rambo III” que seria dirigido por Russell Mulcahy, diretor de “Highlander”, mas este se afastou por diferenças criativas com o astro. O estreante Peter MacDonald assumiu então o terceiro filme que leva o destemido herói ao Afeganistão para resgatar o Coronel Trautman, se aliando aos fundamentalistas Afegães contra o domínio Sovietico. Ironia que o tempo determinaria quando estes fundamentalistas causariam décadas mais tarde o maior ataque terrorista da história americana, em 11 de setembro de 2001. Enquanto nas salas de cinema Rambo enfrentava vilões ainda mergulhados no clima da guerra fria, na tv brasileira protagonizou um curioso episódio. Na época a Tv aberta era o maior veículo de exibição de filmes e a Globo e SBT competiam pela atenção do público com acervos milionários de grandes produções do cinema. Quando o SBT anunciou a primeira exibição na Tv de “Rambo – Programado para Matar” na estreia de sua sessão semanal “Cinema em Casa”, a Globo trouxe “Rambo 2 A Missão” para o mesmo dia e horário em seu “Cinema Especial”. Silvio Santos retirou na última hora seu filme, reprogramando-o para semanas depois, e mesmo com a Globo esticando sua novela das 8 “Vale Tudo” exibindo dois capítulos seguidos, o SBT congelou sua grade anunciando que “Assim a novela da Globo acabasse, exibiria o prometido filme de Rambo”.

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            O conflito da Birmânia em 2008 foi o pano de fundo para “Rambo IV”, realizado quando muitos davam por acabado a franquia. Mesmo que não tenha agradado a todos os fãs, manteve o personagem na mídia tal qual Stallone fizera com Rocky Balboa dois anos antes. Embora tenha prometido que o quinto filme será o último, quem sabe o que o futuro reserva para o personagem, principalmente caso alcance uma bilheteria expressiva. Impossivel não, difícil talvez mas certa é a tenacidade de seu interprete que de dispensável tornou-se um símbolo do heroísmo nas telas, programado para a ação explosiva.

BRINQUEDO ASSASSINO

             Nos anos 80 nem Woody nem Buzz Lightyear, o brinquedo mais popular do cinema era um boneco de cabelo avermelhado, vestindo um macacão com a frase “Good Guy” (Cara Bom) bordado no peito, mas empunhando uma faca na mão e pronto para matar qualquer um. A pergunta agora é “Quem ainda tem medo do Chucky?” Para responder essa pergunta chega a refilmagem dirigida pelo norueguês Lars Klevberg, em seu segundo trabalho. Confesso que como saudosista é difícil aceitar tantas refilmagens, muitas desnecessárias e mero caça-níqueis, mas não é que esse novo “Brinquedo Assassino” até que é bom ?

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            Claro que existem adaptações ajustando a história aos tempos atuais, e o clichê de possessão pelo espírito de um serial-killer foi substituído por uma abordagem mais tecnológica. O novo Chucky ainda veste um macacão, agora trazendo a palavra “Buddi” (Companheiro), mas pensa e se move por ser uma inteligência artificial sem salvaguardas morais para guiar suas ações. Presenteado ao menino Andy (Gabriel Bateman que esteve no elenco de “Annabelle” em 2014), Chucky mimetiza as frustações, medos e sentimentos mal-direcionados de seu dono, que se sente mal por não ter a atenção desejada por sua mãe (Aubrey Plaza). Ela trabalha muito e ainda namora um homem casado, logo um brinquedo interativo parece ser uma ótima ideia pois Andy se sente deslocado e solitário muitas vezes, em plena pré-adolescência, um período difícil que deveria ser suavizado pela amizade com Chucky. O que Andy não sabe é que seu amigo iria levar todos esses sentimentos às últimas consequências a medida que tenta agradar e proteger Andy. O grande vilão pode não ser exatamente o boneco, mas a ausência familiar, o que fica na superfície da narrativa pois se trata de um filme de terror e não drama. Subentendemos que a mensagem é que não devemos usar a tecnologia como substituta da companhia e dos valores humanos.  Chucky planeja, age sorrateiramente e mata por Andy, desprovido de qualquer limite moral.

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         O detetive Mike Norris (Brian Tyree Henry) parece entender a solidão de Andy e começará a desconfiar do rastro de sangue que se seguirá. Contudo, quem comanda o show a partir da metade final é Andy e seus novos amigos da vizinhança que se unem para destruir Chucky lembrando em muito a tour de force do clube dos perdedores em “It – A Coisa” ou os heróis mirins de “Stranger Things”. As diferenças entre o filme de 1988 e o atual são várias, mas fazem a história funcionar como um passatempo genérico das produções citadas, tendo a tecnologia como fio condutor, sem nenhum elemento sobrenatural.

          No filme original, de 1988, Chris Sarandon vivia o papel do corajoso policial. Ele se torna também emocionalmente interessado em Karen (Catherine Hicks), a mãe de Andy (Alex Vincent), e vem a desconfiar do poder sobrenatural do boneco infantil. Na época, o filme era apontado como um triunfo dos efeitos especiais convincentemente sincronizando movimentos, expressões faciais e labiais na voz de Brad Dourif, que fazia o assassino Charles Lee Ray cuja alma corrompida vem a habitar Chucky com a intenção de transferi-la para o corpo do menino Andy. O nome do vilão é um amalgama de três assassinos da vida real: Charles Manson (assassino, Lee Harvey Oswald (assassino de John F. Kennedy) e James Earl Ray (assassino de Martin Luther King). Don Mancini, o criador de Chucky posteriormente disse que a história original ganhou elementos de vudu quando seu roteiro original foi refeito por John Lafia e Tom Holland, diretor do filme. O sucesso levou a um total de 6 sequências: “Brinquedo Assassino 2” (1990), “Brinquedo Assassino 3” (1991), “A Noiva de Chucky” (1998), “O Filho de Chucky” (2004), “A Maldição de Chucky” (2013) e “O Culto de Chucky” (2017), sendo os dois últimos lançados diretamente no mercado de home vídeo. Entre todos o mais interessante é “A Noiva de Chucky” de Ronny Yu em que a franquia assume de voz o tom de “terrir”, sem se levar a sério afinal são dois bonecos possuídos, o outro sendo a voz de Tiffany (Jennifer Tilly), numa homenagem/paródia ao clássico “A Noiva de Frankenstein” (1935). Desde “O Filho de Chucky” que o próprio Don Mancini assumiu a direção dos filmes, mas não aprovou a refilmagem de “Brinquedo Assassino” , e já anunciou planos de uma série de tv para dar sequência aos eventos de “O Culto de Chucky”.

 

              Talvez as plateias de hoje não se impressionem tanto quanto há 30 anos atrás, quando a voz de Brad Dourif, agora substituído por Mark Hamill (o Luke Skywalker de “Star Wars”), provocava medo em passos mecânicos e lentos, agora aperfeiçoados pelos avanços da técnica de animatronics. Ainda que não tenha sido nenhum triunfo de bilheteria ao ser lançado nos Estados Unidos em Junho passado, seu resultado fraco de apenas $29,208, 403 (segundo o site especializado Boxofficemojo.com) já deu retorno graças a seu orçamento baixo, em torno de $10,000,000,00, o que pode significar uma possibilidade de continuação. E pensar que quando criança o Falcon nunca ganhou vida, mas bem que podia !

ERA UMA VEZ EM HOLLYWOOD

O ano era 1969. Neil Armstrong pisou na lua levando esperança de novas conquistas, erguendo nossos olhares para o céu, enquanto na terra sonhos se transformavam em desilusões. O som do rock n’roll se misturava aos tiros e bombas que ceifavam a vida de centenas de jovens no Vietnã. Quentin Tarantino tinha seis anos então e, sobre esse período, decidiu escrever o roteiro de seu novo filme, evocando já em seu título referência ao cinema de Sergio Leone, diretor de “Era Uma Vez no Oeste” (1968) e “Era Uma Vez na América” (1984).

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           O talentoso diretor de “Pulp Fiction” e “Bastados Inglórios” levou cinco anos para escrever o roteiro de “Era Uma Vez em Hollywood” (Once Upon a Time in Hollywood) transitando entre realidades desde seu início com a chamada de uma suposta série televisiva intitulada “Bounty Law”, seguida de entrevista de bastidores com Rick Dalton (DiCaprio) e Cliff Booth (Brad Pitt) ator e dublê, ficção e realidade, universos distintos cuja intersecção é explorada magistralmente pela câmera de Tarantino. Este costura sua narrativa em torno de personagens reais da Hollywood sessentista misturados com personagens saídos da fértil imaginação do diretor. A dupla Dalton e Booth (comparados por Tarantino à dupla Paul Newman & Robert Redford) interage com nomes do panteão hollywoodiano como Bruce Lee (Mike Moh) e Sharon Tate (Margot Robbie), a jovem estrela casada com Roman Polanski, que foi brutalmente assassinada, prestes a dar a luz, pela quadrilha de fanáticos de Charles Manson.

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            Para representar Sharon Tate Tarantino não recorreu a Roman Polanski mas a Debra, a irmã mais velha de Sharon que serviu de consultora para retratar a atriz. Já a forma como Bruce Lee foi retratado desagradou muito à filha dele, principalmente na sequência em que Lee enfrenta Cliff Booth. Apesar de também incluir representações do próprio Roman Polanski (Rafal Zawierucha), do astro Steve MacQueen (Damian Lewis) e do próprio Charles Manson (Damon Harriman), o novo filme de Tarantino examina os bastidores da Tv e cinema reexaminando as transformações do mundo em sua volta. Contudo, o filme não se rende aos clichês habituais de gêneros biográficos ou documentais. Seu diretor prefere reinterpretar a realidade, recriá-la a partir de suas lembranças e vivências. Com notável e habitual habilidade de tratar de temas polêmicos como racismo (Django Livre) ou Nazismo (Bastardos Inglórios), o diretor foca na própria indústria cinematográfica, trabalha contrastes como Rick Dalton preparando um drink em uma belíssima mansão, enquanto Cliff assiste a um episódio de “Mannix”, popular série de detetive do período. Em outro momento o filme é pura metalinguagem quando a Sharon Tate de Margot Robbie entra em um cinema que exibe “Arma Secreta contra Matt Helm”, filme que traz a verdadeira Sharon Tate em cena. Enquanto isso Rick Dalton tem dificuldade para filmar sua participação na série de faroeste “Lancer” lutando contra suas próprias fragilidades e inseguranças.

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           Esse é o primeiro filme estrelado por Leonardo DiCaprio em 4 anos, desde que ganhou o Oscar, e o primeiro de Tarantino sem ligação com a Weinstein Company que esteve ao lado do diretor em sucessos como “Pulp Fiction”, “Django Livre” e “Bastardos Inglórios”. Sua exibição em Cannes foi aplaudida exatos 25 anos depois do diretor ganhar a Palma de Ouro com a exibição de “Pulp Fiction”, que trouxe John Travolta de volta do ostracismo. “Era Uma Vez em Hollywood” abre espaço para nomes do passado como o veterano Bruce Dern, em papel originalmente pensado para Burt Reynolds (falecido recentemente), Al Pacino como o agente de atores, Luke Perry em seu último papel (também falecido), Kurt Russell (de “Os Oito Odiados”) e Nicholas Hammond como o diretor Sam Wanamaker. Hammond foi uma das crianças Von Trapp no clássico “A Noviça Rebelde” e, o primeiro ator a interpretar o Homem Aranha em versão live-action nos anos 70. A nova geração marca presença com as atrizes Maya Hawke e Rumor Willis. Maya, filha de Uma Thurman – musa de Tarantino com quem filmou “Pulp Fiction” e “Kill Bill”, conquistou vários fãs como Robin na série da Netflix “Stranger Things”. Já Rumer é filha de Bruce Willis e Demi Moore.

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                A produção é esmerada em reproduzir a Hollywood da época, em todo seu esplendor, com carros, fachadas e paisagens que surgem diante dos olhos ao som de Joe Cocker, Paul Simon, Bob Segar, Aretha Franklin entre outros que nos transportam não para aquela Los Angeles real de fevereiro de 1969, quando o filme começa, mas uma Los Angeles onírica, ajustada aos delírios cinematográficos de um contador de histórias. Isto torna-se mais evidente a medida que o filme avança ao seu desfecho, em agosto daquele ano, quando o assassino Charles Manson (Damon Herriman, que também faz o papel na série “Mindhunter”) envia seus acólitos para matar Sharon Tate (Robbie). Nesse ponto fato e ficção divergem abruptamente, tanto quanto em “Bastardos Inglórios”, ambos moldados pelo diretor como matéria-prima nas mãos de um artesão. A montagem do filme é primorosa mesclando sequências filmadas de “Arma Secreta para Matt Helm” e “Fugindo do Inferno” à presença física de Leonardo DiCaprio e Margot Robbie, um tom farsesco mas perfeitamente conveniente à intenção de seu diretor, que olhou para o passado de uma entre milhares de histórias que aconteceram ou que poderiam ter acontecido em um lugar e tempo míticos, em 1969, aliás o ano em que eu nasci.

 

 

 

 

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Muito antes do sucesso de bilheteria alcançado por “Bohemian Raphsody” (2018) e “Rocketman” (2019), nós já estávamos levando nossos grandes nomes da música para as telas como Renato Russo (2013), Tim Maia (2014) e Elis Regina (2016). Nada mais justo que nos voltemos para um dos nomes mais prestigiosos, embora esquecido, de nosso repertório cultural, Wilson Simonal.

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         Uma de nossas grandes vozes parece ressuscitar nas telas graças à atuação de Fabrício Boliveira, dublado nos números musicais. Este consegue transmitir a personalidade complexa deste carioca de origem humilde que superou obstáculos e conquistou seu lugar no cenário artístico de sua geração, marcada pelo auge da ditadura militar e por um racismo muitas vezes velado, o que ninguém sabe o duro que deu, como revela o subtítulo de um premiado documentário sobre o cantor lançado há dez anos.

        Natural que sua trajetória rendesse uma cinebiografia dramatizando sua trajetória artística desde sua participação na banda “Dry Boys” , criada com seu irmão Zé Roberto e mais três amigos, até o lançamento de sua carreira solo com as graças do produtor Carlos Imperial (Leandro Hassum). Além deste, vários nomes do show business nacional passeiam pela tela como Cesar Camargo Mariano (João Guesser), Miéle (João Velho) e Jorge Ben (João Viana). Filmes como esse permitem que o público em geral possa redescobrir um artista de sonoridade singular, que já foi chamado de “Harry Belafonte Brasileiro”, grande nome do ritmo Calipso. Falar em ritmo na arte musical de Simonal é território rico como mostra o roteiro de Victor Atherino. Malandragem, balanço e domínio impressionante da plateia como na noite de julho de 1969 em que Simonal roubou a cena no Maracanãzinho fazendo mais de trinta mil pessoas gritarem seu nome durante apresentação de Sergio Mendes, na qual Simonal era o convidado. Sua vocalidade esteve tanto a serviço de canções espirituosas como “Mamãe passou açúcar em mim” como de letras mais sérias como “Tributo a Martin Luther King”.

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FABRICIO BOLIVEIRA & ISIS VALVERDE

        O diretor estreante Leonardo Domingues reúne Fabricio Boliveira e Isis Valverde (a atriz interpreta Tereza, a esposa do cantor), que atuaram juntos em “Faroeste Caboclo” (2013). Sua câmera recria o Rio de Janeiro das décadas de 60 e 70, período da história, quando Simonal teve seu auge, como o maior cantor negro de sua geração, quando o país mergulhava em uma época de privação de liberdades e ao som da música dos Festivais Internacionais da Canção. Em julho de 1970, o cantor chegou a interpretar a si mesmo na comédia musical “É Simonal” onde vive um romance com uma fã vinda de Minas Gerais. O filme, dirigido pelo saudoso Domingos de Oliveira (1935 – 2019), seguia o filão popular na época como em “Os Reis do Iê Iê Iê” (1964) e ”Roberto Carlos em Ritmo de Aventura” (1968). O filme não nada bem nas bilheterias, mas não ofuscou sua popularidade.

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WILSON SIMONAL & ELIS

        Todo esse sucesso chegou a um lamentável fim quando Simonal protagonizou o episódio mais polêmico de sua carreira quando descobre irregularidades de sua situação financeira, o que leva ao sequestro de seu contador. O cantor foi acusado de ter sido o mandante do sequestro seguido de tortura do seu contador, levantando acusações de ligação com o DOPS, órgão regulador do governo militar. Logo, toda a classe artística deu as costas ao cantor que ganhou a fama de delator, reduzindo seu espaço, chegando a ser preso, tornando-se praticamente “persona non grata” diante dos olhos do público. O filme de Leonardo Domingues mostra os altos e baixos de uma carreira de valor, que apesar de suas falhas humanas soube colocar diversos hits na boca de todos. Quem nunca cantou “Meu Limão, meu limoeiro”? Quem já ouviu e quem nunca ouviu falar de seu nome tem aqui uma oportunidade de olhar para um pedaço de nossa história, de encontrar uma sonoridade perdida nesse país tropical, abençoado por Deus e palco de ótimas histórias que merecem ser contadas.

VELOZES & FURIOSOS: HOBBS & SHAW

           Quando Dwayne Johnson entrou para o elenco de “Velozes & Furiosos“, no quinto filme, a franquia ganhou um segundo fôlego. Seu personagem, o agente Luke Hobbs, ganhou espaço e marcou presença em todos os filmes na sequência. Natural que tenha sido pensado em um derivado (spin off), principalmente depois da inegável química entre Johnson e Jason Statham, introduzido como antagonista do sétimo Velozes, e retornando como importante aliado no oitavo filme “The Fate of the Furious“.

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         Nesse caso só para efeitos comparativos, o lucro foi de US$207 milhões (Velozes 1), US$ 236 milhões (Velozes 2), US$158 milhões (Velozes 3), US$ 363 milhões (Velozes 4), chegando a Velozes 5” lucrando em torno de US$209 milhões de bilheteria doméstica, chegando a mais de US$600 milhões contabilizando o mercado internacional. Consideremos também as mudanças na estrutura narrativa da franquia a partir da entrada de Hobbs. Desde o final do 4º filme Bryan, o personagem do saudoso Paul Walker, passou de perseguidor a cúmplice de Dominic Toretto (Vin Diesel), levando o agente Hobbs a algoz, e depois aliado não oficial, recrutando os serviços da equipe de Toretto. A partir desse ponto, a franquia deixa o perfil de filmes de corrida e abraça o estilo “Missão Impossível” com ação desenfreada voltada para um público diverso tanto de jovens como de adultos. Depois da morte de Paul Walker acentua-se ainda mais a ação superlativa de lutas corporais, saltos monumentais, explosões e acrobacias impossíveis. “Hobbs & Shaw” mantem esse padrão e não poupa recursos para jogar o público em uma montanha – russa reunindo os personagens de Dwayne Johnson e Jason Statham dois anos depois dos eventos de “Velozes 8”. Um vírus letal está desaparecido e chega às mãos de Hattie (Vanessa Kirby), agente do MI6 em missão. Acontece que ela é irmã mais novas de Deckard Shaw (Statham), e alvo do vilão Brixton (Idris Elba), um super soldado de força ampliada, que como o próprio afirma o faz um “Superman negro”. Claro que em meio a essa explosão de testosterona, o filme tem espaço para o poder feminino. A personagem de Vanessa Kirby não é uma dama em perigo, mas uma espiã com atitude e inteligência, sem mencionar as passagens em cena da dama Helen Mirren, reprisando seu papel de Sra Shaw, e da atriz, cantora e modelo mexicana Eiza Gonzales adicionando tempero latino com sua Madame M.

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            O roteirista Chris Morgan, também responsável pelos outros filmes da franquia, entrega um entretenimento esperado pelo público alvo, com ação e humor e dois protagonistas que se toleram por conta da situação mas que não perdem a oportunidade de trollar um ao outro. O diretor David Leitch entrega um filme recheado de ação, linguagem que já mostrou dominar em “John Wick” com Keanu Reeves (embora não creditado), “Atômica” com Charlize Theron e “Deadpool” com Ryan Reynolds.

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          Claro que quando se fala de “Velozes & Furiosos” espera-se cenas estonteantes como a chuva de carros em “Velozes 8” ou carros saltando de paraquedas como em “Velozes 7”. Não é diferente desta vez e o público vai delirar ao ver os músculos de Dwayne Johnson tentar segurar um helicóptero ou Jason Statham em coreografias de luta que fazem ambos parecerem super heróis, afinal de contas o filão continua alto em Hollywood e atrai bilheterias impressionantes. Mas não espere abuso de tecnologia digital e tela azul, Leitch garante que tudo foi filmado com técnicos e dublês como a eletrizante perseguição de moto com Idris Elba, de tirar o fôlego. O filme ainda acrescenta aquele elemento de família que perpassa a franquia Velozes quando a ação leva a dupla de parceiros relutantes a uma ilha da Polinésia, raiz dos antepassados de Dwayne e palco do desfecho da história. O próprio Dwayne garantiu que atores asiáticos fossem escalados, além do lutador de WWF Joe Anoa’i em seu primeiro papel no cinema.

             Foi notório que ocorreram desentendimentos entre Diesel (produtor executivo da franquia) e Johnson. Conta-se que os desentendimentos teriam começado quando os produtores da Universal se decidiram por um filme centrado nos personagens de Johnson e Statham, levando Vin Diesel a faltar às filmagens e até a reduzir o espaço em cena dos dois atores em “Velozes 8”. O fato é que com a decisão do estúdio de investir primeiro em “Hobbs & Shaw” e a deixar o próximo Velozes para 2021 provocou uma cisão no clima de “família” da série.  Esqueça, no entanto, que Diesel tenha anunciado “Velozes 9” sem Johnson ou Statham. Esqueça também a lógica ou qualquer traço de verossimilhança. Acelere e se divirta, e já vai ter valido a pena a ida ao cinema.

A CHEGADA DO HOMEM NA LUA – 50 ANOS DEPOIS O QUE O CINEMA MOSTROU

               Desde tempos imemoriais o homem tem olhado para o céu e procurado respostas para questões como “Quem somos ?”, “Estamos sozinhos ?”, “O que existe além do que os olhos revelam?”. Há exatos 50 anos Neil Armstrong deu um pequeno passo, que para todos nós significou um grande salto, a primeira vez que o homem chegou à lua. Juntamente com Buzz Aldrin e Michael Collins, o comandante Neil Armstrong levou os sonhos e aspirações humanas a um novo patamar a bordo do módulo da Apolo 11. Richard Nixon era o presidente dos Estados Unidos e a corrida espacial convivia com o movimento hippie, com a Guerra do Vietnã e com o compasso do Rock n’ roll. Na literatura e no cinema, no entanto, a alusinagem já havia acontecido.

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PEQUENO PASSO PARA O HOMEM, GRANDE SALTO PARA A HUMANIDADE

            Coube ao escritor francês Jules Verne (1828-1905) o primeiro romance a retratar uma viagem ao nosso satélite. “Da Terra à Lua” (De la terre à la lune), publicado em 1865, antecipou em quase 100 anos a viagem da Apolo 11. Em vez de um foguete, Verne imaginou um módulo em forma de bala disparado por um canhão, logo depois do final da Guerra Civil Americana (1861-1865). O canhão, chamado no livro de Columbiad, foi o precursor da Apolo 11 e mostra que Verne estava no caminho certo ao pensar na necessidade de gerar uma velocidade de aceleração que rompesse a atmosfera terrestre e vencesse a força gravitacional. A inspiração foi tanta que a NASA batizou de Columbia o módulo de comando da missão Apolo 11. Mostrando que a vida imita a arte, Laika a cadelinha enviada pelos russos a bordo do Sputnik 2 em 1957 foi antecipada também por Verne que inclui dois cães, Diana e Satélite, em sua viagem imaginária. O impacto cultural foi tanto que Neil Armstrong, em 23 de Julho de 1969, mencionou o nome do autor francês durante uma transmissão de Tv. E foi com a história de Verne que o cinema de ficção científica foi inaugurado quando o ilusionista George Meliés filmou e lançou “Le Voyage dans la lune” em 1902 , primeira adaptação do romance, que imprimiu para a posteridade a imagem da lua com o projétil encrustado em sua superfície em forma de um rosto.

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A LUA DE GEORGE MELIES.

            Em 1901 foi a vez do escritor britânico H.G.Wells (1866 – 1946) publicar “Os primeiros homens na lua” (The First Me non the Moon). A história imaginou um módulo de viagem levantado no ar pela Carvorita, um fictício minério anti-gravitacional. Levando seus astronautas a uma lua habitada por uma raça insectóide, os Selenitas, que ocupam uma área subterrânea com atmosfera própria. Também em 1964, a história de Wells foi adaptada para o cinema em uma produção B valorizada pelos efeitos do mestre Ray Harryhausen (1920-2013). A ficção se adiantou à realidade em várias produções do gênero, sendo que a mais realista chegou às telas um ano antes da chegada da missão Apolo 11, fruto da união dos talentos do diretor Stanley Kubrick (1928 – 1999) e do autor inglês Arthur C.Clarke (1917 – 2008). Ambos deram um status de realismo e seriedade à ficção científica, inédito até então, e mostraram o misterioso monólito negro na superfície lunar no impressionante “2001 Uma Odisseia no espaço” (1968).

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OS VERDADEIROS HEROIS DA APOLLO 11

         Claro que a conquista do solo lunar dava aos norte-americanos a dianteira da corrida espacial, superando o vôo orbital do russo Iuri Gagarin em 1961, e ainda que teorias conspiratórias especulem que a bandeira americana não passa de encenação, o fato é que ela alimentou a imaginação e a adoração até dos antigos gregos que nomearam Selene como a deusa da Lua. Muitos romances já foram banhados sob sua face iluminada, e o cinema nunca cansou de usá-la muito além do cientificismo especulativo. James Stewart ameaçou laçá-la para sua amada em “A Felicidade não se compra” (1946), o menino Elliot voou em uma bicicleta tendo a lua como pano de fundo mexendo com nossas fantasias em “E.T o Extraterrestre” (1981), e o que dizer do plano mirabolante do vilão reformado Gru em “Meu Malvado Favorito” (2010) de encolher a lua.

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A LUA NA FANTASIA SPIELGUINIANA

         Todo esse fascínio é constantemente renovado no imaginário popular e a história é revistada como em “Apolo 13” (1995) reconstituindo a desastrosa missão que levou três astronautas a lutarem por suas vidas quando seu módulo apresenta defeitos nas comunicações com Houston, na energia e no oxigênio disponível. Mais recentemente, o diretor Damien Chazalle adaptou a biografia do próprio Neil Armstrong em “Primeiro Homem” (2018) mostrando os sacrifícios e os obstáculos nos bastidores do lançamento histórico de 16 de Julho de 1969. Impressionou a todo o mundo, teve suas imagens transmitidas ao Brasil no final do governo de Costa e Silva, um mundo pré internet, no qual a televisão era a maior fonte de informações.

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          Enquanto amostras eram colhidas e trazidas à Terra, músicas eram compostas e ainda são até hoje, na voz de Billy Holiday “Blue Moon”, a banda Echo & The Bunnyman “The Killing Moon”, Frank Sinatra “Fly me to the Moon”, Caetano Veloso “Lua de São Jorge”, Cidade Negra “A Lua & eu”, Bruno Mars “Talking to the moon” entre outros que a usaram de forma poética inflamando ainda mais nossa visão romântica.

          Indubitável que a data merece celebração e que sua realização aponta um divisor de águas na área cientifica, bem como um indicativo das potencialidades do desejo humano na busca pelo conhecimento, de ir além dos limites físicos impostos por nossa condição, aterrados no mundo físico mas livres na mente. O escritor norte americano Ray Bradbury (1920-2012) dizia que somos uma impossibilidade num universo impossível. A história prova que a ciência é o combustível que nos move,  e a data nos inspira, com a força com a qual nos faz lembrar do brado de Buzz Lightyear, cujo nome vem do astronauta Buzz Aldrin, “Ao infinito e além !”.